Uma iniciativa da ONU pretende agrupar empresas públicas de água e esgoto da América Latina para incentivar a troca de experiência e de tecnologia. O objetivo é formar uma rede virtual em que as próprias prestadoras de serviço possam esclarecer as dúvidas umas das outras. O projeto é parte de uma ação maior, já implantada na África e na Ásia e que deve formar futuramente uma rede mundial.
A rede começou a ser planejada em 2005, quando o Comitê de Assessoramento ao secretário-geral da ONU para Assuntos de Água e Esgoto — um órgão formado por especialistas de diversos países — propôs a Kofi Annan, então secretário-geral da ONU, a criação de redes em cada continente, como forma de acelerar as medidas em prol dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM — uma série de metas que os países se comprometeram a atingir até 2015).
“Observamos que 95% da população que recebe água e esgoto no mundo é atendida por operadoras públicas. Algumas são mais avançadas do que as outras. É preciso melhorar a forma de atendimento delas para que os países alcancem os ODM”, diz o responsável pela idéia, Antônio Miranda, membro do comitê que assessora o secretário-geral. “Essa ação quer promover a melhoria do serviço das operadoras através de uma ajuda mútua, sem fins lucrativos, em que quem pode ajuda. Não há ninguém tão bom que não possa precisar de ajuda e ninguém tão ruim que não possa oferecer alguma ajuda”.
Em novembro de 2005, a proposta foi discutida em um encontro que reuniu os membros do comitê e agências da ONU. A iniciativa foi aceita e passou a chamar-se WOP (Parceria das Operadoras de Água, na sigla em inglês). Em 2006, foram formadas redes na África e na Ásia. “A idéia é que as redes nacionais também se fortaleçam. Elas vão se interligando com outras redes nacionais para formar redes regionais que depois se unem em uma rede mundial”, explica Miranda, que também é conselheiro da ASSEMAE (Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento).
No Brasil, de acordo com ele, não há ainda nenhuma iniciativa parecida. O mais próximo disso, ressalta, seria a RECESA (Rede Nacional de Capacitação e Extensão Tecnológica em Saneamento) — criada pelos ministérios das Cidades e da Ciência e Tecnologia com o objetivo de melhorar a qualificação dos profissionais que atuam no setor de saneamento no Brasil. Ela é apoiada pelo PNUD por meio do programa PMSS II (Apoio à Modernização do Setor Saneamento).
“Mas a RECESA é mais voltada para um ambiente de ensino. Reúne, inclusive, mais instituições de ensino e pesquisa. A WOP é para a troca de experiências entre as operadoras, o que engloba também questões de capacitação, mas também troca de tecnologia”, compara Miranda. Ele destaca ainda que a rede brasileira deverá ser formada conforme for nascendo a rede da América Latina.
Operadoras públicas de 30 países da região mostraram interesse no projeto. Elas assinaram a Declaração de Recife, um documento que foi resultado de uma conferência que aconteceu em Recife neste mês. Estiveram presentes 60 participantes, que representavam empresas e agências da ONU, entre elas o PNUD.
A forma como essa rede vai atuar será discutida em novembro, em um evento na Colômbia. Segundo Miranda, a idéia é criar uma plataforma virtual, onde os participantes possam interagir. “Uma operadora está com um determinado problema e pergunta para a rede quem sabe resolvê-lo. A partir dessa troca de informações pode ser suficiente uma simples troca de e-mails ou até uma cooperação técnica”.
(Por Talita Bedinelli, PNUD/Envolverde, 26/06/2007)