Pessoas manipuladas por supostas cooperativas de trabalhadores lotaram as audiências públicas para aplaudir seus patrões.Acompanhando as audiências públicas do zoneamento ambiental da silvicultura, elaborado pela Fepam, foi possível entender a raiz do debate e a dimensão do problema social que vai além do impacto ambiental. Os empregos ainda não chegaram, mas alguns trabalhadores já foram mobilizados. Na mais autêntica manipulação de interesses, pessoas cooptadas por supostas “cooperativas de trabalhadores”, lotaram as audiências públicas para aplaudir seus patrões e sonhar por seus empregos.
Um engano terrível de democracia, mas muito oportuno. Escreveu-se certo por linhas tortas. Ficou claro, a partir das manifestações, que estes são os empregos prometidos pelos políticos e empresários. Que azar da metade sul. Empregos de papel, possivelmente muitos sem carteira assinada, sem direitos, leves e soltos, entregues à própria sorte guiada pela fome e pela miséria.
Tal como aconteceu nas audiências, a evidência é de que o emprego chegará de ônibus e de caminhão, pela mão dos donos das cooperativas, aliados dos empresários e políticos e defensores da monocultura de eucalipto na metade sul.
Se antes assustava o impacto ambiental, hoje aterroriza o impacto social. Que qualidade de trabalho os políticos e empresários estão dispostos a implantar como sinônimo de desenvolvimento? Está visto que os trabalhadores necessariamente não serão da região e o trabalho será de péssima qualidade.
Que terrível engano, que desenvolvimento estranho e perigoso para a nossa metade sul, ambientalmente questionável e socialmente perverso. Que preço salgado para este desenvolvimento que substitui a cultura do homem campo, do ampeiro a cavalo pela cultura do homem da moto-serra e do caminhão de bóia
fria.
Será que não tem alternativa para desenvolvimento da metade sul? O turismo, a fruticultura, a vitivinicultura, os hortigranjeiros, os frigoríficos, a reforma agrária, a melhoria do rebanho e das lavouras de arroz aplicando tecnologias mais sustentáveis, estas não seriam alternativas mais viáveis e douradoras?
Imaginei que poderia valer o refrão de uma música que consagrou o cantor Belchior, na voz da gaúcha Elis Regina, "ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais", infelizmente não mais será possível isso na metade sul, não viveremos mais como nossos pais, será pior!
(Por Paulo Mendes*,
EcoAgência, 18/06/2007)
* Paulo Mendes é diretor do Sindicato dos Empregados em Empresas de Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisas e de Fundações Estaduais do RS (Semapi-RS).