Paris vai ferver e boa parte do Mediterrâneo vai secar, segundo um novo estudo que alerta para o calor que a região pode absorver por causa do aquecimento global. De acordo com os autores, os dias mais quentes da atualidade serão os mais frescos no fim do século XXI se for mantido o ritmo atual de emissões de dióxido de carbono. As ondas de calor, como a que matou 15.000 pessoas na França em 2003, serão cada vez mais intensas e mais comuns à medida que o número de dias quentes aumentar entre 200% e 500%.
Isto equivale a 49 dias de calor intenso adicionais em Paris, 48 mais em Atenas e Valência, e 55 mais em Tel Aviv, concluiu o estudo. "Você não vai querer estar aqui no verão", disse o co-autor da pesquisa, Jeremy Pal, em entrevista por telefone do Centro Internacional de Física Teórica em Trieste, Itália. O estudo dá a primeira visão do que as cidades da região mediterrânea vão sofrer à medida que as temperaturas subirem, numa média de 3 graus em 2100. O Mediterrâneo é uma das regiões mais suscetíveis à mudança climática e espera-se que esquente e seque mais que outras partes do mundo.
Os cientistas construíram um modelo por meio do qual podem medir o impacto do aquecimento global em pequenas áreas e encontraram grandes diferenças entre várias partes do Mediterrâneo. As temperaturas subirão em larga escala na França, com altas diárias de até 8,5 graus, em comparação com aumentos de quatro a sete graus em outras partes. As zonas úmidas costeiras serão mais afetadas que terra adentro, enquanto as áreas mais elevadas, como os Alpes, levarão a melhor.
O número de dias em que o índice de calor atingirá níveis perigosos aumentará em 40 ao ano nas regiões costeiras de Espanha e Portugal, no sul da Itália e em boa parte das margens sul e leste do Mediterrâneo, projetou o estudo. No interior da Espanha e no sul da França haverá de 20 a 30 dias de calor perigoso adicionais, enquanto boa parte da Europa sofrerá entre 10 e 15 dias mais. "Estas são temperaturas muito ruins", advertiu Pal, professor da Universidade Loyola Marymount, na Califórnia (oeste dos EUA). "Em um ano extremo, podemos falar de dois meses", acrescentou.
O estudo concluiu que se as emissões de dióxido de carbono forem reduzidas de forma significativa será possível mitigar a intensidade das ondas de calor. Mas as temperaturas no Mediterrâneo se elevarão de qualquer forma a um ponto em que serão uma ameaça para a saúde humana, a agricultura e a estabilidade econômica, concluíram os cientistas. "Achamos que a redução de emissões de gases de aquecimento global diminui o impacto, mas vemos efeitos negativos, inclusive com emissões menores", explicou Noah Diffenbaugh, professor da Universidade Purdue de Indiana, que chefiou a pesquisa.
"As mudanças climáticas e de comportamento que puderem ser feitas agora terão uma grande influência no que realmente ocorrerá no futuro", acrescentou. O estudo explorou dois dos cenários mais aceitos entre os que foram desenvolvidos pelo Painel Internacional de Mudança Climática: um que mostra o que ocorrerá se as mudanças às políticas de emissões são menores e outro que considera grandes mudanças nestas políticas.
O primeiro estabeleceu um aumento das concentrações de dióxido de carbono na atmosfera de 123% em 2100, e o segundo, 62%. Neste caso, ao invés de as temperaturas subirem sete ou oito graus em Paris, a elevação será de 6 ou 7 graus, e poderá haver a metade de dias perigosamente quentes. O estudo foi publicado na edição de 15 de junho do periódico Geophysical Research Letters.
(AFP, 22/06/2007)