O professor Aquilino Senra, do programa de Pós-Graduação em Engenharia Nuclear da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), afirmou hoje (18) que se o Brasil não entrar agora na geração nuclear com a retomada da construção da usina nuclear de Angra 3, terá que fazê-lo dentro de uma década, com custos muito maiores.
“Eu não tenho dúvidas de que se o Brasil não entrar agora na geração nuclear, daqui há cinco, 10 anos, terá que entrar.
Os países que transformaram suas economias o fizeram baseando sua matriz energética na matriz nuclear”, disse, ao participar de reunião pública promovida pela Eletronuclear para debater a construção da usina.
Ele citou como exemplo os Estados Unidos, que na década de 50 transformou sua matriz energética; o países europeus, nas décadas de 60 e 70 e os chamados tigres asiáticos, na década de 80, entre eles a Coréia do Sul. “A Coréia do Sul começou junto com o Brasil e hoje tem 18 usinas em operação e nós estamos com duas. Se não houver o projeto, (a conclusão de Angra 3) a tendência é que as equipes técnicas criadas no país nos últimos anos sejam desmobilizadas e o custo de mobilização no futuro vai ser elevado”.
Além da preservação das equipes técnicas nacionais geradas nos últimos anos, Senra também apontou os investimentos de cerca de US$ 750 milhões já feitos em equipamentos para a usina e a tecnologia de enriquecimento de urânio desenvolvida no país, que se perderão caso Angra 3 não seja concluída, como motivos para retomar a construção da usina.
“No caso de não se ter Angra 3, não se justifica a produção do enriquecimento de urânio e se perderia um investimento feito ao longo de quase uma década. Não havendo a necessidade de abastecimento das usinas não haveria nenhuma outra aplicação que não fosse a bélica para o urânio, coisa que a própria constituição brasileira impede”.
O pesquisador reconhece que os rejeitos produzidos pelas usinas nucleares sempre foram o “calcanhar de Aquiles” da geração nuclear, mas destacou que muitos avanços tecnológicos ocorreram desde a década de 80, quando foram freadas as instalações de usinas em todo o mundo, inclusive a de Angra 3, depois do acidente nuclear de Chernobyl.
Segundo ele, pesquisas atuais estão avançando no sentido de minimizar o problema representado pelo tempo de duração dos rejeitos radioativos, que podem se estender por até 10 mil anos. ”Existem hoje 440 usinas gerando rejeitos no mundo e o armazenamento desses rejeitos de uma forma definitiva ainda não tem solução em nível mundial. É um problema ético produzirmos a energia e termos que armazenar os rejeitos para gerações que estão muito à frente. O que o setor nuclear fez ao longo dos últimos anos foi desenvolver uma tecnologia para reduzir para 300 anos a vida útil desses rejeitos. Com isso o processo de armazenamento fica dentro num patamar mais exequível’, disse Senra.
De acordo com o pesquisador, França, Japão e Estados Unidos estão desenvolvendo reatores com essa tecnologia, que no futuro poderia vir a ser utilizada também no Brasil.
A reunião pública promovida hoje pela Eletrobrás na UFRJ foi a décima quinta realizada pela empresa para disseminar informações sobre a retomada da construção de Angra 3 e apresentar o relatório de impacto ambiental da usina, que está sendo apreciado no Ministério do Meio Ambiente.
Os encontros foram uma preparação para as três audiências públicas oficiais que serão realizadas de amanhã até quinta-feira por determinação do ministério junto às comunidades de Parati, Rio Claro e Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, onde já funcionam as usinas de Angra 1 e Angra 2.
As audiências com a participação da população são uma das etapas necessárias para que o Ibama decida se vai conceder ou não o licenciamento ambiental para a retomada da construção da usina, suspensa há mais de 20 anos.
(Por Adriana Brendler,
Agência Brasil, 18/06/2007)