A ministra do Meio Ambiente enganou a morte quatro vezes para ser enterrada simbolicamente por militantes ecológicos. Os desenvolvimentistas a acusam de inimiga do progresso. Os ambientalistas, de traidora da causa. Afinal de contas, quem é ela? Uma matéria emocionante e intrigante mostra como essa mulher batalhadora se encontra numa situação bastante difícil no governo LulaMarina Silva foi desenganada pelos médicos quatro vezes. Na primeira delas, tinha 16 anos e ouviu um doutor do serviço público dizer para sua tia: "A alma dessa menina já está no inferno". Uma hepatite tratada como malária deixou a jovem prostrada na cama por um ano. Os remédios destruíram seu fígado. Para cuidar da saúde, Marina teve que abandonar o trabalho na extração de borracha em Seringal Bagaço e se mudar para a capital do Acre, a 70 quilômetros dali. Ao ouvir a profecia do médico, a garota irritou-se e disse: "Eu não morro de jeito nenhum".
Salvou-se. Três anos depois, contraiu nova hepatite. Daquela vez, a situação era mais grave. Teve que ser internada. Certo dia, do leito, ouviu uma conversa entre um médico e uma freira. "Ela tem cirrose e vai morrer", disse o doutor. "Vou morrer nada", respondeu Marina. Resolveu deixar o hospital e foi obrigada a assinar um termo de compromisso isentando os médicos de responsabilidade caso o pior acontecesse. De lá, Marina seguiu para a residência de dom Moacir Grecchi, então bispo da cidade, e contou que morreria, se não fizesse um tratamento em São Paulo. O bispo providenciou para que a menina de 19 anos fosse encaminhada ao hospital São Camilo, na zona oeste paulistana. Após longo período de cuidados médicos, curou-se.
Em 1991, durante o mandado de deputada estadual e depois de ter enfrentado novas hepatites e malárias, Marina Silva recebeu seu terceiro aviso de morte. Sentia na boca um gosto terrível, como se chupasse moedas. Sofria de dores insuportáveis. Era virada e revirada pelos médicos do hospital Albert Einstein, centro de referência de saúde em São Paulo, e nada se descobria. Depois de incontáveis exames, detectou-se a presença de metais pesados no seu organismo. No passado, quando havia tido leishmaniose - uma doença que deixou uma cicatriz no seu nariz -, Marina tomou remédios tóxicos, que eram amplamente receitados para os doentes pobres da sua cidade natal. A fatura pela imprudência médica começava a chegar. Ela sarou da leishmaniose, mas foi contaminada por mercúrio.
Marina passou um ano e oito meses deitada na cama da sogra, em Santos, no litoral paulista. No meio do calvário, descobriu-se esperando um bebê do marido, o técnico agrícola Fábio Vaz.
Aos oito meses de gravidez, pesava 47 quilos. Dos médicos, ouviu que talvez não sobrevivesse ao parto. Repetiu o mantra: "Não morro de jeito nenhum". A filha nasceu prematura e Marina ficou em tal estado de debilitação que mal conseguia manter-se de pé.
Três anos depois, no Senado, Marina Silva continuava com a saúde em frangalhos. Conseguia autorização especial para discursar sentada - o que é proibido pelo regimento interno da casa. Viajou para o Chile e os Estados Unidos para tratar da saúde. Não percebia nenhum sinal de melhora. Ao contrário, sentia-se até pior. Queixou-se a seu médico particular, Eduardo Gomes, de que nem mesmo a internação no Massachusetts Hospital havia melhorado seu estado. Ouviu, então, a seguinte frase: "A senhora não precisa de um médico. A senhora precisa de um milagre".
