Mais de cinco mil pessoas estiveram reunidas terça-feira, 7, em São Gabriel (RS) para celebrar os 250 anos da morte de Sepé Tiarajú. Elas saíram em marcha do Parque Tradicionalista em direção a Sanga da Bica, local onde o líder indígena foi assassinado. Desde sábado, 4, os militantes relembram também os 1.500 indígenas Guarani mortos pelas tropas espanholas e portuguesas. O massacre ocorreu apenas três dias depois do assassinato de Sepé. Para Maurício Guarani, cacique da reserva indígena do Cantagalo, em Porto Alegre (RS), ir até o local em que seus antepassados foram massacrados é um fato muito triste também, porque a terra, que era dos Guaranis, foi tirada deles por ganância econômica dos europeus.
"Cortaram nossos galhos e nossos troncos, mas não conseguiram matar nossa luta", afirmou o kaiowá Anastácio Peralta. Para João Pedro Stédile, integrante da Direção Nacional do MST, "a dominação apenas se modernizou. No passado, vinha com canhões e à cavalo. Hoje, ela chega por meio da televisão e do dinheiro". Entre as atividades do fim-de-semana, ocorreram a reunião da Via Campesina, com mil camponeses e camponesas, o Acampamento da Juventude, organizado pela Consulta Popular, e a Assembléia Continental dos Povos Indígenas. Os povos quilombolas também participaram do encontro.
No encerramento, os indígenas redigiram uma carta com as reivindicações dos povos. A juventude terminou o seu acampamento com a formulação de um calendário de lutas. Após as manifestações das autoridades todos os participantes da marcha almoçaram um arroz a carreteiro feito para 5 mil pessoas, no local. Estavam presentes entre as autoridades o representante do Governo Federal, Júlio Quadros; da Câmara Federal, Adão Preto; da Assembléia Legislativa, Fabiano Pereira; da Prefeitura Municipal de São Gabriel, o secretário de Turismo, Edjor Borges e outras lideranças. O ex-governador do Estado, Olívio Dutra também estava presente, juntamente com o líder nacional do Movimento dos Sem Terra, João Pedro Stédile. O almoço foi realizado no mesmo local onde sábado passado foi feita a encenação da morte de Sepé Tiarajú.
A partir de agora São Gabriel aguarda a continuação do projeto elaborado para a Praça a Sepé, que contará com um monumento a Sepé, desenhado por Oscar Niemeyer; um museu; um anfi-teatro para 6 mil pessoas; uma área de alimentação e toda a estrutura voltada para o turismo. A Brigada Militar prestou toda a segurança, juntamente com a Polícia Rodoviária Federal, que controlou o trânsito desde o Parque Tradicionalista até o trevo de acesso à cidade. Os índios marcharam cantando músicas e fizeram um ritual no oratório inaugurado durante este primeiro evento. Mais de 130 ônibus transportaram as cerca de 5 mil pessoas entre indios, jovens, negros e sem terra, que participaram da Semana de Sepé.
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Jornal da Fronteira, 19/06/2007)