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biocombustíveis
2007-06-18
Até o final do ano, cerca de 205 mil agricultores familiares brasileiros estarão envolvidos na produção de matérias-primas para biodiesel em uma área de 600 mil hectares em todo o país. A expectativa é de que a atividade movimente aproximadamente R$ 350 milhões, o que deve contribuir para a dinamização da economia de pequenos municípios. Na Serra, a Oleoplan, instalada em Veranópolis, já deu largada à produção do diesel vegetal, gerando empregos e incremento na renda de produtores.

Veranópolis - Há oito anos, o produtor rural e caminhoneiro Alceu Tura, 58 anos, decidiu arriscar-se no cultivo da soja em parte dos 40 hectares de terra que possui na comunidade de Nossa Senhora do Pedancino.

Na época, o maior estímulo era a certeza de compra da produção pela Oleoplan, fabricante de óleos vegetais instalada na cidade. A iniciativa deu certo e, durante o verão, toda a área foi reservada para a cultura.

Este ano, Tura já experimenta o plantio de canola. Novamente, o incentivo vem da usina, uma das quatro instaladas no Rio Grande do Sul que estão dando início ao processamento de biodiesel neste ano. O grão será cultivado em 50 hectares da cidade.

Isso porque, além de Tura, outros quatro produtores de Veranópolis iniciaram neste inverno o plantio da canola. Na sua propriedade, a canola será cultivada em apenas cinco hectares. As sementes, a assistência técnica e a garantia de compra da produção são da Oleoplan. Como o cultivo da planta ainda é novidade na região, a maioria dos agricultores mostra cautela. Nos 35 hectares restantes, Tura plantará milho e trigo, vendidos para a Companhia Estadual de Silos e Armazéns (Cesa).

- Tenho medo de arriscar e não dar certo. Vou entrar devagarinho para ver o que dá - pondera o agricultor.

Para efeito de cálculo, caso todos os 40 hectares do produtor fossem cultivados com trigo, com preço em torno de R$ 25 por saco, a renda a ser obtida com a produção seria de R$ 45 mil. Porém, se a terra fosse semeada com canola, a receita subiria 81,3%, passando para R$ 81,6 mil. A conta leva em consideração a maior produtividade média por área da canola (60 sacos por hectare, contra 45 de produção de trigo) e ainda o seu maior valor de mercado.

Hoje, a Oleoplan estabelece um preço mínimo de R$ 35 por saco acertado por contrato com o produtor. Caso o preço do produto aumente, a empresa paga o correspondente oferecido no mercado na época da colheita.

- Com a fabricação do biodiesel no país haverá maior procura do que oferta por esses grãos. Vai ter falta de matéria-prima no mercado e isso gera estabilidade de preços e melhora da renda do produtor - avalia o secretário municipal da Agricultura, Moacir Massarollo.

Como exemplo, enquanto no ano passado o preço do saco de soja oscilou entre US$ 7 e US$ 8, neste ano o valor gira entre US$ 15 e US$ 18.

- Certamente a produção de biodiesel vai estimular a expansão desses cultivos. Mesmo não sendo significativa a produção de grãos no município, esta não deixa de ser uma boa alternativa para os agricultores - acredita Massarollo.

Fabricante de biodiesel também traz oportunidade de emprego para região de Veranópolis

Além da fabricação de biodiesel, outro efeito positivo que a Oleopan está proporcionando na região é a geração de empregos em áreas técnicas. Para ocupar as 162 vagas a serem abertas entre janeiro deste ano e o final de 2008 serão contratados funcionários com nível superior das áreas de engenharia, química e biologia e agronomia captados, de preferência, em Veranópolis.

Uma dessas vagas foi ocupada por Diego Grandi, 22 anos, que deve concluir no dia 3 de outubro o curso de Engenharia de Materiais. Apesar de ter escolhido essa profissão de olho em uma vaga nas indústrias metalúrgicas instaladas no município, Diego se diz satisfeito com o novo emprego.

- O equipamento e a tecnologia foram desenvolvidos dentro da própria empresa e pude acompanhar todo esse processo. A usina só tende a crescer, então a oportunidade para desenvolvimento profissional cresce junto - avalia.

Além do trabalho na usina, a empresa contratou um corpo de técnicos e agrônomos para trabalhar no fomento de novas culturas pelos agricultores da região. Além de soja e de canola, a empresa manterá projetos de incentivo ao plantio de mamona, girassol e pretende retomar o cultivo de tungue, que teve seu auge na década de 1960.

Para o secretário de Indústria, Comércio e Turismo de Veranópolis, Luciano Zanella, o incentivo à produção de matérias-primas alternativas à soja deverá movimentar a agricultura familiar não apenas no município, mas em todo o Norte e Nordeste gaúcho. Hoje a empresa é uma das maiores compradoras de soja do Estado.

