Os manifestantes contrários à transposição das águas do rio São Francisco que há três dias invadiram o canteiro de obras do Exército em Cabrobó (535 km de Recife, PE), realizaram um protesto ontem (27/06) e enterraram um marco de concreto usado pelos militares para medições topográficas na área.
Incentivados por seus líderes, os invasores arremessaram torrões de terra sobre a peça e, em seguida, fincaram uma cruz de madeira sobre o monte para simbolizar o "enterro" do projeto de transposição.
Durante toda a manifestação, índios trucá, que reivindicam a posse das fazendas desapropriadas pelo governo para o início do projeto, dançaram e cantaram. Bandeiras de cerca de dez entidades que participam da ação foram hasteadas. Faixas de protesto foram fixadas em todo o acampamento.
Duas camionetes do Exército pararam a cerca de cem metros da entrada da fazenda invadida, a Mãe Rosa, para acompanhar o movimento.
Manifestantes portando facões e foices correram em direção à porteira para tentar impedir a entrada dos militares. Os veículos, porém, retornaram.
Os invasores afirmam que só deixarão o local após a revogação do projeto. Desviar as águas do rio, afirmam, não atende a maioria dos que vivem no semi-árido. Eles acreditam no convívio com a seca e na realização de pequenas obras hídricas como solução.
Defensor das mesmas idéias, o bispo de Barra (BA), dom Luiz Cappio, deve visitar hoje os manifestantes. Em 2005, ele realizou uma greve de fome contra a transposição, também em Cabrobó. Desta vez, porém, o bispo retornará no mesmo dia à Bahia.
A invasão, entretanto, deve continuar. Segundo a coordenadora de finanças do grupo, Marina da Rocha Braga, os recursos disponíveis são suficientes para manter a ação por pelo menos duas semanas.
A AGU (Advocacia Geral da União) informou hoje que a Procuradoria Seccional da União em Petrolina está elaborando o pedido de reintegração de posse.
A Procuradoria já recebeu do Ministério da Integração Nacional documentos, como licenças ambientais do Ibama e o manifesto dos invasores, para elaborar a ação.
OrçamentoO protesto, que reúne lavradores, pescadores, quilombolas, índios e sindicalistas de Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Ceará, está orçado em R$ 150 mil.
De acordo Braga, desde março, quando a manifestação foi idealizada, pessoas físicas e entidades contribuíram com R$ 80 mil, "não necessariamente em dinheiro". O transporte das cerca de 1.200 pessoas que participam da invasão representa o maior custo --R$ 60 mil.
No acampamento, os 5.000 litros de água potável consumidos diariamente vêm de carros-pipa e são comprados por R$ 60, mais o custo do combustível gasto pelo veículo.
Nas barracas de lona plástica, o calor é insuportável, e a falta de chuva e as rajadas de vento tornam o ambiente carregado de poeira.
(Por Fábio Guibu,
Folha Online, 27/06/2007)