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2007-06-19
Vice-presidente da Federação das Organizações Indígenas do Negro (Foirn), André Baniwa diz que 'as pessoas têm que entender como os povos indígenas vêem o futuro, porque estamos no mesmo mundo, e tudo o que vocês fazem nos afeta na nossa comunidade.  Se o clima está desorganizado, isso interfere na piracema.  E sem pescado, a gente morre de fome.  As empresas não têm uma história com a gente, elas têm ligação com os governos.  Os povos indígenas não estão no primeiro plano, por isso não há diálogo', critica o índio.

Adriana Ramos, Adriana Ramos, coordenadora para Amazônia do Instituto Socioambiental (ISA), explica que na região são mais de 380 terras indígenas que representam 197 milhões de hectares, reunindo 99% das terras indígenas do Brasil e ocupando 22% da Amazônia brasileira.  Tudo isso para 170 povos indígenas que somam, em média, 270 mil pessoas.  'É um percentual pequeno, que detém grande extensão de terra.  Por isso, incidem em muitos conflitos'.

Baniwa relata uma prática que é muito comum.  'Em 1984, quando ainda não estávamos organizados, uma mineradora disse para o cacique que ia ter escola, saúde e mercadoria.  A comunidade aceita que as pessoas avancem e ainda carrega maquinário para elas.  Aí, vem o pensamento de enganar.  Nada daquilo era verdade.  Perdemos porque fomos enganados e perdemos porque não vemos a natureza apenas com o que podemos explorar dela, já que é dela que vivemos'.

Franklin Feder, presidente da Alcoa na América Latina, garante que no projeto de exploração de bauxita em Juruti, isso será diferente.  'Nossa meta é fazer o melhor projeto de bauxita do mundo ali, ao contrário dos projetos anteriores e absolutamente integrado com a sociedade.  Não existe muro, não existem alojamentos especiais para diretores e gerentes etc. Conviver em harmonia é o que queremos para os próximos 40, 80, 120 anos, que é o nosso horizonte de permanência em Juruti', diz.

Mas essa harmonia não será nada fácil de ser conquistada.  Afinal, o próprio Franklin menciona que Juruti tem 8 mil quilômetros quadrados, de 35 mil a 40 mil habitantes, a maioria com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) em 0,63, ou seja, abaixo da média da linha da pobreza.  'A renda per capita é abaixo dos R$ 50 por mês', revela, criticando o governo e a própria iniciativa privada como culpados por este quadro.

FALTA DINHEIRO

'É notório que faltam recursos e falta robustez das instituições que lá operam, e não vou apontar o dedo para governo municipal, estadual nem federal.  Começo com a iniciativa privada.  Lá, a fragilidade das instituições do setor público, privado e até de ONGs é algo que chama a atenção.  Sustentabilidade não se faz com isolamento, mas com parceria', defende.

Atento a todos os argumentos estava o ministro interino do Meio Ambiente.  'Estamos diante de um desafio e de uma responsabilidade.  É uma região característica para o Brasil, para o mundo, e é habitada por diferentes grupos humanos, com diferentes características e visões para o futuro', ressaltou João Paulo Capobianco, para quem a realidade não deve engessar iniciativas de mudança.

'A preocupação é quando olhamos para o diagnóstico atual como se fosse o nosso futuro.  A tendência é a imobilização, a visão de que veremos o futuro com mais destruição', diz o ministro, fazendo críticas a quem se opõe ao desenvolvimento da região.  'Ainda operamos na defensiva e temos a dificuldade em entender que o licenciamento ambiental não é instrumento de preservação, mas de desenvolvimento sustentável.  O fato das estradas terem gerado desmatamento antes não quer dizer que vão causar agora.  Se não repensarmos esse antagonismo que aconteceu no passado, esse diálogo não acontecerá.  O Brasil é um país que chegou ao terceiro milênio com mais de 60% da cobertura natural nativa.  Num País desse, a questão ambiental não é opção, mas obrigação, e as empresas passam a ter papel central, porque, depois de 500 anos, resolvemos assumir que temos floresta e que queremos mantê-las'.  (E.B.)

(O Liberal, 18/06/2007)



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