Em Belo Horizonte, no dia 23 de março de 2007, o caixão de Marina Silva percorreu algumas ruas da cidade num cortejo fúnebre promovido por ambientalistas. Tratava-se de uma encenação contra a transposição das águas do rio São Francisco. Em outros tempos, e tempos não tão distantes assim, essas mesmas pessoas seriam capazes de insultar quem emitisse uma palavra de desabono contra Marina. Mas isso mudou desde que ela se tornou ministra do Meio Ambiente do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Marina é uma das ambientalistas mais respeitadas no mundo. Em abril, foi homenageada pela Organização das Nações Unidas, ao lado do ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore, pelos seus préstimos realizados a favor do desenvolvimento sustentável. "Ela é o vetor de boa imagem internacional do Lula", diz Tião Viana (PT/AC), vice-presidente do Senado. Marina é o selo verde da presidência da República, uma espécie de ISO 14001.
A respeitável reputação internacional de Marina começou a ser construída em 1984, quando ao lado do líder seringueiro Chico Mendes fundou a Central Única dos Trabalhadores e empreendeu uma série de viagens ao coração da Amazônia. Marina sabia bem como viviam os seringueiros que trabalhavam no interior do Acre. Nas visitas, ensinava-os a resistir às expulsões, a tirar os recursos das árvores sem matá-las e a não ser roubados pelos latifundiários.
Na infância, ela aprendera as quatro operações básicas da matemática para não ser enganada pelos patrões - cabia a eles 17% do peso da borracha extraída e muitos deles, aproveitando-se da ignorância dos operários, tiravam mais de 40%. Quando Chico Mendes foi assassinado a mando desses fazendeiros, em dezembro de 1988, e as atenções da comunidade internacional voltaram-se para o Brasil, Marina Silva assumiu o posto de líder ambientalista da região.
Chico Mendes e Marina Silva conheceram-se no movimento político clandestino. Ela cursava história na Universidade Federal do Acre quando foi apresentada ao marxismo. Encantou-se com a cantilena da mais-valia e da exploração do proletariado e ingressou no Partido Revolucionário Comunista. Em 1985, ajudou na fundação do PT no estado e, três anos depois, elegeu-se vereadora de Rio Branco com votação recorde. Marina era uma espécie exótica na cidade. Extremamente magra, longos cabelos, voz esganiçada, discurso recheado de jargões socialistas. Uma novidade à época, conquistou uma parcela do eleitorado que gozava os primeiros anos da abertura democrática e estava enjoada dos políticos tradicionais. O Acre era uma terra de ninguém, dominada por tipos como Hildebrando Pascoal, que futuramente seria deputado federal e condenado a 65 anos de prisão por esquartejar seus rivais com motosserra.
Na Câmara Municipal, Marina aumentou sua lista de inimigos. Devolvia as gratificações destinadas aos parlamentares e ia a público exigir que os colegas fizessem o mesmo. Alguns empresários da cidade nutriam ódio por ela. Certa vez, durante uma greve geral promovida pela CUT, a moça comandou um grupo de sindicalistas que foi à porta de uma empresa de transportes para evitar que os ônibus deixassem as garagens. O dono da empresa disse que botaria os veículos na rua de qualquer jeito e convocou uma tropa de choque da Polícia Militar para protegê-lo na empreitada.
Naquela manhã, dois grupos se formaram. De um lado, os ônibus alinhados, tendo à frente policiais armados com cacetetes. Do outro, os sindicalistas, liderados pela vereadora.
O comandante da PM gritou, na direção de Marina: "Vou dar um passo à frente e se algo me acontecer, a culpa é da senhora". E deu o passo. Do outro lado, ela devolveu: "Eu também vou dar um passo à frente e se algo me acontecer, a culpa é do senhor". Andou meio metro. O dono da empresa, vendo aquele impasse, subiu num dos ônibus, girou a chave na ignição e avançou contra os policiais que, revoltados diante do atropelamento iminente, voltaram-se contra ele. Para usar um jargão socialista, naquele dia "opressores" e "oprimidos" se aliaram contra o grande capital, sob o comando de Marina.
A carreira política de Marina Silva teve ascensão meteórica. Logo ela seria eleita deputada estadual e, na seqüência, senadora. Quando aceitou o convite para comandar a pasta do Meio Ambiente, em 2003, contabilizava 15 anos de vida pública e uma dívida de gratidão para com o presidente Lula e o deputado federal José Genoino: foram os dois quem, na época em que seu corpo definhava por causa da contaminação de metais, conseguiram um tratamento para ela. Depois disso, Lula ganhou, de vez, a fidelidade de Marina.
