As obras do Projeto de Integração do São Francisco à Bacias do Nordeste Setentrional, também conhecido como projeto de transposição, beneficiarão a produção de camarão e alimentos para exportação – e não a população do sertão. A opinião é de Adriano Martins, integrante do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea).
Em entrevista à Rádio Nacional, ele afirmou que o projeto "não é voltado ao abastecimento das populações que passam sede no nordeste, como o governo defende de vez em quanto”. E acrescentou: “Não é verdade, é marketing falar que é água para quem está com sede".
Segundo Martins, somente 4% das águas do projeto de integração serão destinadas à população da caatinga e do sertão: “Setenta por cento são para uso industrial, irrigação de exportação e criação de camarão, e 26%, para uso industrial e para grandes cidades e metrópoles”.
O conselheiro defende a aplicação das sugestões do Atlas do Nordeste, divulgado pela Agência Nacional de Águas (ANA) no final do ano passado. A publicação aponta cerca de 530 ações para reduzir o déficit da água nas cidades nordestinas.
“Boa parte das ações do Atlas propõe trazer a água que está represada no açude, mas não está disponibilizada para a população, por meio da construção de adutoras e melhora do sistema de abastecimento. Há uma área de muita escassez, mas muito próximo, uma região com muita água de solo que não é aproveitada”.
Em março, em entrevista à Agência Brasil, o diretor-presidente da ANA, José Machado, havia explicado que o Atlas é complementar às obras de integração do Rio São Francisco, ao sugerir a construção e a ampliação de sistemas de captação de água, adutoras e tratamento. Com isso, seriam atendidos 40 milhões de moradores da região ao custo de R$ 3,6 bilhões.
Segundo o Ministério da Integração Nacional, o projeto para o rio prevê a construção de dois canais: o Eixo Norte, que levará água para os estados de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte; e o Eixo Leste, para atender ao sertão e às regiões de agreste de Pernambuco e da Paraíba. As obras já começaram e estão previstas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), lançado pelo governo federal em janeiro. O custo estimado para o projeto é de R$ 4,9 bilhões.
(Por Isabela Vieira,
Agência Brasil, 24/06/2007)