No acampamento dos manifestantes que há cinco dias invadiram o canteiro de obras da transposição das águas do rio São Francisco, em Cabrobó (PE), a precariedade da infra-estrutura contrasta com o profissionalismo dos líderes no gerenciamento do protesto.
Erguido para abrigar 1.200 pessoas, o acampamento é formado por sem-terra, pescadores, quilombolas, índios e sindicalistas de Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Ceará. À semelhança de uma empresa moderna, as atividades são setorizadas e gerenciadas por grupos distintos.
Os coordenadores são representantes das 12 caravanas que participam da invasão. As equipes comandam áreas como saúde, limpeza, alimentação, comunicação, política e finanças. Planilhas de um computador portátil registram receitas e despesas. Até a quantidade e o tipo de alimento distribuído são controlados.
Nas barracas, colchonetes e roupas ficam espalhados no chão. Durante o dia, o calor é insuportável. A seca e as rajadas de vento tornam o ambiente carregado de poeira.
Para manter o grupo motivado e alegre, os organizadores promovem diariamente festas, debates e reuniões de trabalho. Em um telão, exibem filmes como o vídeo "Pescando Esperança", sobre o rio São Francisco, ou DVDs de forró.
Com a anuência dos líderes, os acampados aproveitam o movimento para faturar. Índios de Pernambuco e Alagoas montaram pontos-de-venda em frente às suas barracas. Negociam artesanatos, cigarros, bolos e refrigerantes.
Integrante da "coordenação política" da invasão, o sociólogo Rubem Siqueira, da CPT (Comissão Pastoral da Terra), afirmou que o modelo de administração do acampamento não é empresarial, mas inspirado em comunidades indígenas "anteriores ao capitalismo".
Segundo Siqueira, não há líderes no local e as decisões partem de um colegiado.
Custo
Ao ser idealizado, em março, o protesto em Cabrobó foi orçado em R$ 150 mil, afirmou a coordenadora de finanças Marina Braga, da CPT. Desse total, disse, foram obtidos cerca de R$ 80 mil, "não necessariamente em dinheiro". O custo de transporte, item mais caro, ficou em R$ 60 mil.
Ao invadir a área, os manifestantes dispunham de R$ 20 mil em caixa, além de dois caminhões carregados com alimentos. Os recursos disponíveis seriam suficientes para manter o grupo acampado no local por duas semanas.
Segundo Braga, para obter os recursos, as cerca de 30 entidades envolvidas promoveram uma campanha de arrecadação por meio de contribuições de pessoas físicas, sindicatos, movimentos e ONGs.
Essas mesmas entidades reuniram manifestantes para o acampamento. Os invasores afirmam que devem permanecer na fazenda por tempo indeterminado.
Na sexta-feira (29/06), a Justiça Federal concedeu reintegração de posse da área ao governo.
(Por Fábio Guibu, Folha online, 01/07/2007)