(29214)
(13458)
(12648)
(10503)
(9080)
(5981)
(5047)
(4348)
(4172)
(3326)
(3249)
(2790)
(2388)
(2365)
parque marinho de abrolhos
2007-06-19
Ação na justiça provoca a anulação da Zona de Amortecimento do Parque de Abrolhos colocando em risco a região com a maior biodiversidade marinha do Atlântico Sul

Na semana posterior às comemorações do meio ambiente, a 7ª Vara da Justiça Federal em Brasília resolveu anular a portaria 39/2006 do Ibama, que estabelece a Zona de Amortecimento (ZA) do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos. A decisão foi motivada por ações da prefeitura de Nova Viçosa (BA) e de Caravelas (BA), que atualmente movem diversos processos contra as medidas de conservação na região, como a criação da Reserva Extrativista do Cassurubá. Com a decisão, publicada no dia 14 de junho, Abrolhos perde a sua zona de proteção, ficando vulnerável a atividades potencialmente causadoras de impacto ambiental.

A ZA foi estabelecida em 18 de maio de 2006, com a finalidade de garantir a proteção dos ecossistemas da região de Abrolhos, essenciais ao turismo ecológico e à pesca artesanal, que garantem o sustento de aproximadamente 100 mil pessoas. A medida prevê restrições a empreendimentos e ações que possam causar prejuízos ao meio ambiente no entorno do parque, como a exploração de petróleo e gás natural.

Para os limites da Zona de Amortecimento também foram considerados outros fatores, como a interdependência entre ecossistemas, razão pela qual a ZA abrange os manguezais da região, considerados berçários da vida marinha do Parque. Isso gerou oposições de alguns setores, como os empresários da carcinicultura, que pretendiam implantar mega-fazendas de criação de camarão na região coberta pela Zona.

Para Guilherme F. Dutra, Diretor do Programa Marinho da Conservação Internacional, esta oposição reflete um grande desconhecimento sobre o funcionamento dos ambientes marinhos: "o mar é um ambiente muito dinâmico devido a fatores como a influência de correntes e ventos, a existência de organismos que realizam seus ciclos de vida em áreas extensas e a interdependência com ecossistemas costeiros". Inúmeras espécies de peixes do Parque completam seu ciclo de vida em manguezais e áreas mais profundas. "Por isso, os 95.000 km2 da ZA, que parecem exagerados para os padrões terrestres, são apenas razoáveis para os padrões marinhos", complementa.

Apesar disso, a ZA sofre oposições desde sua criação. Em maio do ano passado, o senador João Batista Motta (PSDB/ES) elaborou o Projeto de Decreto Legislativo 328/06, que também pede a anulação da zona de proteção do Parque. O projeto contou com as assinaturas dos senadores Antônio Carlos Magalhães (PFL/BA), César Borges (PFL/BA), Magno Malta (PL/ES), Rodolpho Tourinho (PFL/BA) e Marcos Guerra (PSDB/ES).

Em matéria da revista Carta Capital, o Senador Motta foi acusado de agir em interesse próprio. Na ocasião, foi provado que ele e mais quatro familiares são sócios da Cooperativa de Criadores de Camarão do Extremo Sul da Bahia (Coopex), grupo que pretende instalar uma mega-fazenda de camarões nos manguezais e restingas do Complexo dos Abrolhos. Com a portaria, além das licenças ambientais estaduais, a instalação do projeto passou a depender também da avaliação do Ibama. O polêmico empreendimento seria beneficiado com a queda da ZA.

Marcello Lourenço, chefe do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, avalia a anulação da ZA como um grande retrocesso nas políticas sócio-ambientais da região dos Abrolhos. Segundo Lourenço, os limites da zona foram estabelecidos após anos de pesquisas e trabalhos técnicos de modelagem da dispersão de óleo em cenários de derramamento, simulados em função dos ventos e correntes predominantes na região. Além disso, desde 2004 o assunto é debatido com representantes dos governos federal, estadual e municipais, colônias de pesca, setor de turismo, organizações não-governamentais e pesquisadores, no Conselho Consultivo do Parque Nacional. "É importante observar que a decisão judicial questiona o instrumento legal que criou a zona de amortecimento – Portaria do IBAMA – concluindo que o instrumento jurídico adequado é um Decreto Presidencial ou uma Resolução do CONAMA. Não há questionamentos sobre o mérito técnico da zona de amortecimento nem sobre seus limites. Assim, trata-se apenas de uma questão administrativa: se as zonas de amortecimento devem ser criadas por Decreto ou Resolução, isso precisa ser corrigido rápido, para evitar que, com a ausência da proteção da ZA, se facilite a instalação de empreendimentos de alto impacto ambiental".

A anulação da zona de proteção de Abrolhos é mais uma medida que se soma a um panorama de decisões equivocadas sobre questões ambientais. Segundo Mário Mantovani, da Fundação SOS Mata Atlântica, "este realmente tem sido um ano de perdas para o meio ambiente. Não tivemos criação de nenhuma UC no dia do meio ambiente, apesar de haverem sete processos prontos para serem assinados pelo Presidente, só na região costeira e de Mata Atlântica da Bahia. Agora há mais uma agressão ao meio ambiente, com a derrubada da zona que protege a área com a maior biodiversidade marinha da parte sul do Oceânico Atlântico. Está aberta a temporada de caça aos Parques".

