Criada há duas semanas, já é possivel ver na invasão Santa Marta o estrago ambiental provocado pelas setenta famílias que ali estãoSomado ao brega das rádios e ao tilintar de copos cheios de café com leite, o ruído dos serrotes é o barulho mais característico de um amanhecer na Invasão Santa Marta, ocupação situada atrás da comunidade de mesmo nome, na Zona Norte de Manaus, que completa duas semanas de vida hoje. Naquele local, mais de setenta famílias estão abrigadas há catorze dias e vêm construindo seus barracos com rapidez impressionante.
Em poucos dias, os ocupantes avançaram bastante na divisão e ocupação dos lotes. Apesar disso, ainda não há nenhuma casa de alvenaria por ali - a incerteza sobre a permanência naquela área ainda aflige todos os seus ocupantes. É o caso da doméstica Dorenice Farias Pinto, 24, que foi para o Santa Marta em busca de um lugar para viver com o filho de quatro anos. "Estamos nos instalando, mas sabemos que tudo aqui ainda está indefinido. Não queremos construir para depois ver nossas casas derrubadas", declarou.
Oficialmente, a posse do terreno é objeto de disputa judicial. De um lado, o empresário Luís Moraes Filho, que apresentou documentos e o desejo de 'vender' a área aos novos ocupantes. Segundo o empresário, duas invasões já ocorreram anteriormente e ele não possui mais condições de enfrentar um processo de reintegração de posse. "Além disso, não quero mais prejudicar famílias carentes", disse Morais à reportagem de A CRÍTICA. Por outro lado, um proprietário de terrenos naquela área, Raimundo Guilherme, diz que seus limites vão até o local onde está instalada a invasão.
Ele se apresentou à Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Semma) como dono do terreno e será notificado para que assuma a responsabilidade sobre possíveis danos ambientais ocorridos naquele local. Um igarapé, devidamente identificado e demarcado pela Semma, ainda não apresenta sinais de poluição visíveis.
Quase dois mesesOutras 3 mil famílias que ocupam o loteamento Luiz Otávio Martins, situado atrás do Monte das Oliveiras, na Zona Norte, também resistem. Só que há mais tempo. No próximo dia 11 elas completarão dois meses na área, cujo proprietário Luiz Estálio de Leão já tem da Justiça um mandado de reintegração de posse autorizando a retirada forçada dos barracos que ali se encontram. Com mais tempo de ocupação, a área no Monte das Oliveiras foi melhor estruturada pelas famílias que aí insistem em permanecer.
Elas chegaram a reservar grandes pedaços de terra para servir como vias de circulação. Automóveis transitam lá dentro, em ruas batizadas com nomes de jornalistas: Edi Castro, Sady Hauache e Umberto Calderaro. "É para facilitar a chegada da urbanização e dos serviços básicos", disse Agnaldo Gonçalves, 40, filiado ao Movimento dos Sem-Teto do Norte (MSTN) e que vem atuando como líder comunitário local. O documento já foi encaminhado à sede da Polícia Militar. Os ocupantes aguardam a chegada das autoridades a qualquer momento.
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A Crítica, 28/06/2007)