(29214)
(13458)
(12648)
(10503)
(9080)
(5981)
(5047)
(4348)
(4172)
(3326)
(3249)
(2790)
(2388)
(2365)
desmatamento da amazônia frigoríficos/agroindústrias
2007-06-25
A empresa Bertin Ltda, a segunda maior no processamento de carnes no país, começa a se instalar no Acre turbinada pelo empréstimo de U$ 90 milhões do Banco Mundial e pelo entusiasmo de fazendeiros e políticos do "governo da floresta". Nos próximos três anos, segundo o agrônomo Judson Valentim, pesquisador da Embrapa, o frigorífico contribuirá para que o rebanho bovino do Acre salte de 2,6 milhões para 4,3 milhões de cabeças.

Na Amazônia, a Bertin já atua no Pará, Mato Grosso e Rondônia e, junto com o Banco Mundial, tem sido duramente criticada por Ongs e institutos de pesquisa que atuam na região, que tentaram sensibilizar a instituição a desistir de financiar um empreendimento classificado pelo próprio banco na categoria A de risco ambiental, isto é, capaz de resultar em "impactos diversos, irreversíveis ou sem precedentes" na Amazônia.

O frigorífico Bertin vai abater diariamente 1,2 mil bois, que serão comprados de pecuaristas do Acre e do Sul do Amazonas. O ex-governador Jorge Viana, que agora preside o Fórum Empresarial do Acre, é o mais entusiasmado com a presença do frigorífico no Estado. Ele acredita que a empresa contribuirá para o desenvolvimento da pecuária e da indústria e a consequente geração de emprego e renda. "A floresta não sofrerá pressão porque no Acre existem regras. Além de mim, existe a ministra Marina Silva e o governador Binho Marques para buscar o melhor possível para a população".

Na semana passada, quando o Grupo Bertin anunciou que fará investimento de R$ 75 milhões na construção de um frigorífico no Acre, o governador Binho Marques (PT), também não escondeu a empolgação. Nos anos 80, Marques era um dos braços do sindicalista Chico Mendes na organização da resistência dos trabalhadores rurais contra a expansão da pecuária na região. "Estou muito feliz porque, neste momento, o Acre tem o valor agregado do Grupo Bertin. Sua presença é a marca dos eixos de uma economia limpa e competitiva", disse o governador.

A Bertin tem no horizonte a exportação de carne para os mercados do Peru, Bolívia, Estados Unidos e Ásia por causa da localização estratégica do Acre, a partir da abertura da Estrada do Pacífico. Diretores repetiram no Acre que a empresa não comprará gado de pecuaristas “que não possuem títulos de terras ou apresentam documentos fraudulentos”.

Relatório da FAO, órgão da ONU voltado para agricultura e combate à fome, ressalta os potenciais prejuizos ao meio ambiente: "o setor pecuário é responsável por 9% do CO2 procedente de atividades humanas, mas produz um percentual muito mais elevado dos gases de efeito estufa mais prejudiciais. Gera 65% do dióxido nitroso de origem humana, que tem 296 vezes o Potencial de Aquecimento Global (GWP, na sigla em inglês) do CO2. A maior parte deste gás procede do esterco". A FAO também considera que a pecuária não só ameaça o meio ambiente, mas também é uma das principais causas da degradação do solo e dos recursos hídricos.

Dinheiro público
Para o pecuarista Assuero Veronez, presidente da Federação de Agricultura do Acre, o aumento do rebanho no Estado também não significará pressão nos arredores da floresta. Ele disse que a Bertin vai gerar demanda apenas nas áreas já desmatadas e que façam incorporação de tecnologia. "O que nós queremos é buscar cada vez mais a certificação das propriedades para evitar agressão ambiental. Muitos ambientalistas fazem terror, mas o dinheiro público investido em empreendimentos como esse da Bertin é bem mais produtivo para o país do que aquele que o Ministério do Meio Ambiente destina às Ongs".

O pesquisador Judson Valentim assinala como virtude da Bertin a disposição de comprar carne apenas de empresários cujas propriedades estejam regularizadas. "O produtor que não tiver nível tecnológico ficará de fora", avalia Valentim, que está preocupado com o fato de que 52% do rebanho bovino está localizado em propriedades com até 500 cabeças, o que corresponde a 96% dos proprietários.

Segundo Valentim, no início da década de 70, um hectare de pastagem alimentava 1,14 cabeças de gado bovino por ano e as pastagens, geralmente, degradavam três a cinco anos depois de formadas. Em 2004, a pecuária bovina, com um rebanho de 2 milhões de cabeças, ocupava 81,1% das áreas desmatadas no Acre, com 1,3 milhão de hectares de pastagens e taxa de lotação média de 1,54 cabeças por hectare.