Os ambientalistas esperam que o governo federal se posicione e re-institua a Zona de Amortecimento de Abrolhos através de um instrumento legal cabível – o fundamental é garantir a proteção da região. Esperam, ainda, que as unidades de conservação propostas para o sul da Bahia sejam decretadas logo pelo presidente da república, em especial a Reserva Extrativista do Cassurubá, que está no centro dos conflitos que levaram à derrubada da ZA.

 

Informações adicionais

Zona de Amortecimento - Segundo a lei 9.985/00, que regulamenta o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), a zona de amortecimento abrange "o entorno de uma unidade de conservação, onde as atividades humanas estão sujeitas a normas e restrições específicas, com o propósito de minimizar os impactos negativos sobre a unidade".

Abrolhos: Com cerca de 56.000 km2 na costa sul da Bahia, a região dos Abrolhos compreende um mosaico de ambientes marinhos e costeiros margeados por remanescentes de Mata Atlântica, incluindo recifes de coral, fundos de algas, manguezais, praias e restingas. Lá podem ser encontradas várias espécies endêmicas (que só existem na região), incluindo o coral-cérebro, crustáceos e moluscos, além de tartarugas e mamíferos marinhos ameaçados, como as baleias jubarte.

A região tem a maior biodiversidade registrada no Atlântico Sul e foi declarada, em 2002, área de Extrema Importância Biológica pelo Ministério do Meio Ambiente. O primeiro Parque Nacional Marinho do Brasil foi criado justamente nessa região, em 1983, ao largo das ilhas que compõem o Arquipélago dos Abrolhos, onde se encontram algumas das mais importantes colônias de aves marinhas do país.

ZA de Abrolhos - A Zona de Amortecimento do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos vem sendo discutida pela sociedade civil e órgãos governamentais desde 2003, quando a Agência Nacional do Petróleo (ANP) ofereceu grandes áreas para a exploração de hidrocarbonetos na região. Nesse período, foram produzidos estudos que indicaram áreas ecologicamente sensíveis. Estes estudos envolveram especialistas de universidades brasileiras, do IBAMA e de organizações não-governamentais.

Além dos cenários de derramamento de óleo resultantes das simulações, foram considerados para a proposição dos limites da ZA: as características biológicas (evidências de conectividade biológica, abrangência dos principais habitats) e oceanográficas (geomorfologia e sistemas de correntes) da Região dos Abrolhos; a facilidade de reconhecimento dos limites marinhos propostos; e características sócio-econômicas da área, como a dinâmica da pesca e do turismo.

(SOS Abrolhos, 18/06/2007)

 

desmatamento da amazônia (2116) emissões de gases-estufa (1872) emissões de co2 (1815) impactos mudança climática (1528) chuvas e inundações (1498) biocombustíveis (1416) direitos indígenas (1373) amazônia (1365) terras indígenas (1245) código florestal (1033) transgênicos (911) petrobras (908) desmatamento (906) cop/unfccc (891) etanol (891) hidrelétrica de belo monte (884) sustentabilidade (863) plano climático (836) mst (801) indústria do cigarro (752) extinção de espécies (740) hidrelétricas do rio madeira (727) celulose e papel (725) seca e estiagem (724) vazamento de petróleo (684) raposa serra do sol (683) gestão dos recursos hídricos (678) aracruz/vcp/fibria (678) silvicultura (675) impactos de hidrelétricas (673) gestão de resíduos (673) contaminação com agrotóxicos (627) educação e sustentabilidade (594) abastecimento de água (593) geração de energia (567) cvrd (563) tratamento de esgoto (561) passivos da mineração (555) política ambiental brasil (552) assentamentos reforma agrária (552) trabalho escravo (549) mata atlântica (537) biodiesel (527) conservação da biodiversidade (525) dengue (513) reservas brasileiras de petróleo (512) regularização fundiária (511) rio dos sinos (487) PAC (487) política ambiental dos eua (475) influenza gripe (472) incêndios florestais (471) plano diretor de porto alegre (466) conflito fundiário (452) cana-de-açúcar (451) agricultura familiar (447) transposição do são francisco (445) mercado de carbono (441) amianto (440) projeto orla do guaíba (436) sustentabilidade e capitalismo (429) eucalipto no pampa (427) emissões veiculares (422) zoneamento silvicultura (419) crueldade com animais (415) protocolo de kyoto (412) saúde pública (410) fontes alternativas (406) terremotos (406) agrotóxicos (398) demarcação de terras (394) segurança alimentar (388) exploração de petróleo (388) pesca industrial (388) danos ambientais (381) adaptação à mudança climática (379) passivos dos biocombustíveis (378) sacolas e embalagens plásticas (368) passivos de hidrelétricas (359) eucalipto (359)
- AmbienteJá desde 2001 -