Uma reportagem publicada nesta quarta-feira (20/06) no jornal americano "The New York Times" destaca uma polêmica que envolve tribos indígenas amazônicas e institutos de pesquisas estrangeiros que vendem sangue coletado dos nativos nos anos 70 e 90.
Líderes karitiana, suruí e ianomâmi, escutados na reportagem, dizem não ter recebido um só centavo pela venda de seu material genético, vendido a US$ 85 cada amostra por uma firma americana chamada Coriell Cell Repositories, uma entidade sem fins lucrativos baseada em Camden, Nova Jersey.
Segundo a reportagem, os índios estariam revoltados e que "na época que as amostras foram coletadas, tinham pouco ou nenhum entendimento do mundo exterior, muito menos de como funcionava a medicina Ocidental e a economia capitalista moderna".
A reportagem mostra que o material, supostamente obtido sem o consentimento dos índios, foi coletado sem que as autoridades brasileiras soubessem que procedimentos científicos estavam sendo realizados nas tribos protegidos por lei federal.
Biopirataria
"Os povos indígenas da Amazônia são ideais para certos tipos de pesquisa genética, porque são populações isoladas e extremamente fechadas, permitindo aos geneticistas a construção de um pedigree mais completo e rastrear a transmissão de uma doença por gerações", explica o artigo.
"Mas a prática de coletar amostras de sangue dos índios da Amazônia tem provocado desconfiança entre os brasileiros, zelosos em relação ao que chamam de biopirataria."
Ouvida pela reportagem, a Coriell disse que as amostras foram obtidas legalmente por meio de um pesquisador, e aprovadas por autoridades americanas.
Além disso, a entidade afirmou que "não há lucros" nas suas operações de venda de material genético, e portanto não haveria o quê ser repartido com os indígenas.
Já institutos brasileiros que coletaram sangue dos indígenas devolveram o material após pressões legais exercidas pelas tribos e pela Fundação Nacional do Índio, a Funai, informou o NYT.
(BBC Brasil, 20/06/2007)