(29214)
(13458)
(12648)
(10503)
(9080)
(5981)
(5047)
(4348)
(4172)
(3326)
(3249)
(2790)
(2388)
(2365)
2007-06-22
Passa um pouco do meio-dia, o sol forte gera um calor tão intenso que até as galinhas buscam abrigo debaixo da casa.  Ao mesmo tempo, na sala, as crianças riem e fazem comentários sobre o desenho animado que passa na tevê recém-comprada.  Acabaram de almoçar arroz com feijão, galinha caipira, farinha e um refrescante suco de groselha saído da geladeira.

Com luxo assim Nilson Bezerra Pinheiro não podia nem sonhar quando se embrenhou pelos 28 quilômetros de picada para iniciar sua colônia na mata bruta do que era a invasão do Espinhara, 16 anos atrás.
"Naquele tempo não tinha estrada, não tinha nada, era só um varadouro.  Abrimos mais de três quilômetros de ramal no terçado, de lá para frente outros foram preparando o caminho e muito tempo depois é que apareceu uma máquina abrindo estrada.  Fiz uma casinha coberta de palha para viver com a mulher, tivemos três filhos e apesar de todas as dificuldades que enfrentei, antes nunca tivesse ido morar na cidade, porque meu lugar é aqui trabalhando a terra, isto é o que me dá gosto na vida".

A força da convicção de Nilson surpreende num momento em que estamos às vésperas de, pela primeira vez na história da humanidade, termos mais gente vivendo nas cidades do que no campo em todo o Brasil e no mundo.
Ao mesmo tempo, suas afirmações dão testemunho de que a maioria dos que deixaram e continuam deixando suas colocações e colônias, só o fizeram porque a falta de ramais, assistência médica, educação e luz elétrica tornaram a vida tão ruim que se arriscaram nas cidades com esperança de oferecer uma vida melhor e mais digna aos filhos.  Nem todos conseguiram e a maioria engrossa os bolsões de pobreza e miséria que impulsionam a explosão da violência por toda parte.

Vivendo de esperança

Nascido e criado numa colônia de Tarauacá, Nilson foi mais um que deu seu jeito de vir morar na Capital onde tudo seria "mais fácil", mas logo desiludiu-se, queria voltar para a colônia, mas não tinha recurso, foi trabalhar de empregado no Humaitá, voltou para ser cobrador de ônibus, foi juntando uns trocados até que trabalhando na fazenda de um tio ouviu um cunhado dizer que estavam vendendo um pedaço de terra na invasão do Espinhara.

"Resolvi conferir, era muito longe, ficava no quilômetro 50 da BR-364 de Rio Branco para Sena Madureira já no município do Bujari e ainda tinha de entrar mais de 28 quilômetros pelo varadouro.  Nessa época nem ramal tinha, não tinha nada, só mata bruta!"  Declara Nilson enquanto o olhar percorre o aceiro da floresta que já não pode mais ser derrubada.  "Era um lote de 600 metros de frente por 800 de fundo, com nascente e um pequeno igarapé.  Era o que precisava, paguei R$ 800 fui buscar as ferramentas e vim trabalhar.  Suei muito, mas nunca perdi a esperança de viver cada vez melhor".

Esboçando um sorriso de satisfação joga para as galinhas e patos uma mão de milho recém colhido e debulhado que estão nas sacas acomodadas na varanda.  Da cozinha da casa feita em madeira serrada, limpa e espaçosa, vem o cheiro da galinha caipira.

"No começo tudo o que eu queria era um lugar para morar e produzir, aí vieram os filhos e a gente vai procurando dar mais conforto para eles.  Depois que o Incra demarcou nossas terras deu dinheiro para gente construir uma casa de seis por oito, juntei mais um dinheiro e fiz maior pra gente viver bem.  Agora temos ramal do qual a lama toma conta no inverno.  Mas agora com o prefeito Michel, todo verão as máquinas raspam e tiram os atoleiros, o caminhão vem buscar os produtos.  Sem ramal é muito mais difícil pra gente escoar a produção e, é daí que tiramos o dinheiro com que vivemos", recorda.

