A decisão do governo federal de terminar a construção da usina nuclear de Angra 3, anunciada na semana passada, reacendeu o debate sobre o futuro da matriz energética brasileira e a preservação do meio ambiente. Embora seja apontada como uma fonte não poluente, a energia nuclear tem a desvantagem de produzir resíduos radioativos, o que causou protesto de ambientalistas. Enquanto isso, o setor energético diz que a fonte nuclear é a opção que restou, já que os órgãos ambientais estariam erguendo obstáculos à hidroeletricidade.
Em mesa redonda durante a Conferência Internacional do Instituto Ethos, há três semanas, representantes dos dois lados já haviam ficado longe de um consenso. “As barreiras na concessão de licenças ambientais dificultam novas hidrelétricas”, disse Luiz Pinguelli Rosa, ex-presidente da Eletrobras e atual secretário-executivo do Fórum de Mudanças Climáticas. Segundo ele, as hidrelétricas não são totalmente “limpas” – podem alagar florestas e têm reservatórios que emitem gás carbônico e metano –, mas seu custo é mais baixo, e o potencial de geração é superior ao de outras alternativas.
José Goldemberg, ex-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), disse que o Brasil ainda tem muito o que explorar em energia hidrelétrica, pois usa apenas um terço de seu potencial. Membro do conselho deliberativo do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP, Goldemberg culpou “atravessadores” que assumem projetos e não conseguem executá-los. “Cerca de 100 mil megawatts já tiveram licenciamento e não saíram do papel.”
O diretor de campanhas do Greenpeace, Marcelo Furtado, atacou o governo, que acenou com a retomada da energia nuclear devido à demora na liberação das usinas do Rio Madeira, em Rondônia – cuja potência, de 6,5 mil megawatts, equivale a quase a metade da capacidade de Itaipu. Furtado disse que as usinas do Madeira não beneficiarão a população local, defendeu o investimento em usinas eólicas e rebateu o argumento de que a energia nuclear não polui. “Em alguns casos, o enriquecimento de urânio emite mais gases que uma termelétrica a óleo diesel.”
Na terça-feira (26/06), um dia após o anúncio de Angra 3, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), do governo federal, apresentou o Plano Nacional de Energia, que prevê um tímido acréscimo no uso de fontes renováveis na matriz energética brasileira até 2030, de 44,5% para 44,7%. O cenário é animador se comparado ao da década de 70 (quando 86% da matriz era de petróleo e lenha) e ao do resto do mundo, onde combustíveis fósseis respondem por 80% da oferta de energia.
No entanto, os próximos leilões da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), dominados por usinas termelétricas – que contribuem para o aquecimento do planeta e são mais caras – tornam duvidoso o cenário previsto pela EPE. Para fornecimento a partir de 2010, apenas 40% da energia inscrita vem de fonte renovável, índice que cai para 29,5% em 2012.
(Por Fernando Jasper, Gazeta do Povo, 01/07/2007)