Entre 1990 e 2004, o rebanho bovino do Acre cresceu 416%, enquanto a área desmatada aumentou 147%. O pesquisador considera que isso foi possível graças à adoção de tecnologias que contribuíram para o prolongamento da vida produtiva média das pastagens, passando de 3-5 anos para 10-20 anos; e para o aumento da capacidade média de suporte das pastagens no Estado, passando de 1,1 cabeças por hectare, em 1970, para 1,54 cabeças por hectare, em 2004. "Este aumento de 38% na taxa de lotação das pastagens permitiu evitar o desmatamento de 630 mil hectares de florestas, para a implantação de pastagens no Acre entre 1970 e 2004", afirma Valentim.

Passivo ambiental
Apesar destes esforços, apenas cerca de 40% dos pequenos, médios e grandes produtores do Acre adotaram tecnologias que aumentam a produtividade e a rentabilidade da pecuária, além de reduzir os impactos ambientais dessa atividade. "O Acre precisa ampliar as políticas que premiem os produtores que adotem processos produtivos que não dependam do desmatamento e das queimadas, permitam a recuperação de áreas degradadas e a sua reincorporação aos processos produtivos, tenham produtividade acima da média do Estado e sejam mais intensivos no uso de mão-de-obra em relação aos sistemas agrícolas tradicionais", recomenda Valentim.

Existe, ainda, no Acre, a questão do passivo ambiental, isto é, aqueles desmatamentos superiores a 20% das áreas, ocorridos antes da legislação que limita em 20%. Quem desmatou 50%, que era permitido antes, após a restrição ficou com 30% de área desmatada. Para casos assim, o governador Binho Marques instituiu durante a semana um grupo de trabalho para elaborar uma proposta de regularização do passivo ambiental das propriedades rurais.

"O governo estadual continuará buscando novas políticas para promover sistemas de produção agropecuários e agroflorestais sustentáveis, com foco na recuperação das áreas degradadas e aumento da produtividade nas áreas já desmatadas e na promoção da preservação e uso sustentável dos recursos florestais. Estabelecemos as regras com o Zoneamento Ecológico-Econômico e o governo deverá se pautar por isso para poder orientar o processo de desenvolvimento", disse o secretário de Meio Ambiente, Carlos Edegard de Deus.

(Por Altino Machado, Amazonia.org.br, 21/06/2007)

desmatamento da amazônia (2116) emissões de gases-estufa (1872) emissões de co2 (1815) impactos mudança climática (1528) chuvas e inundações (1498) biocombustíveis (1416) direitos indígenas (1373) amazônia (1365) terras indígenas (1245) código florestal (1033) transgênicos (911) petrobras (908) desmatamento (906) cop/unfccc (891) etanol (891) hidrelétrica de belo monte (884) sustentabilidade (863) plano climático (836) mst (801) indústria do cigarro (752) extinção de espécies (740) hidrelétricas do rio madeira (727) celulose e papel (725) seca e estiagem (724) vazamento de petróleo (684) raposa serra do sol (683) gestão dos recursos hídricos (678) aracruz/vcp/fibria (678) silvicultura (675) impactos de hidrelétricas (673) gestão de resíduos (673) contaminação com agrotóxicos (627) educação e sustentabilidade (594) abastecimento de água (593) geração de energia (567) cvrd (563) tratamento de esgoto (561) passivos da mineração (555) política ambiental brasil (552) assentamentos reforma agrária (552) trabalho escravo (549) mata atlântica (537) biodiesel (527) conservação da biodiversidade (525) dengue (513) reservas brasileiras de petróleo (512) regularização fundiária (511) rio dos sinos (487) PAC (487) política ambiental dos eua (475) influenza gripe (472) incêndios florestais (471) plano diretor de porto alegre (466) conflito fundiário (452) cana-de-açúcar (451) agricultura familiar (447) transposição do são francisco (445) mercado de carbono (441) amianto (440) projeto orla do guaíba (436) sustentabilidade e capitalismo (429) eucalipto no pampa (427) emissões veiculares (422) zoneamento silvicultura (419) crueldade com animais (415) protocolo de kyoto (412) saúde pública (410) fontes alternativas (406) terremotos (406) agrotóxicos (398) demarcação de terras (394) segurança alimentar (388) exploração de petróleo (388) pesca industrial (388) danos ambientais (381) adaptação à mudança climática (379) passivos dos biocombustíveis (378) sacolas e embalagens plásticas (368) passivos de hidrelétricas (359) eucalipto (359)
- AmbienteJá desde 2001 -