Está todo mundo falando nesse tal de biocombustível. É biodiesel prá lá, etanol prá cá, incentivos ao plantio de cana-de-açúcar, implantação de usinas e muitos discursos políticos de que tudo isso junto significa redenção econômica de estados e municípios. Mas a coisa não é bem assim, como atestam estudos feitos em diversas regiões aonde esta sistemática arrecadativa vem sendo empregada.
Um estudo divulgado pela FAO – o órgão das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação sugere que a crescente demanda por biocombustíveis pode levar a uma alta dos preços internacionais de alguns alimentos. Segundo o estudo, os gastos globais com a importação de alimentos devem crescer 5% e atingir um valor recorde de US$ 400 bilhões neste ano.
A alta é puxada pelos preços de importação de grãos e óleos vegetais, usados em grande escala na produção de biocombustíveis – sobretudo nos derivados de milho.
Ainda de acordo com a FAO, o aumento dos gastos com as importações desses produtos em 2007 chegará a 13% em relação a 2006. Portanto, a demanda por biocombustíveis é o maior responsável pela alta dos preços dos alimentos.
Só nos Estados Unidos, estima-se que, no período entre 2007 e 2008, serão necessárias 86 milhões de toneladas de milho para a produção de etanol. Isso representaria 60% a mais (30 milhões de toneladas) do que o total utilizado no período anterior e uma quantidade superior ao volume total de milho exportado em todo o mundo, estimado em 82 milhões de toneladas.
O milho é a principal matéria-prima utilizada na alimentação animal. Um aumento em seu preço se traduz em aumento nos custos de criação de animais e em um conseqüente aumento nos preços de produtos derivados destes animais. É uma continha fácil de fazer: Para o consumidor, o resultado mais visível será o encarecimento da carne, de produtos lácteos e dos óleos vegetais.
Senão vejamos: O preço da carne subiu 7,6% em março passado em relação ao mesmo mês em 2006 e o preço dos produtos lácteos aumentou 46% desde novembro passado. No caso do frango, os preços das exportações do Brasil e dos Estados Unidos, que juntos respondem por 70% do comércio mundial, subiram em março passado 14% e 20%, respectivamente, em relação à média de 2006.
Parte desse comportamento se deve também a fatores como o clima. O açúcar é o único produto que ainda não corre risco de subir de preço, apesar de o Brasil, maior produtor mundial, continuar destinando cada vez maiores quantidades de cana para a produção de etanol. Ainda bem que a produção brasileira ainda é maior que a demanda. Por enquanto!
Mas isso pode mudar a partir do momento em que as nações desenvolvidas decidirem liberalizar o mercado de etanol e eliminarem as tarifas sobre o álcool brasileiro. Aí ninguém segura mais os preços. Portanto, esse negócio de biocombustível pode ser faca de dois gumes. É bom os prefeitos de nosso Estado começarem a atentar para essa questão, pois podem estar fabricando mais miséria futura para o país.
(Por Paulo Rocaro,
Campo Grande News, 26/06/2007)