Devido à crescente demanda de fontes energéticas não emissoras de gases estufa, aumenta a aceitação popular da indústria de energia nuclear, principalmente nos antigos países comunistas. As promessas européias de combate ao aquecimento global parecem estar dando um impulso à energia nuclear. Mesmo aqueles países que haviam decidido desligar seus reatores resolveram retomar o debate sobre a energia atômica, cujos defensores sustentam que ela é polui menos o meio ambiente dos que as fontes tradicionais de energia, por produzir baixos níveis de CO2.
A mudança pode vir como uma surpresa, especialmente depois que o desastre nuclear de Chernobil, em 1986, mostrou a realidade das falhas na segurança nuclear. Especialmente interessados nesta mudança estão os antigos países soviéticos, cujo rápido crescimento e persistente dependência do gás natural da Rússia provoca a perda do controle de seus mercados energéticos.
Os novos Estados-membros são a chave
Instalação nuclear de Paks, na HungriaCinco dos dez países que ingressaram na União Européia em 2004 – República Tcheca, Hungria, Lituânia, Eslováquia e Eslovênia – possuem reatores em operação. Sob protestos, a Bulgária foi obrigada a fechar dois reatores da era soviética como condição de ingresso na UE.
Apesar disso, o país está levando a frente seu controverso plano de construir um novo reator em Belene, próximo do rio Danúbio. Para tal, os búlgaros já assinaram contrato com a companhia russa AtomStroyExport. A Romênia e a República Tcheca têm também planos para a construção de novos reatores. A Hungria e a Eslováquia também estão discutindo unidades adicionais. Já os países bálticos – Letônia, Estônia e Lituânia – assinaram um acordo para construir uma nova central em Ignalina, na Lituânia. A Polônia também assinou um acordo de cooperação com a Lituânia.
Fontes "muito sujas"
No ano passado, cerca de 50% da energia elétrica da Ucrânia, que não faz parte da UE, proveio de usinas atômicas. Até 2030, o país pretende colocar 11 novos reatores nucleares em operação. Sami Tulonen, porta-voz do Fórum Atômico Europeu (Foratom), associação de comércio de energia nuclear ligada à UE, reconheceu que os países do Leste Europeu conduzem "discussões mais avançadas" no que tange a construção de novas instalações.
Nestes países, segundo o porta-voz, há maior suporte público e político para a energia nuclear. Além disso, devido à entrada destes países na UE, "presencia-se um intenso crescimento econômico e a necessidade de maior capacidade de eletricidade para atender a demanda", comenta Tulonen. Além disso, está o fato de que grande parte da energia dos países do Leste Europeu provém de fontes muito poluentes, como o carvão, e a crescente intolerância perante os gases estufa. Diante disso, é compreensível que a opinião pública tome uma posição favorável à energia nuclear, acrescenta o porta-voz.
Crescimento na Europa Ocidental também
Tulonen adverte, no entanto, que seria errôneo observar este movimento como uma oposição entre Leste e Oeste. "Há muita discussão em torno da construção de novas usinas nucleares nos antigos países-membros da UE", comenta o porta-voz, lembrando que a Finlândia é responsável, atualmente, pelo primeiro reator nuclear a ser construído no bloco depois de 15 anos.
Manifestantes protestam contra o fórum atômico alemãoBildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: Manifestantes protestam contra o fórum atômico alemãoA França tem também sérios planos de construção de usinas atômicas. A Suécia e a Bélgica seguem o mesmo caminho. Até mesmo o Reino Unido está considerando a opção nuclear, afirmou Tulonen. Atualmente, cerca de 30% da produção total de eletricidade dos páíses do bloco provêm de fontes nucleares. Na Alemanha, 50% da eletricidade provêm de fontes nucleares. Em países favoráveis à energia atômica, como a França e a Bélgica, a porcentagem se eleva a 80%.
Fórum europeu de energia nuclear
Enquanto isso, a União Européia anunciou a criação de um fórum europeu de energia nuclear, que se encontrará duas vezes por ano, com o intuito de "lançar um trabalho de base para um debate aberto, estruturado e sem tabus sobre este tipo de energia", afirmou Andris Piebalgs, comissário europeu de Energia. Os opositores da energia atômica, entretanto, argumentam que a indústria nuclear está simplesmente usando um truque cínico, ao enfatizar os baixos níveis de CO2 produzido por instalações nucleares, explorando assim a boa fé das pessoas que estão preocupadas com o aquecimento global.
"Não é somente um truque", afirma Sonja Meister, ativista do grupo ambiental Amigos da Terra. "Isto simplesmente não é verdade. Falam que a energia nuclear não emite CO2, mas observando o ciclo de produção completo – as emissões produzidas durante a mineração do urânio, construção da instalação – há uma grande produção de CO2", acrescenta Meister. Além disso, quando se faz comparações de custos entre a energia nuclear e outros tipos de fontes energéticas, os custos de manutenção e segurança são sempre ignorados, comenta a ativista.
(Por Jennifer Abramsohn, Deutsche Welle, 25/06/2007)