Na contramão de campanhas ambientais de conscientização em relação à reciclagem do lixo urbano, a prefeitura de Novo Hamburgo suspendeu a coleta seletiva de resíduos secos e urbanos em residências. A medida foi aplicada há duas semanas, mas somente ontem, após várias reclamações de moradores, o secretário municipal de Meio Ambiente, Alvício Klaser, informou a decisão. O motivo alegado é a redução de custos e ineficiência do serviço.
Segundo levantamento da Secretaria Municipal de Planejamento (Seplan), o custo total de recolhimento de lixo chega a R$ 560 mil por mês. Deste valor, R$ 43.150,00 eram destinados exclusivamente à coleta seletiva de resíduos orgânicos e secos. Sem informar a comunidade da decisão, a Prefeitura encaminhou um ofício à Vega comunicando a interrupção do serviço.
Para Alvício Klaser, a medida foi a única forma de reduzir custos e redirecionar as atuais necessidades da coleta seletiva, que serão especificadas no edital da nova licitação sobre recolhimento e destinação do lixo hamburguense. Klaser alerta que a coleta seletiva realizada por cooperativas, com as quais muitos condomínios hamburguenses têm acerto, continuará operando normalmente no município. “Vamos nos reunir amanhã (hoje) com as cooperativas para internsificar esta parceria”, destacou o secretário.
Klaser também destacou que a coleta seletiva será incluída na licitação do lixo. “Muitos pontos serão abordados, como a necessidade de um caminhão adequado para coleta seletiva, por exemplo’’, considera. O secretário não soube informar a quantidade de lixo recolhida na cidade, mas, em março deste ano, dados da Prefeitura apontavam o recolhimento de cerca de 180 toneladas por dia. “Apenas 2% (3,6 toneladas) podem ser reciclados”, estimou Klaser.
Lei Apesar da prefeitura deixar de cumprir sua parte, o secretário alerta que a Lei Municipal 1.098 de 2004, que sispõe sobre a obrigatoriedade da separação de lixo e cujo não cumprimento pode resultar em multas, continua valendo. “É fundamental que a comunidade continue fazendo sua parte. Se no momento a Prefeitura não está fazendo a coleta separada, os catadores continuam pelas ruas e o trabalho deles deve ser facilitado’’, explica Klaser, acrescentado que o trabalho de triagem na Central de Reciclagem de Resíduos Sólidos da Roselândia ocorre normalmente.
Hamburguenses mantêm separação do lixoAo tomar conhecimento da atitude da dona de casa Elisabeth Klein, 58 anos, e do comerciante Osvino Nicolau Michel Filho, 52, o secretário municipal de Meio Ambiente, Alvício Klaser, resumiu em poucas palavras o seu ponto de vista. “Eles estão caminhando em direção à perfeição da otimização do lixo urbano.’’ Elisabeth encontrou em pequenas ações cotidianas soluções para os resíduos secos da sua residência, no bairro Ideal. Todo e qualquer papel que não tem mais serventia para ela, vai direto para uma caixa de papelão. “Deixo a caixa encher completamente e, só então, levo a entidades carentes, que utilizam para reciclagem’’, ensina.
Os pratinhos de isopor dos frios, ela lava, deixa secar, acumular uma pilha deles e, só então, os fornece para o dono de uma fruteira próxima à sua casa. “Ele utiliza as embalagens para colocar morangos’’, conta a hamburguense, que guarda a água que utiliza para lavar frutas e verduras em um balde por um só motivo: “Com esta água, eu lavo todos os demais lixos sólidos e os coloco para secar’’.
LojasTambém Michel, que reside no bairro Jardim Mauá, é adepto convicto do reaproveitamento de lixo. Em sua loja especializada em produtos para piscinas, o comerciante dá descontos de até 25% aos clientes que retornam com as embalagens na hora de adquirir mais produtos. “Procuro aplicar a consciência da reciclagem em todos os âmbitos do meu dia-a-dia. Penso nos meus netos, penso que em dez anos enfrentaremos sérios impactos ambientais por causa do lixo’’, considera Michel, mostrando as sacolas de lixo seco acumuladas em sua casa, por causa da ausência da coleta seletiva que não passa há 15 dias. “Fui orientado pela Prefeitura a entregar o lixo seco junto com o orgânico, mas prefiro esperar um catador passar por aqui’’, diz.
O casal de catadores Marcio Batista da Silva, 20, e Rosângela Oliveira Brito, 19, mora no bairro Santo Afonso e vive da coleta de lixo seco. Em uma carroça, ambos começam diariamente a busca pelos resíduos sólidos por volta das 14 horas e só retornam para casa ao final do dia, com a carroça lotada. Ao final da semana, conta Silva, o lixo seco é levado ao déposito do bairro e vendido por, no máximo, 100 reais.
Licitação deve demorar ainda dois mesesAdmitindo os transtornos da suspensão do contrato com a Vega Engenharia, que chegou a ser renovado em março deste ano por seis meses, o secretário municipal de Serviços Urbanos, Luis Carlos Schenlrte, explica que o corte foi necessário, dentro dos atuais recursos que a Prefeitura dispõe, mas lembrou que está em tramitação uma
nova licitação sobre recolhimento do lixo, na qual serão previstos os novos rumos da coleta seletiva no Município. “Infelizmente, as condições financeiras não estão boas e a Prefeitura possui prioridades. Isto pode representar um retrocesso sim, mas é preciso aguardar, que em breve a coleta seletiva será viabilizada novamente’’, declarou, calculando que dentro de 60 dias Novo Hamburgo já deverá conhecer a vencedora da licitação.
(Por Marcela Brown,
NH, 29/06/2007)