As alterações climáticas se tornaram uma importante questão de segurança que poderia levar a uma "conflagração mundial", alertou o mais importante funcionário ambientalista da ONU. Do aumento no nível do mar no oceano Índico à desertificação acelerada do Sahel africano, o aquecimento global causará novas guerras em todo o mundo, disse Achim Steiner, diretor executivo do Pnuma, o Programa das Nações Unidas para Meio Ambiente. "As pessoas estão sendo forçadas a ocupar territórios alheios devido às alterações climáticas, e isso causa conflito", disse.
"O mundo já está passando por sua primeira guerra parcialmente causada pelas alterações climáticas", disse ele. As mudanças drásticas do ambiente na região sudanesa de Darfur ajudaram a preparar o terreno para o conflito atual, que deixou mais de 2,5 milhões de desabrigados e ao menos 200 mil mortos. Um relatório que o Pnuma divulga hoje estabelece vínculo direto entre as alterações climáticas e o conflito
Briga por terra
Os pastores nômades e os agricultores, que no passado dividiam o território de forma relativamente pacífica, subitamente passaram a dispor de menos terras férteis. Os fazendeiros começaram a cercar terras pelas quais no passado permitiam a passagem dos nômades. Os confrontos pelos recursos cada vez mais escassos entre os nômades, que tendem a ser de etnia árabe, e os fazendeiros, em sua maioria africanos, generalizaram-se. A crise atual foi deflagrada por uma rebelião lançada por três tribos de Darfur e pela feroz campanha de combate aos insurgentes promovida pelo governo, aliado às milícias árabes, mas as mudanças drásticas no ecossistema parecem ter contribuído para a disputa.
"O que vemos em Darfur é um fenômeno de mudança ambiental em curso, e isso pressiona as comunidades locais", disse Steiner. "Se somarmos esse fator a potenciais tensões de natureza étnica ou religiosa, logo teremos uma mistura na qual qualquer pressão maior pode resultar em conflito." A alta do nível do mar ao largo da costa de Bangladesh representa outra potencial fonte de conflito, afirmou Steiner. "A Índia já começou a construir uma muralha para impedir que os bengalis atravessem.
A alta de meio metro prevista para o nível do mar significará que 34 milhões de pessoas terão de deixar as áreas que ocupam". Mas é a África que tem mais chance de sofrer. O continente cujos moradores têm o menor número de carros e fazem o menor número de vôos internacionais experimentará as mais devastadoras conseqüências das alterações climáticas. A elevação do nível do mar pode destruir até 30% das costas, e de 25% e 40% dos habitats naturais africanos serão perdidos até 2085, segundo a ONU.
(Por Steve Bloomfield, The Independet, Folha de São Paulo, 20/06/2007)