Uma equipe de cientistas americanos descobriu que a frutose, uma forma simples de açúcar encontrada em frutas, mel e cana-de-açúcar, pode se transformar em um potente biocombustível, segundo a edição de hoje da revista científica britânica Nature. Dirigidos por Jim Dumesic, do departamento de Engenharia Química e Biológica da Universidade de Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos, os pesquisadores desenvolveram uma reação química com a ajuda de catalisadores que transformou a frutose em um composto chamado 2,5-dimetilfurano, que pode ser usado como combustível no futuro.
Segundo eles, em comparação com o etanol obtido do milho e da cana-de-açúcar, a densidade energética do 2,5-dimetilfurano é 40% mais alta e ele é menos volátil. Embora o etanol seja atualmente o único combustível renovável potencialmente sustentável e amplamente usado no Brasil, ele apresenta limitações como baixa densidade energética, alta volatilidade e a poluição pela absorção de água da atmosfera.
A estratégia utilizada pelos cientistas abre um novo caminho para transformar a frutose em um combustível líquido. Ele ainda é insolúvel em água, o que facilita a obtenção em sua forma pura. Nosso processo começa com a frutose, explica Dumesic. Esse tipo de açúcar pode ser obtido diretamente de alimentos como frutas e carboidratos, para ser extraído e concentrado. Nos Estados Unidos, eu imagino que essa frutose viria da isomerização - um tipo de transformação química - da glucose, e a glucose vira lignocelulose - uma combinação de celulose e lignina, polímero que dá rigidez às plantas, diz o pesquisador. No caso do Brasil, a cana-de-açúcar em particular é muito interessante, porque a sucrose é um dissacarídeo composto por uma molécula de frutose e uma de glucose.
ViabilidadeO processo ainda está no começo e precisa provar ser viável comercialmente. A equipe também trabalha para melhorar o método, uma vez que a intenção dos pesquisadores é começar a catálise diretamente com glucose, em vez de partir da frutose.
A despeito disso, a tendência é que pesquisas como essa se proliferem, uma vez que os biocombustíveis despontam como um dos produtos que melhor podem satisfazer as necessidades energéticas do planeta em substituição ao petróleo. Em teoria, a técnica já apresenta algumas vantagens em relação ao método tradicional de obtenção de combustível a partir de açúcares. Ela gasta menos energia, é mais rápida, pois usa catalisadores eficientes em vez de depender da fermentação, e pode ser aplicada em refinarias menores.
Na prática, temos de ver como funcionaria, diz o professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz - Esalq. Toda tecnologia tem um custo. E aumentar o uso de alimentos, como o amido, como fonte para biocombustíveis levanta questões sociais. Os Estados Unidos sofrem desse problema por causa do milho usado na produção de etanol.
(UAGRO -
Unidade de Agronegócios/ASCOM/CRA, 29/06/2007)