O Pará deu o primeiro passo para um novo modelo de exploração florestal sustentável que põe do mesmo lado dois agentes de uma relação historicamente conflituosa: assentados da reforma agrária e madeireiras. A Associação Virola-Jatobá, de Anapu, e a Vitória Régia Exportadora de Madeiras assinaram semana passada um contrato que, com mediação do governo, pretende explorar racionalmente cerca de 10 mil hectares de terra nos próximos 20 anos.
O acordo é ainda mais simbólico porque será desenvolvido em Anapu, cidade onde a irmã americana Dorothy Stang foi assassinada há dois anos. O crime aconteceu porque a missionária defendia os Planos de Desenvolvimento Sustentável (PDS), como são chamados os assentamentos florestais, da invasão de madeireiros e fazendeiros. Além do Virola-Jatobá, o PDS Esperança, cujos trabalhadores eram defendidos por Dorothy Stang, também está negociando com a Vitória-Régia. “Esperamos abandonar de vez o modelo que se baseava na carência dos assentados. Eles vendiam a madeira ilegalmente para sobreviver, mas era uma solução momentânea. Agora vamos tirar nosso sustento de modo legal e sustentável”, afirmou o técnico florestal Geovani Guzo, representante dos assentados do Virola-Jatobá.
Contratos entre madeireiras e assentamentos florestais não são inéditos, mas é a primeira vez que os governos federal e estadual participam efetivamente do processo. Uma das maiores queixas dos assentados sempre foi a ausência de mediação do estado, que permitia pressões por parte dos madeireiros.
Desta vez, o Ministério do Meio Ambiente, o Incra, o Ministério Público e o Instituto de Desenvolvimento Florestal do Pará (Ideflor) estão dando assistência técnica e jurídica permanentes.
- Antigamente, este trabalho era feito diretamente pelas madeireiras, que tiravam vantagens. Esses assentados, em geral, são agricultores, não têm vocação florestal. Por isso, precisamos capacitá-los - disse a presidente do Ideflor, Raimunda Monteiro.
O contrato terá duração de 20 anos, tempo estimado para o plano de manejo, como é chamado o sistema de plantio e corte. Serão explorados 500 hectares por ano, algo entre 12 e 14 mil metros cúbicos de madeira. Os assentados vão receber, em média, R$ 80 por árvore, mas espécies nobres como Ipê podem valer mais de R$ 200. Os trabalhos devem começar em no máximo uma semana.
A Vitória Régia sempre comprou madeiras diretamente de serrarias. Negociando diretamente com os assentados, a empresa pretende comprar também frutas e outros produtos não-florestais, além de aproveitar os galhos, que geralmente são queimados em carvoarias.
- A madeireira sempre foi vista como vilã, mas esse contrato vai mostrar que a iniciativa privada pode colaborar com o desenvolvimento e com a preservação. Para nós, é um divisor de águas - afirma o diretor comercial da Vitória Régia, Sandro Bracchi.
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Diário do Pará / Amazonia.org, 25/06/2007)