A glicose é o principal carboidrato produzido durante a fotossíntese e uma fonte primária de energia para a maioria dos seres vivos e para o corpo humano. E, por causa de sua onipresença, é um dos principais candidatos a substituto do petróleo como fonte abundante de combustíveis, plásticos e outros produtos.
Infelizmente, tornar esse discurso realidade ainda é um processo difícil. Usar catalisadores ácidos para transformar o carboidrato em um bloco básico de construção para plásticos também produz uma enorme quantidade de impurezas (como ácido levulínico e ácido fórmico). Mas agora, químicos do Pacific Northwest National Laboratory (PNNL), em Richland, no estado de Washington, EUA, criaram uma maneira eficiente e limpa de transformar carboidratos em plásticos.
O químico Conrad Zhang e sua equipe do PNNL testaram vários catalisadores de metais – compostos que aceleram reações químicas – em sua busca por um método eficiente de transformar a glicose e outros açúcares em
hidroximetilfurfural (HMF), uma molécula que pode ser facilmente manipulada em uma variedade de plásticos e químicos.
“Como a glicose pode ser derivada diretamente da celulose e amido, é o bloco de construção de carboidrato mais abundante da Natureza”, afirma Zhang. “A HMF de carboidratos renováveis, como frutose e glicose, é uma plataforma química versátil a partir da qual centenas de outros químicos podem ser produzidos.”
Os químicos contam na revista Science como usaram cloretos de metais – cromo, cobre e outros metais com um ou mais átomos de cloro – para transformar 70% de glicose e quase 90% de frutose em HMF. Eles afirmam que o cloreto de cromo (CrCl2) funcionou melhor, aparentemente por impulsionar a habilidade de uma molécula de carboidrato de se desdobrar e alterar átomos em sua estrutura à medida que muda de forma, apesar do mecanismo exato ainda permanecer desconhecido, diz Zhang.
A pesquisa poderia se tornar a base de um processo que transforma biomassa como árvores, a haste dos pés de milho e algas em matéria-prima para produtos químicos, plásticos e combustíveis a quase 100ºC, bem menos que os 600º C necessários para refinar o petróleo, ou as altas temperaturas (assim como pressão) que o petróleo suporta ao se formar naturalmente. “Vários passos, incluindo o processo de desenvolvimento e otimização, devem acontecer antes de uma comercialização em larga escala”, ressalta Zhang, “Isso pode levar vários anos”.
Ao final das contas, o plástico do garfo que usamos em um churrasco pode ter uma base diretamente vegetal, assim como o carvão na grelha e o avental de poliéster do churrasqueiro. “A utilização direta da biomassa celulósica para a produção de químicos e combustíveis é um objetivo desafiador”, completa Zhang, “Nossos resultados visam um processo potencial para a produção de HMF a partir das fontes renováveis mais abundantes”.
(Por David Biello, UOL, 18/06/2007)