Um júri popular analisa esta semana as causas e os responsáveis por um dos piores acidentes com fogos de artifício da história do Brasil. Na quarta-feira (27/06), em Santo Antônio de Jesus (BA) vão a julgamento oito acusados pela explosão que matou 64 pessoas há quase nove anos. A maior parte dos mortos trabalhava na fábrica onde ocorreu o acidente.
Os familiares das vítimas organizaram o Movimento 11 de dezembro que, em parceria com a organização não-governamental Justiça Global, também entrou com ação na Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CDIH) da Organização dos Estados Americanos (OEA).
Eles acusaram o Estado brasileiro de demorar no julgamento dos responsáveis pela explosão e não prestar assistência às famílias das vítimas. Apesar de um acordo firmado pelo governo federal, a advogada da Justiça Global Luciana Garcia diz que mesmo após a tragédia a situação no município baiano não mudou.
“Desde a explosão, até hoje, continua a situação de produção ilegal e clandestina de fogos de artifício, na região de Santo Antônio de Jesus. Inclusive essa atividade é realizada por mão de mão de obra infantil e de adolescentes que produzem os fogos nas portas de suas casas”, relata Luciana.
Diante da possibilidade da apresentação de recurso por parte da defesa após o julgamento, o que poderá levar a um prolongamento do caso, Maria Madalena Silva, presidente do Movimento 11 de dezembro, afirma que continuará vigília em busca de Justiça.
“Eu nunca perdi a esperança e se esse juri não der em nada, nós vamos continuar a lutar, porque como diz o pessoal a esperança é a última que morre”, diz Maria Madalena. Ela perdeu três filhas na explosão, duas delas menores de idade – 15 e 14 anos. As meninas trabalhavam na fabricação de traque, que continua ocorrendo de maneira insegura na cidade, como revela um documentário feito com apoio das famílias e divulgado pelo You Tube.
“Muita gente saiu do movimento porque receberam pressão de pessoas do bairro que ainda sobrevivem da fabricação de fogos de artifício em condições precárias”, lamenta a presidente do Movimento 11 de dezembro. “Até hoje tem gente trabalhando no local do acidente. As pessoas falam que não tem como ganhar a vida de outro jeito.”
(Por Erich Decat, Agência Brasil, 24/06/2007)