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desertificação refugiados ambientais
2007-06-28

O fracasso de políticas anteriores de combate à desertificação pode fazer com que na próxima década 50 milhões de pessoas se transformem em refugiados na busca de melhores condições de vida, diz um relatório da ONU. Zafar Adeel, autor principal do estudo e diretor da Rede Internacional sobre Água, Meio ambiente e Saúde da ONU, com sede na localidade canadense de Hamilton, disse à Efe que o estudo identifica a crescente desertificação como o maior desafio ambiental de nosso tempo.

O relatório 'Re-avaliar políticas para agüentar a desertificação' diz que este fenômeno atinge hoje em dia entre 100 e 200 milhões de pessoas no mundo todo ao reduzir de forma persistente sua capacidade para obter alimentos, água e outros serviços essenciais. O que é mais grave é que a desertificação pode afetar diretamente nos próximos anos 2 bilhões de pessoas, um terço da população total do planeta, caso não se iniciem políticas globais para combatê-la.

Adeel disse que o relatório é fruto de uma conferência internacional realizada em dezembro de 2006 na cidade de Argel, na qual cerca de 200 especialistas estudaram as políticas internacionais para combater a desertificação. "A conclusão à qual se chegou é que as políticas em andamento não estão funcionando", declarou Adeel. "As razões são que os políticos foram incapazes de ver a relação entre pobreza e migração com desertificação, a falta de coordenação e diversidade de planejamentos, e a desigualdade entre os crescentes problemas e as minguantes contribuições financeiras para combater a desertificação", declarou.

O fracasso de políticas anteriores junto com a crescente mudança climática fizeram com que a situação se aproxime de um ponto explosivo, com milhões de pessoas em perigo para abandonarem suas regiões de origem na busca de sustento. O professor Janos Bogardi, outro dos autores do relatório, apresentou o exemplo de Mali, com uma população de 11 milhões de pessoas, onde a desertificação obrigou mais de três milhões a emigrarem para a Costa do Marfim. "Apenas 250 mil se deslocaram fora do continente africano. E com relação à situação na Costa do Marfim piorou, 1,5 milhão retornaram para Mali. O que estamos observando é a incrível capacidade de adaptação da população", declarou Bogardi.

O problema aumentará, afirmam os especialistas, quando estas pessoas não forem capazes de se adaptarem e forem forçadas a empreenderem migrações maciças. É este temor, manifestado no 'movimento em massa da população para o norte da África, o que provocou um crescente interesse dos países em desenvolvimento em solucionar o problema', declarou Adeel. Porém, este 'interesse' não parece estar no mesmo nível que o problema. Adeel e Bogardi apontaram como exemplo os maciços subsídios que os países em desenvolvimento oferecem a seus setores agrícolas e que estão desequilibrando os mercados de alimentos nos países em desenvolvimento. "Europa e América do Norte outorgam US$ 300 bilhões por ano em subsídios agrícolas. Enquanto destinam US$ 50 bilhões em ajuda ao desenvolvimento", afirma Adeel.

Segundo J. A. van Ginkel, reitor da Universidade da ONU (UNU), "algumas forças da globalização, embora se esforcem para reduzir a desigualdade econômica e eliminar a pobreza, estão de fato contribuindo para o agravamento da desertificação. Os perversos subsídios agrícolas são um exemplo". Entre as soluções apresentadas pelos analistas, Adeel destaca "a retenção de carbono nas áreas de sequeiro", que, segundo o estudo, podem "proporcionar sustento para as pessoas em áreas secas já que combate a desertificação". "As políticas internacionais de ajuda ao desenvolvimento deveriam também reconhecer isto para aproveitar ao máximo o impacto de seus recursos financeiros", declarou.
(JB Online, 28/06/2007)


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