Segundo observadores do Palácio do Planalto, só um tropeço pode atrapalhar os planos de Lula de fazer o sucessor: um apagão energético. O apagão aéreo atinge apenas brasileiros que usam o avião como meio de transporte e as pesquisas já mostraram que a crise não macula a popularidade do presidente. O racionamento de energia, ao contrário, seria uma tragédia. Sem energia, o governo não tem como cumprir a meta de crescimento de 5% ao ano prevista no Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC.
A aposta do governo federal para evitar esse acidente são as usinas hidrelétricas de Santo Antonio e Jirau, no rio Madeira, em Rondônia. Juntas, elas devem produzir 6 450 megawatts, o equivalente à metade da energia gerada por Itaipu. Para que operem a partir de 2011, as duas usinas precisam começar a ser construídas já no ano que vem. Mas estão paradas porque o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente), subordinado a Marina, ainda não concedeu licenciamento ambiental para as obras, sob a justificativa de que o impacto que as usinas podem provocar no ecossistema ainda não foram devidamente dimensionados.
De acordo com o Ibama, as hidrelétricas podem levar à extinção 463 espécies de peixe do rio Madeira. "Os alevinos e ovos que descem o rio não conseguiriam ultrapassar as represas", explica o cientista Bruce Forsberg, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia. Forsberg elaborou um relatório sobre as obras e afirma que não há estudos conclusivos a respeito da viabilidade das usinas. "Toda obra deste porte tem impacto ambiental. A questão é saber se os ganhos econômicos compensam esse impacto", diz. O presidente Lula já se mostrou irritado com as ressalvas ambientalistas. "Agora não pode por causa do bagre, jogaram o bagre no colo do presidente", disse, num encontro com assessores, referindo-se a um dos peixes ameaçados de extinção.
Outro aspecto apontado como um dos entraves à obra é muito caro à ministra Marina Silva. Trata-se da possibilidade do represamento do rio Madeira potencializar a contaminação por mercúrio na cadeia alimentar - há grandes quantidades do metal acumuladas nas águas do rio e dos seus afluentes.
A principal defensora da construção das usinas hidrelétricas é a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Marina e Dilma se detestam. Têm verdadeiro horror uma da outra. Quando se encontram, elas invariavelmente discutem. Numa reunião recente, a chefe da Casa Civil avisou, em tom nada amistoso: se as obras não forem liberadas imediatamente, o Brasil terá que comprar energia em 2012. Dilma acusa Marina de atravancar o desenvolvimento do país, dando guarida para ecologistas xiitas que se apegam a peixinhos e, desta forma, atrasam o progresso. Marina acha que, se dependesse da vontade de Dilma, as obras seriam tocadas à revelia dos danos ao meio ambiente.
Recentemente, num encontro com o presidente Lula, as duas discutiram feio. "Se não for hidrelétrica, vamos usar carvão. É isso o que você quer?", perguntou Dilma, ameaçando optar por uma forma de produção de energia extremamente poluente. Marina Silva acredita mais em energia gerada por usinas termelétricas, eólicas e solares, que não poluem e nem causam impacto ambiental. Não há uma única voz no governo que se levante a favor dela.
"Os equipamentos para gerar esse tipo de energia são extremamente caros", explica João Paulo Capobianco, secretário-executivo do ministério do Meio Ambiente. Nem os aliados históricos de Marina estão do seu lado. O senador Tião Viana, companheiro de Marina há mais de 20 anos, defende, por exemplo, a instalação de usinas nucleares. "A energia eólica e a solar são inviáveis a curto prazo. Não há um único país desenvolvido no mundo que as tenha implantado", diz Viana.
A cabeça de Marina Silva já esteve a prêmio várias vezes. De todos os lados, há pressões para que o presidente Lula demita a ministra e bote no seu lugar alguém que faça avançar as obras do Plano de Aceleração do Crescimento. Segundo se comenta nos corredores e cafezinhos de Brasília, Lula cogitou levar a idéia adiante, mas temeu a repercussão mundial. A presença dela tranqüiliza a comunidade internacional, ainda que ela não possa evitar tudo o que gostaria.
