De 1997 a 2002, a incidência de tuberculose em São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, foi 2,4 vezes maior do que a média do estado e quatro vezes superior à média nacional. A cidade, que hoje tem 34,8 mil habitantes e cuja população de origem indígena representa mais de 80% do total, apresentou uma média de 82 casos da doença por ano no período estudado. Os dados, publicados na edição de julho dos Cadernos de Saúde Pública, são resultado de estudo realizado por Antônio Levino, do Centro de Pesquisa Leônidas Maria Deane (CPqLMD), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e Roselene Martins de Oliveira, da Universidade do Estado do Amazonas (UEA).
O trabalho descreve a situação da tuberculose em São Gabriel da Cachoeira por meio de análises estatísticas de informações coletadas no banco de dados do Sistema de Informações de Agravos de Notificação (Sinan) do Ministério da Saúde. Ao todo, foram analisados dados de 494 pacientes com a doença atendidos pelos serviços de saúde da cidade. Os pesquisadores utilizaram também informações dos censos de 1991 e de 2000 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os coeficientes de incidência da doença foram avaliados de acordo com variáveis como idade, sexo e procedência urbana ou rural.
“Os resultados do trabalho podem ser utilizados para entender as desigualdades sociais no Brasil. Estatísticas de atendimento à saúde no país mostram que a população indígena está em desvantagem quando comparada com a situação de saúde da população em geral”, disse Levino à Agência FAPESP. “Os dados sobre tuberculose de São Gabriel da Cachoeira, cidade que apresenta os maiores coeficientes de incidência da doença no país, são mais um indicador das más condições de vida dos índios brasileiros”, destacou.
No período analisado, a ocorrência da doença entre homens foi maior do que entre mulheres: 307 e 238 casos, respectivamente, para cada 100 mil habitantes. A área rural da cidade foi a mais afetada, com 81% do total de casos. A população do município em 2000 era de 29.947 habitantes, sendo 12.373 urbana e 17.574 rural.
Com relação à idade, a maior incidência da doença ocorreu em pessoas com mais de 50 anos e que vivem na zona rural, seguida de crianças com até 4 anos na zona rural, 15 a 49 anos na zona rural e acima de 50 anos vivendo em áreas urbanas. “Os dois extremos de idade são os pontos de maior vulnerabilidade para o desenvolvimento da doença. Na primeira infância, há uma forte relação com o estado nutricional e com o nível de imunidade das crianças: os riscos de ter a doença aumentam conforme esses padrões diminuem. Na população com idade mais avançada, a alta incidência está relacionada com a queda da resistência imunológica dos indivíduos”, disse o pesquisador da Fiocruz.
Para ler o artigo "Tuberculose na população indígena de São Gabriel da Cachoeira", Amazonas, Brasil, disponível na biblioteca eletrônica SciELO (FAPESP/Bireme),
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(Por Thiago Romero,
Agência Fapesp, 25/06/2007)