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desertificação
2007-06-27

Como afirmou o ex-secretário-geral da Organização das Nações Unidas Kofi Annan, “a desertificação é um dos processos mais alarmantes da degradação ambiental em nível mundial”. Embora se trate de um problema “silencioso”, seus efeitos recaem sobre um terço da superfície terrestre e colocam em perigo a existência de 1,2 bilhão de pessoas em mais de cem países ao redor do mundo. Muitas das pessoas mais pobres do mundo são as afetadas mais diretamente pela desertificação. Dois terços dos pobres vivem em terras secas, cerca de metade deles em fazendas familiares nas quais a degradação ambiental ameaça a produção agrícola da qual dependem para seu sustento.

Isto faz com que busquem soluções rápidas para suas necessidades urgentes, e desse modo prejudicam seu meio ambiente e perpetuam o ciclo de desertificação e pobreza. A Convenção Internacional de Luta contra a Desertificação (UNCCD) reconheceu que este é um problema centrado nas pessoas e que nas áreas prejudicadas afeta de maneira combinada o bem-estar das pessoas e o meio ambiente. Assim, essa convenção é um importante instrumento nos esforços para erradicar a pobreza extrema, o primeiro dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio.

O atual secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, afirmou que “a efetiva implementação da convenção, que integra as preocupações tanto sobre o meio ambiente quanto a respeito do desenvolvimento, está se tornando cada vez mais urgente”. O tema escolhido para este ano reflete os significativos laços entre a desertificação e a mudança climática, bem como as sinergias entre as duas convenções do Rio sobre os dois assuntos, cujo objetivo final é o desenvolvimento sustentável. Embora a desertificação seja em parte causada por fatores induzidos por atividades humanas, como os cultivos e o pastoreio excessivos, a mudança climática tem dentro dela um papel significativo. Há muitos motivos para se preocupar.

Recente pesquisa sobre as mudanças de movimento das correntes marinhas indica que se elas se moverem outros dois ou três graus em direção aos pólos no próximo século áreas muito secas, como o deserto do Saara, poderão estender-se também em direção aos pólos, talvez algumas centenas de milhas. Entretanto, já experimentamos os impactos da mudança climática, com efeitos adversos sobre muitas áreas. As terras aráveis estão diminuindo e a água ficando cada vez mais escassa. Os padrões das chuvas foram alterados e as inundações, as secas e os incêndios florestais estão se tornando cada vez mais freqüentes e prejudiciais. Imagens de tais eventos climáticos extremos chegam às nossas casas com uma freqüência cada vez maior e são um aviso do preço que se pagará por ignorar o meio ambiente que nos sustenta.

A desertificação já responde pelos altos níveis da migração forçada e uma série de nações européias está entre aquelas que têm de enfrentar as conseqüências quando chegam às suas praias barcos carregados de pessoas que arriscaram suas vidas em busca do sustento, já que não podem obtê-lo em seus próprios países. Se a mudança climática se acelerar, estima-se que mais de um bilhão de pessoas - um sétimo da atual população mundial – poderão ser obrigadas a abandonar suas casas entre o momento atual e 2050.

Embora o impacto da mudança climática sobre a desertificação seja claro, se dá menos atenção aos efeitos da degradação da terra sobre o aquecimento global. A Avaliação do Ecossistema para o Milênio destaca que os solos das terras secas contêm mais de um quarto de todas as reservas de carbono orgânico no mundo, bem como quase todo o carbono inorgânico. Como resultado da desertificação e das conseqüentes perdas de vegetação, que produz um aumento das emissões e uma redução da absorção de carbono, estima-se que aproximadamente 4% do total das emissões globais são produzidas em terras secas.

Portanto, os esforços combinados para combater a desertificação por meio da recuperação das terras degradadas, do combate contra a perda de solos e a restauração da vegetação podem ajudar a alcançar rápida e eficazmente resultados para conter as emissões de gases causadores do efeito estufa, o que, por sua vez, pode ter um importante impacto sobre os padrões do clima global. Devido aos múltiplos vínculos entre a desertificação e a mudança climática, as estratégias de alívio e adaptação deveria ser coordenada para se enfrentar os dois problemas de maneira conjunta. A desertificação e a mudança climática são duas importantes manifestações do mesmo desafio ambiental global, e ambas, em conjunto, ameaçam seriamente nossa capacidade para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio até 2015.
(Por Hama Arba Diallo, Envolverde, 26/06/2007)


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