Proposta da Cool Earth que estaria comprando áreas de floresta amazônica para a preservação da região é questionado por entidade do norte do Mato Grosso
Nas últimas semanas, teve grande destaque a iniciativa da organização não-governamental britânica "Cool Earth" que estaria angariando fundos para a compra de lotes de território na Amazônia com o objetivo de diminuir a emissão de CO2 fruto do desmatamento da região. Segundo informações disponibilizadas pela própria entidade, esses lotes estariam localizados na região do Parque Estadual Cristalino I e II, no Mato Grosso, e o trabalho na região seria feito com a ajuda da ONG "Fauna and Flora International". Entidades que trabalham na região afirmam não ter conhecimento sobre a iniciativa e que, naquela região especificamente, não há como ocorrer compra ou venda de terrenos.
O Parque Estadual Cristalino é uma área de conservação e como tal não pode ser explorado comercialmente para quaisquer fins. Segundo informações do Instituto Centro de Vida (ICV), de Alta Floresta (MT), a parte sul do parque é formada por fazendas e assentamentos que forçaram o desmatamento até a beira do Cristalino. São áreas já desmatadas e não são consideradas áreas de floresta e por isso a sua compra ou venda não significaria qualquer possibilidade de preservação. Ao norte e no entorno da área, também se consideram escassas as possibilidades de compra de lotes para preservação, uma vez que a maior parte da região é sede de uma base da Força Aérea Brasileira.
Segundo o ICV de Alta Floresta, na região do Cristalino, as notícias da proposta da "Cool Earth" foram recebidas com surpresa e eles, assim como outras entidades do local estão procurando os intermediadores da ONG britânica no norte do Mato Grosso para conhecer detalhes de sua proposta de trabalho.
20 mil doaçõesNa última semana, agências de notícia do mundo inteiro citaram o sucesso do projeto da ONG britânica "Cool Earth" para ajudar a conter o desmatamento na Amazônia. A entidade pede doações a voluntários ingleses para a compra de terrenos na floresta amazônica com o fim de preservar sua biodiversidade natural. Segundo eles, cada meio acre preservado na região (cerca de dois mil metros quadrados de floresta) evitaria o despejo de cerca de 130 toneladas de gás carbônico na atmosfera. Na semana passada, a ONG anunciou que teria conseguido 20 mil doações.
Um voluntário pode colaborar com a compra de pelo menos meio acre ao preço de 45 libras, cerca de 170 reais. Segundo a ONG, cerca de 30% do total arrecadado será utilizado para a compra de terrenos, 10% na manutenção desses e o restante em apoio e atendimento às comunidades locais para que promovam a preservação da floresta. Segundo informações da BBC, a Cool Earth já seria "dona" ou responsável por cerca de dois mil hectares de terrenos no Brasil e seu objetivo é quadruplicar essa área no prazo de um ano. Nenhum dos intermediadores da compra de terrenos ou parceiros da "Cool Earth" no Brasil foram encontrados para falar a respeito.
(Por Mariane Gusan,
Amazonia.org.br, 18/06/2007)