Por exemplo: a liberação do plantio dos transgênicos. Marina Silva é radicalmente contra o uso desses produtos na agricultura. "O gestor público não pode empreender uma atividade sem garantia de impacto ambiental. O comportamento dos transgênicos deixa dúvidas e, por isso, acreditamos que deveria prevalecer o princípio da precaução", afirma João Paulo Capobianco. Na audiência em que o presidente Lula autorizou os produtos transgênicos, Marina Silva não se conteve. Chorou diante de todos. Ao fim do evento, foi ao encontro dos pequenos agricultores, que protestavam ali perto. Abraçou-se a eles e chorou mais um pouco.
Brasília é uma cidade quente. Quentíssima, no verão. Mas, mesmo quando os termômetros das ruas inóspitas do Plano Piloto marcam mais de 300C, Marina Silva protege os ombros com um xale ou veste um terninho de tecido grosso. Nos corredores do ministério do Meio Ambiente, não se tem notícia de um único dia em que tenha surgido com os braços nus. O motivo de tantos panos não é a religião evangélica que a ministra abraçou no dia em que o médico disse que só um milagre salvaria sua vida. Simplesmente, Marina sente muito frio.
Marina não pinta o rosto. Amarra os cabelos num coque e fala manso, em português correto, mexendo as mãos e dando passos para a frente e para trás.
Seus poucos traços de vaidade estão nos colares ao estilo indígena, que ela própria confecciona, nos cachecóis com que se agasalha e nas unhas lixadas em formato redondo, um pouco compridas. Essas características singelas imprimem à ministra um tom monástico e certa vez ela foi confundida, no Senado, com uma freira. "Não sou, não. Tenho quatro filhos e conheço as delícias do matrimônio", respondeu.
Tornar-se freira foi sua primeira ambição profissional. Um dia, com 16 anos, contou ao pai sobre seus planos - a mãe havia morrido no ano anterior. O pai apontou um entrave - Marina não sabia ler e escrever e freiras eram senhoras instruídas. Quando se mudou para a cidade para cuidar da saúde, conseguiu um trabalho de empregada doméstica, inscreveu-se no Mobral e depois foi admitida no convento. Em quatro anos, passou da condição de analfabeta para a de universitária. Nesse meio tempo, conheceu o funcionário público Raimundo Souza e com ele o sexo. O projeto religioso foi abandonado.
Quando viajava para o interior do Acre em barcos precários, era uma rainha entre os marmanjos. Por causa da saúde frágil, Marina inspirava cuidados. "Separávamos a melhor rede e a melhor comida para ela", conta Jorge Viana, ex-governador do Acre. Há quem diga que não era bem assim. "A minha opinião era a de que a turma arrancava o couro dela. Mesmo doente, podia fazer chuva ou sol, Marina era solicitada para participar de todos os atos", diz o senador Sibá Machado (PT/AC), que a conheceu no começo da década de 80.
O casamento de Marina não resistiu às suas aventuras políticas. Separou-se com duas crianças a tiracolo e, na seqüência, uniu-se ao técnico agrícola Fábio Vaz, com quem teve mais dois filhos. O namoro dos dois era embalado pela música "Sorte", de Caetano Veloso, que diz: "Tudo de bom que você me fizer/Faz minha rima ficar mais rara/O que você faz me ajuda a cantar/Põe um sorriso na minha cara/Meu amor, você me dá sorte". Para Fábio, o romance, de fato, deu bastante sorte. Ele foi o único parente a quem Marina prestigiou com um cargo público, como chefe de gabinete do senador Sibá Machado, seu suplente.
Quando se elegeu vereadora, ela sofreu pressões familiares para conseguir sinecuras para sobrinhos e agregados. Até os adversários políticos exploravam o fato de que pessoas bem próximas a Marina viviam em casas muito pobres. Hoje, Fábio atua como assessor especial do governador do Acre, Binho Marques, do PT.
