(29214)
(13458)
(12648)
(10503)
(9080)
(5981)
(5047)
(4348)
(4172)
(3326)
(3249)
(2790)
(2388)
(2365)
hidrelétricas do rio madeira impactos de hidrelétricas
2007-06-27
A construção das usinas no Rio Madeira tem gerado uma intensa discussão. A IHU On-Line* entrevistou Luis Fernando Novoa Garzón, sociólogo e mestrando em Ciências Políticas na Unicamp. É, ainda, membro da Ong ATTAC e do Grupo de Trabalho de Serviços e Investimentos da Rede Brasileira de Integração dos Povos. Confira a entrevista.

IHU On-Line - O senhor afirma, em artigo, que as Usinas do Rio Madeira não são alternativas corretas para o que chamam de "isolamento da região amazônica". O que o senhor acredita realmente estar em jogo em relação à construção dessas Usinas?
Luis Fernando Novoa Garzón - É tudo, menos a tentativa de fornecer e ampliar o abastecimento energético do país. Porque, do ponto de vista das alternativas que nós temos, existem saídas a curto prazo muito menos impactantes e muito mais baratas do que as Usinas do Rio Madeira. Por exemplo, a repotencialização das velhas usinas, os programas de eficiência energética e, também, as pequenas centrais hidrelétricas. Isso tudo coloca sob suspensão esta prioridade que tem sido dada, no sentido de saber o que se esconde por detrás do projeto. Em primeiro lugar, sabemos que esse projeto tem caráter internacional, pois ele se interliga com o megaprojeto da Iniciativa de Integração de Infra-estrutura Regional Sul-americana, financiada pelo BID, e que quer fazer da região um corredor bio oceânico de exportações, lidando com o Madeira, então, como um eixo de interligação, não só para o Atlântico, como é hoje, mas também para o Pacífico, atravessando uma área que ainda está em processo de consolidação. Essa área é muito frágil, do ponto de vista ecológico, sem a presença do Estado, o que, portanto, significa transferir a soberania sobre um território estratégico, não só para o Brasil como para os países da América do Sul.

IHU On-Line - Fernando Gabeira afirmou que as usinas do Rio Madeira seriam uma alternativa muito melhor do que trazer o nuclear para o Brasil. Como o senhor vê essas questão? Qual seria a melhor forma de distribuir energia para todos sem que isso "mexesse" com nosso meio ambiente?
Luis Fernando Garzón - O problema é quando se coloca alternativas desse tipo é como se não tivéssemos saída alguma. Há uma manipulação muito grande da informação e até mesmo da comunidade científica, no sentido de que se ofereça à sociedade brasileira alternativas que, no fundo, são do grande empresariado e que requerem energia em larga escala, a curto prazo, sem medir conseqüências, sem compromisso com a população brasileira e com o projeto nacional de desenvolvimento. Há um compromisso desse empresariado apenas com seus próprios interesses, no sentido de aumentar a escala de exportações e de ocupar os seus nichos de mercados, sem nenhum tipo de reciprocidade com o país. A discussão sobre a matriz energética e sobre a questão do abastecimento energético é feita de forma enviesada, ou seja, ela já vem contaminada de interesses particulares e de projetos específicos de grandes grupos econômicos, que se valem de um governo enfraquecido, que não tem mais capacidade de representar a complexidade do país e que, então, nos impõe uma pauta que não é a do povo brasileiro.

IHU On-Line - E qual seria essa pauta do povo brasileiro?
Garzón - Nós não vivemos em função da soja, da celulose, da mineração. A população brasileira vive de seus pequenos negócios, da sua agricultura familiar. A grande parte da população brasileira depende de mercado interno, de microcrédito, de serviços públicos, de capacitação tecnológica, ou seja, depende dos temas que não são prioridades para o governo. A grande questão é: para quem interessa essa energia proveniente do Rio Madeira? A que setores é dada a prioridade de abastecimento energético? O que se vê nessa discussão é a tentativa de fazer com que o país sacrifique seu imenso potencial natural e suas imensas bacias hidrográficas, em função de interesses imediatistas dos setores agroexportadores. E isso coloca em risco a integralidade das nossas bacias, as nossas águas. Ou seja, nós estamos oferecendo, como país, uma espécie de subsídios verdes. Nossos recursos naturais e nossa natureza são utilizados como mecanismos de "barateamento" dos custos operacionais das grandes empresas, o que representa perdas irreversíveis para a população.

