As audiências públicas realizadas nesta semana sobre a construção da usina nuclear de Angra 3 foram conduzidas de "de forma discricionária" pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). A opinião é de José Rafael Ribeiro, conselheiro da Sociedade Angrense de Proteção Ecológica (Sapê).
Em entrevista à Agência Brasil, ele afirmou que os grupos ambientalistas foram convocados a falar "depois de todas as entidades interessadas no projeto, o que na maioria das audiências ocorreu de madrugada" e os questionamentos ficaram sem respostas.
A física Sandra Miano, responsável pela área nuclear na Direitoria de Licenciamento Ambiental do Ibama, e que presidiu a mesa das audiências, contestou o conselheiro e explicou que o regulamento de audiência pública do Ibama estabelece entrega à mesa, por escrito, das dúvidas durante os encontros. Segundo ela, a Sapê levou documentos impressos com 60 perguntas, "colados" no formulário do Ibama.
“Se eu tivesse lido as 60 perguntas deles, fora as outras 70 da população que se manifestou, nós teríamos cerceado o direito das demais pessoas de receberem respostas de um grupo técnico amplo que estava ali. Então, nós não achamos procedente acatar a forma como eles demonstraram interesse pelo assunto”, disse a técnica. Ela contou ter sugerido à Sapê selecionar cinco perguntas, mas a proposta não foi acatada.
Para o conselheiro da Sapê, mesmo que essa audiência seja considerada, o licenciamento não pode ser concedido porque “um empreendimento desse porte não é um empreendimento local, que deva ser considerado como um puxadinho no fundo do quintal”.
José Rafael Ribeiro advertiu que o processo está sendo feito de forma “atabalhoada”, em momento de greve de funcionários e de "uma cisão que enfraquece o Ibama". E reiterou que a Sapê "não considera a produção de energia nuclear como uma forma de energia sustentável nem para o Brasil, que tem outras fontes energéticas, nem para lugar algum do mundo".
(Por Alana Gandra,
Agência Brasil, 23/06/2007)