A propalada revolução dos biocombustíveis, que substituiria com sucesso a atual dependência do petróleo, ainda está longe e “fora da realidade”, na avaliação de reportagem publicada nesta quarta-feira (20/06) pelo diário Financial Times. “A promessa dos biocombustíveis sempre pareceu muito boa para ser verdade”, inicia o texto, observando que “não é uma surpresa que políticos nos Estados Unidos, na Europa e na Ásia adotaram com entusiasmo” uma tecnologia “que reduziria a dependência de suprimentos de petróleo de países inamistosos, ajudaria a combater o aquecimento global e daria uma desculpa para subsídios generosos a grupos de pressão poderosos”.
Porém o jornal diz que “a primeira geração de biocombustíveis, etanol feito a partir de grãos e biodiesel, são caros, muitas vezes têm um mérito ambiental discutível, e não podem substituir mais do que uma fração da demanda mundial por petróleo”. A reportagem observa ainda que “a economia dos biocombustíveis tem sido prejudicada pelos altos aumentos no preço de commodities agrícolas, como o milho” (utilizado nos Estados Unidos como matéria prima para a produção do álcool combustível).
O jornal conclui seu texto afirmando que “mesmo nos cenários mais otimistas, os biocombustíveis seriam uma solução apenas para os transportes”. “Para cortar as emissões de gases do efeito estufa em geral, reduções semelhantes teriam que ser encontradas em outros setores”, diz a reportagem.
Doce sucesso
Em outro texto que acompanha a reportagem principal, o jornal diz que “o Brasil aproveita o doce sucesso da energia do açúcar”, em referência ao etanol fabricado pelo país a partir da cana-de-açúcar. “O boom do etanol no Brasil está apenas começando. Os otimistas falam do país como uma Arábia Saudita verde, cuja combinação de terra, clima e tecnologia poderia torná-lo o maior produtor de bioetanol eficiente”, diz o jornal.
A reportagem observa que o Brasil “produzirá cerca de 4,6 bilhões de galões de etanol usando cerca de metade dos 16 milhões de hectares de terra cultivados com cana-de-açúcar” e que “os Estados Unidos produzem 4,9 bilhões de galões de cerca de 78 milhões de hectares de milho, enquanto a terra é escassa nos Estados Unidos, mas tem um potencial enorme para expansão no Brasil”. O jornal afirma, porém, que “muitas mudanças ainda precisam ocorrer nos mercados desenvolvidos antes de a visão de uma Arábia Saudita verde se tornar realidade”, entre eles as definições sobre possíveis cotas na compra de biocombustíveis por mercados em potencial, como o Japão, e as tarifas impostas pelos Estados Unidos para a importação do etanol brasileiro.
Entusiasmo de Lula
Uma terceira reportagem publicada pelo Financial Times sobre o assunto afirma que o entusiasmo de Lula pelos biocombustíveis vem conseguindo convencer outros líderes do continente americano. “O presidente do Brasil raramente perde uma oportunidade para propagandear o poder da indústria do etanol em seu país em sua busca para conseguir uma maior influência no mundo”, diz o jornal.
Segundo a reportagem, “recentemente vários líderes nas Américas começaram a compartilhar seu entusiasmo, argumentando que a cooperação entre o norte sedento por energia e o sul rico em tecnologia poderiam formar a base de uma integração maior e de relações políticas mais saudáveis através do hemisfério”. O texto cita, entre os simpatizantes da causa, o colombiano Luis Alberto Moreno, presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o chileno José Miguel Insulza, secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA) e o irmão do presidente americano e ex-governador da Flórida, Jeb Bush, que preside atualmente a Comissão Interamericana do Etanol.
(BBC, 20/06/2007)