No Senado, Marina Silva tornou-se íntima de dois colegas: Eduardo Suplicy e Heloísa Helena. Ao contrário de Heloísa, alvo de um boato sobre um suposto romance proibido com o senador Luiz Estevão, Marina nunca foi vítima de fofocas. "Ela foi minha conselheira sentimental em alguns momentos", conta Suplicy. Foi Marina quem enxugou as lágrimas e deu conselhos para o senador recuperar-se da separação da atual ministra do Turismo, Marta Suplicy.
A vida de Marina Silva é espartana. Veste-se com simplicidade e durante anos manteve em seu apartamento a máquina de costura com a qual fazia suas roupas. O patrimônio da ministra resume-se a uma casa na periferia de Rio Branco. "Às vezes, temo que ela não se preocupe com a vida financeira, no futuro", diz uma amiga. Também não freqüenta a vida noturna da capital. Seus raros passeios são para assistir aos cultos da igreja evangélica Assembléia de Deus. Costuma se recolher ao seu apartamento para ler uma Bíblia confeccionada especialmente para ela, com letras imensas. A contaminação com metais pesados provocou distúrbios neurológicos e falhas na visão de Marina.
Na manhã do dia 16 de maio de 2007, em Brasília, Jonas Correa olhou para a ministra do Meio Ambiente e pensou, surpreso com o próprio estupor: "Pô, mas ela é a Marina".
A ministra do Meio Ambiente tomava café com os deputados da Frente Parlamentar Ambientalista da Câmara quando foi surpreendida por uma manifestação de servidores do Ibama contra o ministério. Jonas Correa, o presidente da entidade, era um deles.
Alguns dias antes, em 26 de abril, Marina havia conquistado novos inimigos: os servidores do Ibama, órgão que se transformou numa espécie de Satanás do lulismo por não ter concedido a licença para as usinas do rio Madeira. No auge da crise, uma medida provisória da Casa Civil transformou parte do Ibama no Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade com a explicação de que a "estrutura ambiental do governo federal não estava adaptada aos grandes temas".
Para os servidores, no entanto, a mudança é uma forma de burocratizar a instituição, torná-la um peso morto e, assim, criar uma situação que justifique a extinção. Para o lugar do Ibama, o governo criaria uma agência de licenciamento, órgão cuja única função seria carimbar as licenças para os grandes empreendimentos. "Os técnicos do Ibama não são uns ecoloucos que querem barrar o desenvolvimento. Não podemos autorizar projetos cujo impacto ambiental não esteja claro", diz Jonas Correa.
Os servidores querem atrair Marina Silva como aliada. Mas, publicamente, ela defende a medida provisória promulgada pela Casa Civil. "O sentimento é de que ela está do lado errado", afirma Jonas Correa. Marina está no meio do fogo cruzado. Perdeu o apoio dos ambientalistas e ganhou a antipatia dos desenvolvimentistas. Ela sabe que é preciso ceder, para evitar o que considera o pior. "Perco o pescoço, mas não perco o juízo", afirmou a ministra em entrevista ao jornal O Globo, numa releitura do ditado "Vão-se os anéis, ficam os dedos".
Até o motivo de orgulho de Marina Silva à frente do ministério gera controvérsias: o desmatamento da Amazônia. Nos últimos dois anos, os índices de devastação diminuíram 52%. Segundo o ministério do Meio Ambiente, isso evitou a emissão de 400 milhões de toneladas de gás carbônico no período. Mas os primeiros anos registram as maiores taxas de desmatamento desde 1990. Os assessores de Marina dizem que esse dado reflete as ações do final do governo Fernando Henrique Cardoso. Ainda que seja, o fato é que Marina Silva entrará para a história como a ministra cuja gestão registra algumas das mais desfavoráveis estatísticas da maior floresta do mundo.
Quando o médico de Rio Branco disse para a tia de Marina que a alma daquela menina já estava no inferno, é possível que ele tenha feito não exatamente uma grosseria, mas sim um exercício de futurologia.
Mas é bom que se lembre: Marina Silva conheceu o inferno outras vezes. E sobreviveu a ele.
(Por
Adriana Negreiros,
Revista Playboy, 18/06/2007)