A água quente pela qual a Islândia produz energia geotérmica é extraída perfurando rochas quentes bem abaixo da superfície terrestre. Em seguida é coletada em uma estação de bombeamento e transportada por tubulações para tanques centrais, de onde é distribuída para os consumidores. Oitenta e cinco por cento dos lares da Islândia obtêm calefação partir da energia geotérmica. Mas esse calor também pode ser convertido em eletricidade, por meio de um complexo sistema de perfurações, comutadores de energia e turbinas. As autoridades locais estão dispostas a compartilhar seus conhecimentos sobre energia geotérmica com o resto do mundo.
Desde 1979, a Autoridade Nacional de Energia (Orkustofnun) implementou um Programa de Capacitação Geotérmica para a Universidade das Nações Unidas, com ajuda financeira do Ministério das Relações Exteriores da Islândia (80%) e da ONU (20%). O curso dura seis meses e inclui um considerável trabalho de campo. Em outubro passado foram 21 formandos de 12 países. Das 39 nações que já enviaram estudantes, a China é a de maior presença, com 64 participantes. Até agora, 350 pessoas já se formaram.
A China é o maior usuário de energia geotérmica do mundo em termos absolutos, embora a Islândia esteja à frente em consumo por habitante. No final do ano passado, especialistas chineses haviam detectado 3.200 áreas geotérmicas, das quais 255 são adequadas para a geração de eletricidade. As empresas islandesas, junto com a firma chinesa Shaanxi Green Energy, acabam de construir um sistema de aquecimento geotérmico no distrito de Xian Yang, que pode se converter na maior dessas usinas no mundo. A firma elétrica islandesa Reykjavik Energy também obteve um contrato para pesquisa e utilização geotérmica no Djibuti.
O uso da energia geotérmica aumenta em todo o planeta ao estilo islandês. Quênia, Filipinas, Etiópia e El Salvador enviaram, cada um, mais de 20 estudantes para o curso de capacitação geotérmica. Nestes países, esta fonte de energia responde por 10% a 22% de demanda. A maioria dos participantes procede de países em desenvolvimento que têm um significativo potencial térmico, alguns localizados na Europa oriental. Os estudantes devem ter um título em ciências ou engenharia, ocupar um posto permanente em uma autoridade energética, instituição de pesquisa ou universidade e contar com experiência pratica de pelo menos um ano em geração geotérmica de eletricidade.
“Aceitamos apenas aqueles que têm trabalho estável em instituições ou companhias que se dedicam a projetos geotérmicos, e ensinamos o que lhes será mais útil em seus países”, disse à IPS o diretor do curso, Ingvar Fridleifsson. Desde 1999, alguns estudantes podem realizar um curso mais especializado em engenharia ou ciências geotérmicas, graças à colaboração da Universidade da Islândia. Esta opção é cada vez mais popular. Hoje estudam ali oito pessoas procedentes de cinco países, duas delas mulheres.
O iraniano Saeid Nasrabadi é um desses estudantes. “Estive no programa de treinamento geotérmico na Islândia em 2004. Depois voltei ao meu trabalho como engenheiro civil na usina geotérmica de Sabalan, no noroeste do Irã”, disse. Segundo Nasrabadi, a potencialidade geotérmica do seu país é semelhante à da Islândia, mas ainda não foi explorada. Além de operar na Islândia, o programa inclui cursos de curta duração na África e América Latina, como contribuição ao êxito dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio da ONU, estabelecidos pelos chefes de Estado e de governo em 2000. Entre eles figuram a redução substancial da pobreza e da fome e a promoção da saúde e educação.
No próximo ano, duas universidades internacionais dedicadas ao desenvolvimento das fontes renováveis de energia começarão a funcionar na Islândia. Uma delas, na cidade de Akurevri, a Escola para as Ciências das Energias Renováveis, será administrada pelo setor privado e oferecerá cursos de 11 meses de duração. As autoridades universitárias prevêem que a maioria dos estudantes será de países da Europa oriental e central, entre eles Polônia, Hungria e Rússia. “Quando os cursos estiverem funcionando plenamente, esperamos contar com 50 a 80 alunos por ano”, disse à IPS Thorleifur Björnsson, organizador do programa.
Por sua vez, a Escola de Sistemas Sustentáveis de Reykjavik Energy, projeto conjunto entre Reykjavik Energy e duas universidades da capital da Islândia, se concentrará em estudantes de mestrado e doutorado e em cursos de tecnologia, exploração de recursos renováveis e vínculos entre natureza e mercado.
(Por Lowana Veal, IPS, 28/06/2007)