Novos tempos

Dificuldades existem e não são poucas, o ramal ainda é precário, a falta de assistência técnica o deixa olhando para o pasto que está morrendo, deixando o gado sem ter o que comer enquanto ele não sabe o que fazer.  "O gado é nossa renda maior, é dele que tiramos dinheiro, mas o capim está morrendo e para não deixar a terra nua estou plantando grama nativa, só que ele não é ta bom para engordar os animais.  Já a lavoura assim, no terçado, não rende muita coisa e hoje a gente não pode mais desmatar porque está proibido, mas também não temos máquina para mecanizar a terra, tudo pra nós da zona rural é sempre mais difícil", lamenta.

Mas Nilson não desiste e, em vez de desanimar, enche-se de novas esperanças pelo trator de esteiras e de pneu recém -comprado pela prefeitura do Bujari com recursos da Suframa para atender a zona rural.  "Quero gradear um bom pedaço de terra para plantar milho, arroz e macaxeira.  Vou financiar 16 horas de máquina e construir um açude para criar peixes e irrigar o sistema agroflorestal que a gente está começando a preparar com mudas de cupuaçu, pupunha, cerejeira, cedro, mogno e outras árvores da região.  A gente que tem gosto no trabalho é assim: fazendo planos para o futuro, sem desistir nunca."

Então fala com orgulho das conquistas feitas na vida: "Quando cheguei não tinha nada, hoje tenho casa boa, escola pras crianças, mas nunca previ que essa tal de Luz no Campo chegasse tão ligeira para clarear a vida da gente.  É uma coisa muito boa porque agora a gente pode ter geladeira pra conservar a comida e beber água gelada, televisão pra assistir os programas.  Com a eletricidade acabei de instalar a antena do telefone.  Pra cidade eu vou só a negócio, mas volto logo porque meu lugar é aqui mesmo".

(Página 20, 21/06/2007)



 

desmatamento da amazônia (2116) emissões de gases-estufa (1872) emissões de co2 (1815) impactos mudança climática (1528) chuvas e inundações (1498) biocombustíveis (1416) direitos indígenas (1373) amazônia (1365) terras indígenas (1245) código florestal (1033) transgênicos (911) petrobras (908) desmatamento (906) cop/unfccc (891) etanol (891) hidrelétrica de belo monte (884) sustentabilidade (863) plano climático (836) mst (801) indústria do cigarro (752) extinção de espécies (740) hidrelétricas do rio madeira (727) celulose e papel (725) seca e estiagem (724) vazamento de petróleo (684) raposa serra do sol (683) gestão dos recursos hídricos (678) aracruz/vcp/fibria (678) silvicultura (675) impactos de hidrelétricas (673) gestão de resíduos (673) contaminação com agrotóxicos (627) educação e sustentabilidade (594) abastecimento de água (593) geração de energia (567) cvrd (563) tratamento de esgoto (561) passivos da mineração (555) política ambiental brasil (552) assentamentos reforma agrária (552) trabalho escravo (549) mata atlântica (537) biodiesel (527) conservação da biodiversidade (525) dengue (513) reservas brasileiras de petróleo (512) regularização fundiária (511) rio dos sinos (487) PAC (487) política ambiental dos eua (475) influenza gripe (472) incêndios florestais (471) plano diretor de porto alegre (466) conflito fundiário (452) cana-de-açúcar (451) agricultura familiar (447) transposição do são francisco (445) mercado de carbono (441) amianto (440) projeto orla do guaíba (436) sustentabilidade e capitalismo (429) eucalipto no pampa (427) emissões veiculares (422) zoneamento silvicultura (419) crueldade com animais (415) protocolo de kyoto (412) saúde pública (410) fontes alternativas (406) terremotos (406) agrotóxicos (398) demarcação de terras (394) segurança alimentar (388) exploração de petróleo (388) pesca industrial (388) danos ambientais (381) adaptação à mudança climática (379) passivos dos biocombustíveis (378) sacolas e embalagens plásticas (368) passivos de hidrelétricas (359) eucalipto (359)
- AmbienteJá desde 2001 -