Uma onda de calor que já matou mais de 30 pessoas em áreas do sudeste da Europa vem prejudicando a vida selvagem e as plantações, atingindo desde os sapos das lagoas gregas aos cereais plantados na região, enquanto na Itália as frutas começam a amadurecer semanas antes do esperado. A Grécia experimenta sua pior onda de calor dos últimos 110 anos. Sete pessoas morreram no país devido às altas temperaturas, que chegaram a 46º C em meio ao clima quente instalado cinco dias atrás e que, nesta quarta-feira (27/06), não dava sinais de amainar.
No sul da Itália, que viveu sua primavera mais quente dos últimos quase dois séculos, a colheita de uva e de outras frutas e vegetais neste ano deve acontecer até um mês antes do usual, no começo de agosto. O calor está "literalmente cozinhando" os limões sicilianos nas árvores, afirmou o grupo de agricultores Coldiretti, enquanto os melões, pimentões, abobrinhas, pêssegos e tomates também se viam ameaçados.
A flora e a fauna da Grécia sofrem os efeitos do calor, e ambientalistas advertiram para o perigo de as altas temperaturas terem um impacto de longo prazo sobre as populações de animais e plantas do país. "As aves que estão em período de reprodução e que colocam seus ovos em ninhos expostos correm riscos muito grandes", afirmou Martin Gaethlich, da Sociedade Helênica para a Proteção da Natureza. "Os ovos vão ficar superaquecidos se deixados desprotegidos. Sendo assim, as aves vêem-se obrigadas a ficar muito mais tempo com eles."
As andorinhas enfrentam dificuldades para encontrar a lama utilizada na fabricação de seus ninhos, vendo-se obrigadas a viajar distâncias maiores para obter o material. Já os sapos, rãs e salamandras deparam-se com o sumiço de seus hábitats, que estão secando. Isso vem encurtando o período de vida dos espécimes e afetando, também, os animais que se alimentam deles.
Segundo Gaethlich, o inverno atipicamente ameno verificado na Grécia, somado a um mês de maio mais quente que o normal e à atual onda de calor, já tinham provocado mudanças que poderiam ser permanentes. O ambientalista disse que os incêndios florestais ocorridos nos últimos dias e alimentados pelo tempo seco e pelas altas temperaturas apenas pioravam o cenário. "Esse clima cria uma teia de problemas que terá um impacto de longo prazo se persistir ou se voltar a se instalar nos próximos anos", afirmou Gaethlich.
(Estadão Online, Ambiente Brasil, 28/06/2007)