IHU On-Line - Qual seria a melhor forma de distribuir energia para todos sem que isso denegrisse nosso meio ambiente?
Garzón - Precisamos discutir, com maior pluralidade e transparência, a matriz energética brasileira, de forma que possamos equilibrar essa matriz e, de fato, priorizar as energias alternativas. O Brasil tem um enorme potencial para captar energia solar e eólica, pela nossa posição geografia e pela extensão do território. Nós temos, também, soluções regionais e locais que passam pelo uso da biomassa e de pequenas centrais hidrelétricas. Ou seja, é possível pensar a energia e o desenvolvimento a partir de matrizes locais, a partir de uma composição e de uma agregação e de interesses mais amplos. É um processo de construção de um novo processo de decisão. Porque hoje nós vemos simplesmente as decisões sendo tomadas nos círculos de maior concentração econômica. Então, o Ministério das Minas e Energia e a Casa Civil acabam adotando um planejamento energético, que é feito em grupos muito concentrados e que, portanto, não refletem as prioridades do país como um todo, mas, ao mesmo tempo, acabam sendo vocalizadas como se fossem do país.

IHU On-Line - Como o senhor vê a atuação do governo Lula em relação a questões como a construção das usinas do Rio Madeira e da transposição do Rio São Francisco?
Garzón - Isso se reflete nessa prioridade que o PAC apresenta, pois ele tem a lógica do crescimento que está nesses projetos dos setores que se tornaram dinâmicos em meio a um processo de fragmentação de desmonte do país. O PAC é um programa perverso, desse ponto de vista, pois reforça os que já são fortes e não estabelece nenhum tipo de prioridade para resgatar os setores que encadeiam a economia nacional, ou seja, voltados para o mercado interno, para os mercados regionais, para processos de agregação de valor e multiplicação de talentos, de capacidade, de geração de tecnologias. Assim, ele é um programa que procura ampliar a escala dos setores que já têm os seus pontos de venda no mercado mundial, especialmente o agronegócio e o setor mineral. Então, é uma energia que reforça a concentração e esse modelo que vigora. Nossa crítica não é a meramente ambientalista, mas a que critica tal modelo. Assim, possibilidades econômicas são suprimidas na medida que se estabelece um uso predominante, absoluto, de funcionalização do território a serviço dessas grandes corporações, retirando da população a possibilidade de que ela possa usar o seu território, a sua região, para o ecoturismo, para a agricultura familiar, para a pesca, ou seja, alternativas que mantém essas populações há tanto tempo e que são, de fato, sustentáveis e permanentes. Enquanto isso, essas grandes corporações geram surtos de crescimento, favorecendo grupos voltados para o mercado externo e deixando muito pouco de retribuição.

IHU On-Line - Como seria uma versão do PAC que favoreceria o povo brasileiro?
Garzón - Nós precisamos retomar o crescimento do país. De fato, essa é uma demanda de grande parte da população brasileira, que vê o País sobre uma camisa de força estabelecida desde o início dos anos 1990, em razão do sistema econômico internacional, e vem mantendo o País sob baixo crescimento. Essa é uma avaliação conjunta. A questão é: qual o modelo de crescimento? Nesse sentido, o programa que a sociedade brasileira esperaria é um que trouxesse investimentos maciços na infra-estrutura social, o que é um direito da população brasileira. Esse programa atual não desenha um futuro promissor para o país, à medida que ele fortalece um modelo que vem aprofundando a concentração de renda e rebaixando o perfil tecnológico-econômico no mercado mundial. O Brasil está se transformando num país especialista em matérias-primas e produtos manufaturados de baixo valor agregado. Esse é o perfil que o Brasil está desenhando através do PAC.

