A paz no Sudão pode não durar até que as autoridades do país discutam urgentemente o problema da destruição ambiental do território, afirmou nessa sexta-feira (22/06) o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).
A instituição da ONU, que analisou a situação ambiental do Sudão, incluindo a conflituosa região de Darfur, afirma que as raízes do problema estão nas décadas de problemas sociais e conflitos, que devastaram o meio ambiente.
O documento afirma que o investimento em gestão ambiental, financiado pela comunidade internacional e pelos recursos provenientes do início das explorações de gás e petróleo, "podem ser uma parte vital do esforço para construir a paz" no país.
O subsecretário-geral da ONU e diretor-geral do Pnuma, Achim Steiner, disse que o documento demonstra "a tragédia do Sudão, que ocorre há várias décadas e afeta a vida de milhões de pessoas e milhares de comunidades".
Steiner disse que a assinatura do acordo de paz de 2005 e a recente decisão do Governo de Cartum de permitir o envio de uma força de paz conjunta da ONU e da União Africana (UA) podem "oferecer uma possibilidade real de oferecer aos sudaneses um futuro diferente".
Entre as maiores preocupações do Pnuma, diz o relatório, estão a destruição da terra, a desertificação e o avanço dos desertos em 100 quilômetros nos últimos 40 anos.
A situação, segundo especialistas da organização da ONU, está ligada ao uso excessivo de adubos em terras que já estão enfraquecidas pela pecuária extensiva de gado, pois as cabeças de gado passaram de 27 milhões para 135 milhões em pouco tempo.
Além disso, muitas regiões sensíveis sofrem um grande desmatamento, o que gerou a perda de 12% das florestas sudanesas em 15 anos. Ao mesmo tempo, se prevê que, em algumas áreas, a vegetação estará completamente destruída na próxima década.
Os paliativos à situação geral sudanesa, segundo a ONU, viriam da adoção de medidas para a administração e controle das mudanças climáticas, da criação de estruturas controladas pelos Governos nacional e locais, e da integração de fatores ambientais nos diferentes projetos que sejam implementados.
"O custo total destas recomendações seria de US$ 120 milhões por períodos de três a cinco anos", disseram os analistas. Eles alegaram que os números "não são grandes se comparados ao Produto Interno Bruto do Sudão, que em 2005 foi de US$ 85,5 bilhões".
Outros fatores, como os derivados do impacto da mudança climática e da redução das chuvas, também destroem o entorno ambiental, especialmente nos estados de Kordofan e Darfur.
No norte de Darfur, uma região há quatro anos em conflito, a quantidade de chuvas caiu em um terço nos últimos 80 anos, disseram os analistas do Pnuma em seu relatório, que também contou com a participação da unidade de administração de desastres e pós-conflitos.
Os especialistas afirmaram que os efeitos da mudança climática poderiam aumentar em até 70% as reduções na produção de alimentos por causa da escassez de chuvas e das variações previstas na região do cinturão do Sael.
"Está claro que uma parte grande do futuro e da manutenção da paz dependerá da forma como o meio ambiente do Sudão se recuperar e for administrado", disse Steiner.
Os analistas da ONU acrescentaram que, além de Darfur, outras regiões sudanesas poderiam assistir ao surgimento de novos conflitos gerados em parte pela má situação do meio ambiente, em particular nas regiões fronteiriças norte-sul.
Desta forma, os especialistas disseram que nas montanhas de Nuba, no sul de Kordofan, as comunidades tribais já demonstraram sua preocupação com a perda de vegetação e de florestas por causa da presença dos camelos usados pela tribo de Shanabla.
A comunidade foi forçada a emigrar do sul por causa da perda de gramados pela expansão agrícola e pela seca.
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EFE, 22/06/2007)