É com bastante ceticismo que o promotor de justiça Raimundo Moraes vê a parceria entre a Alcoa e a Conservação Internacional, anunciada no último dia 24. Coordenador do Núcleo de Meio Ambiente (Numa) do Ministério Público Estadual do Pará, ele afirma que esse é "o tipo de atitude que se preocupa apenas com a aparência".
O convênio entre a organização não governamental de prestígio internacional e uma das líderes mundiais da produção de alumínio prevê o investimento de dois milhões de reais ao longo de cinco anos em um programa de apoio à biodiversidade amazônica, na região entre os rios Tapajós e Madeira.
Na primeira etapa do projeto, foram selecionadas cinco unidades de conservação para receberem apoio e recursos: Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns, Parque Nacional da Amazônia, Floresta Nacional do Pau Rosa, Floresta Estadual de Maués e Floresta Nacional de Amaná. As áreas estão localizadas entre os municípios de Maués, no Amazonas, e Santarém, Aveiroe Itaituba e Juruti, no Pará.
Neste último município (Juruti), a Alcoa possui um projeto de extração de bauxita, cujo investimento total está previsto em 1,7 bilhão de reais. A aplicação dos recursos, 850 vezes maior do que o previsto na parceria com a Conservação Internacional, permitirá à empresa a extração inicial de 2,6 milhões de toneladas de bauxita por ano, a partir de 2008.
A multinacional, porém, enfrenta grande resistência por parte da população local, que a acusa de causar danos ambientais e desrespeitar as comunidades. A situação levou o Ministério Público Estadual e o Federal no Pará à solicitarem o cancelamento das licenças concedidas à empresa.
"Provavelmente a Alcoa está querendo melhorar a imagem dela, fazendo parcerias com instituições como a Conservação Internacional. É uma estratégia que tem um lado positivo, mas é incoerente, pois ela destrói a sobrevivência das pessoas em uma comunidade e vem posar de boazinha", diz Raimundo Moraes, um dos responsáveis pela ação contra a multinacional.
Em parecer no dia quatro de junho, o estado do Pará, respondendo ao Ministério Público, determinou uma lista de 58 itens a ser cumprido pela Alcoa, sob risco de cancelamento da licença emitido pelo Conselho Estadual de Meio Ambiente. Uma equipe de técnicos do governo e membros do MP encontram-se desde ontem em Juruti para fazer uma avaliação da situação local.
(Por Renata Gaspar,
Amazonia.org.br, 27/06/2007)