IHU On-Line - Em sua opinião, quais são as principais implicações sociopolíticas que essas usinas ocasionarão à região?
Garzón - Do ponto de vista político, para nós, é uma perda de controle territorial, representado pela Amazônia. Também é uma perda no sentido de falta de controle sobre nossas águas. Esses grandes projetos acabam impondo suas próprias regras. Então, à medida que um projeto como esse se instala, cria um vazio institucional, pois cria novos ordenamentos. E o pior é que esse ordenamento é definido pelo setor privado, como ficou claro quando o Ministro de Minas e Energia anunciou exatamente que o leilão não aceitará a participação de estatais e que o Estado terá um papel subsidiário no projeto, no sentido apenas de financiamento. O projeto estará a serviço do mercado e do setor privado. Isso só comprova que a região vai ficar à mercê de interesses particulares, com muito pouca interferência do setor público, no sentido de que estamos transferindo prerrogativas que deveriam ser do Estado e da sociedade para o setor privado. Isso significa transformar um bem público, no caso, um rio, em mercadoria, sem que sequer mediações políticas, sociais e institucionais sejam admitidas. Essas exigências estão sendo simplesmente minimizadas, relativizadas nos estudos de impacto ambiental e, se aprovadas, trazem a consolidação de um processo de licenciamento ambiental padronizado, no qual a sociedade não terá mais suas salvaguardas garantidas. Além disso, existirão apenas os interesses dos mercados e aquilo que esses consideram como conveniente e aceitável assumir como custo social-ambiental.

(Instituto Humanitas Unisinos* / Adital, 25.06/2007)

desmatamento da amazônia (2116) emissões de gases-estufa (1872) emissões de co2 (1815) impactos mudança climática (1528) chuvas e inundações (1498) biocombustíveis (1416) direitos indígenas (1373) amazônia (1365) terras indígenas (1245) código florestal (1033) transgênicos (911) petrobras (908) desmatamento (906) cop/unfccc (891) etanol (891) hidrelétrica de belo monte (884) sustentabilidade (863) plano climático (836) mst (801) indústria do cigarro (752) extinção de espécies (740) hidrelétricas do rio madeira (727) celulose e papel (725) seca e estiagem (724) vazamento de petróleo (684) raposa serra do sol (683) gestão dos recursos hídricos (678) aracruz/vcp/fibria (678) silvicultura (675) impactos de hidrelétricas (673) gestão de resíduos (673) contaminação com agrotóxicos (627) educação e sustentabilidade (594) abastecimento de água (593) geração de energia (567) cvrd (563) tratamento de esgoto (561) passivos da mineração (555) política ambiental brasil (552) assentamentos reforma agrária (552) trabalho escravo (549) mata atlântica (537) biodiesel (527) conservação da biodiversidade (525) dengue (513) reservas brasileiras de petróleo (512) regularização fundiária (511) rio dos sinos (487) PAC (487) política ambiental dos eua (475) influenza gripe (472) incêndios florestais (471) plano diretor de porto alegre (466) conflito fundiário (452) cana-de-açúcar (451) agricultura familiar (447) transposição do são francisco (445) mercado de carbono (441) amianto (440) projeto orla do guaíba (436) sustentabilidade e capitalismo (429) eucalipto no pampa (427) emissões veiculares (422) zoneamento silvicultura (419) crueldade com animais (415) protocolo de kyoto (412) saúde pública (410) fontes alternativas (406) terremotos (406) agrotóxicos (398) demarcação de terras (394) segurança alimentar (388) exploração de petróleo (388) pesca industrial (388) danos ambientais (381) adaptação à mudança climática (379) passivos dos biocombustíveis (378) sacolas e embalagens plásticas (368) passivos de hidrelétricas (359) eucalipto (359)
- AmbienteJá desde 2001 -