A corrida pela produção dos chamados biocombustíveis de segunda geração -que fogem dos padrões comerciais atuais - ganhou mais um capítulo. Ele foi escrito na semana passada por pesquisadores nos EUA. Pelo menos em laboratório, cientistas da Universidade de Wisconsin descobriram uma nova forma de tirar energia de biomassa. E o resultado foi um produto com uma densidade energética 40% maior que o tão declamado álcool etílico.
O combustível batizado de dimeltifurano (DMF) surgiu diretamente a partir da frutose, um tipo de açúcar que, como o próprio nome diz, é bastante abundante em frutas. "O processo que nós usamos para o obter o combustível é bem similar ao processos usados normalmente pela indústria do petróleo", disse à Folha o pesquisador James Dumesic, o principal autor do estudo, publicado pela revista "Nature".
Por isso, o cientista não tem dúvida de que isso poderá ser feito em escala comercial sem maiores problemas. "Nós usamos dois tipos conhecidos de catálise [interferência na velocidade de uma reação química por meio de uma substância neutra]." Do ponto de vista científico, o que Dumesic e os seus colegas fizeram foi misturar a via termoquímica de conversão de biomassa (que usa calor e a catálise) com a biológica (enzimas e microrganismos). Uma das grandes dúvidas entre os cientistas dessa área hoje no mundo, pelo menos antes desse cruzamento, é saber qual desses dois caminhos vai obter mais sucesso.
Balança desfavorável
Além da densidade energética, explica o pesquisador, existem outras duas vantagens a favor do DMF quando ele é comparado com o álcool de cana. "O ponto de ebulição do combustível é 20ºC mais alto. Isso permite uma maior maleabilidade no momento do refino, no caso de uma mistura com a gasolina", explica o cientista. O DMF também é hidrofóbico, o que significa que a gasolina, quando misturada a ele, não vai absorver água da atmosfera, o que é prejudicial para o rendimento do combustível. "Nós conseguimos fazer isso retirando cinco dos seis átomos de oxigênio presentes em uma molécula de frutose", explica.
Apesar de em um primeiro momento a pesquisa norte-americana poder parecer o atalho para uma tecnologia que o Brasil ainda não tem - o que no futuro terá sérias implicações econômicas - o próprio pesquisador americano dá a deixa:
"Tudo começa com a frutose, que por sua vez pode vir da glucose. E, no caso do Brasil, isto é especialmente importante: um tipo de açúcar encontrado na cana é composto de uma frutose e de uma glucose."
(Por Eduardo Geraque, Folha Online, 25/06/2007)