A Sociedade Brasileira de Ictiologia lançou na segunda-feira (25/06) um manifesto sobre os efeitos que usinas hidrelétricas do Rio Madeira possam ter sobre espécies aquáticas da região. No documento, a entidade alerta para a possibilidade de que "alterações antropogênicas na dinâmica hidrológica do rio Madeira causem efeitos deletérios irreversíveis sobre a fauna de peixes".
O manifesto afirma que o Brasil possui a maior diversidade mundial de peixes de água doce, sendo que a bacia amazônica é a mais rica em espécies, muitas das quais migram durante o ciclo reprodutivo. Os autores afirmam que as barragens estão entre as principais causas do impedimentos dessa migração, "figurando entre as obras humanas de maior impacto sobre as comunidades de peixes". Por isso, o documento defende que seja tratada "com a devida atenção e importância a conservação dos grandes bagres migradores".
As informações sobre a ictiofauna do Rio Madeira listadas no Estudo de Impacto Ambiental da obra foram objetos de questionamento pelo Ibama, em abril deste ano. Entre outras considerações, o órgão afirmou que "o mecanismo de transposição proposto no estudo, por mais eficiente que seja, não reproduzirá integralmente as condições naturais, tais como vazão e dimensão espacial, implicando em mudanças numéricas dos indivíduos que passam de jusante para montante".
Dentre as espécies de grandes bagres que seriam afetadas pelas barragens de Jirau e Santo Antônio, a dourada foi a espécie que recebeu mais atenção da mídia. O peixe possui um dos valores comerciais mais elevados da região amazônica, sobretudo no Pará, Amapá, Amazonas e Rondônia, no Brasil, e também em regiões da Colômbia, Bolívia, e Peru.
Segundo estimativas do Ibama, cerca de 16 mil pessoas sobrevivem da pesca da dourada e da piramutaba (outro peixe migrador) na Bacia Amazônica. Mas o SBI alerta para a necessidade de se ampliar a discussão sobre os impactos e diz considerar "inapropriada a eleição de apenas uma espécie como pivô de uma discussão que deveria abranger todo o ecossistema direta e indiretamente influenciado pelas barragens planejadas para o rio Madeira, o que inclui uma grande quantidade de espécies aquáticas e terrestres e também os fatores sócio-econômicos regionais."
A preocupação é corroborada por estudo produzido pelo biólogo Geraldo Mendes dos Santos, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia. Para ele, "além de afetarem direta e imediatamente os peixes migradores, elas [as barragens] também interferem na estabilidade do sistema, fragmentando populações, erodindo o patrimônio genético e alterando as comunidades de peixes no conjunto dos ambientes em que vivem".
Veja
o manifesto na íntegra.
(Por Renata Gaspar,
Amazonia.org.br, 25/06/2007)