As audiências públicas sobre o zoneamento ambiental do plantio de eucalipto estão sendo manipuladas pelo governo do Estado e pelas indústrias papeleiras. A denúncia está sendo feita por entidades ambientalistas do Rio Grande do Sul. As empresas estariam pagando ônibus para trabalhadores e moradores a fim de lotar as audiências e defenderem a flexibilização do estudo. A escolha de locais com poucos lugares e a organização das audiências, que facilita a intervenção das empresas, também são apontadas como exemplos da atuação parcial do governo do Estado a favor do setor.
Luiz Rampazzo, membro do Centro de Estudos Ambientais (CEA) de Pelotas, critica a mudança de local da audiência em Santa Maria, que foi feita no mesmo dia da reunião, e o local escolhido para a audiência em Pelotas, que era pequeno e deixou centenas de pessoas de fora da reunião. Luiz também denuncia a atuação das empresas, que pagam transporte para dezenas de pessoas que nem sabem do que se trata a audiência, mas que defendem mudanças favoráveis às indústrias no zoneamento .
"A condução não observou princípios básicos. Dizia na portaria, por exemplo, que você tinha que apresentar um documento, representativo da sua entidade, que designasse você como uma pessoa que possa falar por ela. No segmento das ongs, muita gente que veio de caravanas de municípios que os transportes foram pagos por empresas, falaram e não eram ligadas a ong nenhuma", afirma.
Na avaliação de Luiz, do CEA, as audiências públicas da Fepam estão servindo somente para dar um caráter mais democrático às mudanças que as empresas de celulose querem implementar no estudo. O ambientalista denuncia a atuação do governo, que através da direção da Fepam está favorecendo o setor. "Essa discussão toda em torno do zoneamento é uma forma de dizer que o governo do estado está preocupado em fazer alguma coisa. No entanto, elas podem ser, e acho que vão, ser meramente figurativas, só para dizer que se está fazendo algo", diz.
A última audiência pública será nesta terça às 19h, em Caxias do Sul, no Salão dos Capuchinhos. As entidades ambientalistas reivindicaram uma audiência em Porto Alegre, que foi negada pela Fepam. O zoneamento ambiental da monocultura do eucalipto indica as áreas em que pode ser implantada a atividade em maior e menor escala. O principal item que desagrada as empresas é que o plantio de eucalipto e pínus na região Sul, onde fica o Pampa Gaúcho, não é indicado pela Fepam. Isso porque o Sul e a Fronteira Oeste concentram a maior parte das terras já compradas pelas empresas.
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Agência Chasque, 19/06/2006)