- A Oleoplan eqüivalerá a 50% da geração de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) do município. Para nós, além do equilíbrio fiscal, a empresa é fundamental para a geração de empregos, principalmente técnicos, e para a geração de renda extra em relação a agricultura - informa Zanella.

Cenário nacional
- No Brasil, existem 27 usinas de biodiesel autorizadas a funcionar pela ANP
- 47 estão em processo de autorização

- Hoje, 10% do diesel consumido no Brasil é importado. O biodiesel terá impacto na balança comercial brasileira por permitir a redução da importação de óleo diesel. O uso comercial do B2 (mistura de 2% do biodiesel ao diesel) cria um mercado potencial para a comercialização de 800 milhões de litros de biodiesel/ano, o que representa uma economia anual da ordem de US$ 160 milhões na importação de diesel

- No Brasil, a mistura B2 já está disponível em pelo menos 2.278 postos, desde o final de 2005

- O ministério do Desenvolvimento Agrário estabelece como expectativa para o final de 2007 a inserção de, pelo menos, 205 mil agricultores familiares envolvidos na produção de matérias-primas para biodiesel em uma área de 600 mil hectares no Brasil. A expectativa é de movimentar R$ 350 milhões, contribuindo para a dinamização da economia de pequenos municípios

Diversificação de matérias-primas

Por meio de processos químicos, o biodiesel pode ser produzido a partir de diversas matérias-primas. Desde o óleo extraído de plantas oleagionosas como a canola, soja, gergelim, girassol, assim como de sebo animal ou mesmo de óleos residuais de frituras.

A produção de biodiesel vegetal ainda é a alternativa mais viável no mercado. No país, a diversidade de produção de matérias-primas se justifica pelas características de adaptação de cada cultura.

No Semi-Árido nordestino, a mamona tem apresentado melhor resultados pelo alto teor de óleo e por ser adaptada às condições de solo e clima.

O dendê tem se destacado na região Norte do país. Já no Sul do Brasil, a cultura da soja está disseminada, podendo ser alternada com a canola e o girassol, que podem ter produção escalonada, uma vez que possuem períodos diferentes de safra.


Viabilidade em estudo

No ano passado, o Brasil consumiu 40 bilhões de diesel e o Rio Grande do Sul, 3,2 bilhões. No Estado, a demanda criada pela adição de 2% de biodiesel, determinada a partir de 2008, criaria um mercado de 64 milhões de litros anuais. Elevando esse percentual para 5%, o consumo saltaria para 160 milhões de litros. Segundo David Turik Chazan, que já coordenou o Programa Gaúcho de Biodiesel, a escala da adição do diesel vegetal deve chegar a 20% nos próximos anos. No país, isso representaria uma produção anual de 8 bilhões de litros e, no Estado, de 640 milhões de litros.

São esses números que embasaram os investimentos milionários feito pelas quatro usinas instaladas no Rio Grande do Sul. A oportunidade de ganhos também se estende aos produtores rurais. Segundo cálculos feitos pelo Programa de Bioenergia da Emater, o Estado dispõe de cerca de 4,5 milhões de hectares, que durante o verão são ocupados com lavouras de soja e milho.

Durante o inverno, essa área ociosa pode ser ocupada pela canola.

- É uma alternativa interessante porque dispomos de solo, maquinário e indústria compradora. Esse é o grande detalhe gerado com o advento do biodiesel. O produtor agora tem a oportunidade de diversificar as atividades agrícolas, gerando estabilidade na sua propriedade - enfatiza o coordenador do Programa de Bioenergia, Alencar Rugeri.

Contraditoriamente, a Oleoplan, de Veranópolis, primeira usina de biodiesel a operar no Estado, não vem produzindo de forma contínua por falta de mercado. Segundo o presidente da empresa, Irineu Boff, o preço do combustível vegetal está 35% maior do que o do diesel de petróleo.

- Excetuando as vendas em leilões para a Petrobras, as fábricas que passam a operar agora dependem do mercado livre para colocar seu produto, o que não está ocorrendo por falta de preços competitivos - explica Boff.

Como se faz
PLANTIO
O agricultor planta soja, mamona, girassol, canola e outras sementes usadas para a produção de biodiesel. Após a colheira, o grão é enviado para as usinas.

PRODUÇÃO
Nas usinas, esses grãos são esmagados para a extração de óleo.

TRANSFORMAÇÃO
O óleo passa por um processo chamado de transesterificação, ou seja, a transformação do óleo em éster (nome químico do biodiesel).

COMPRA E VENDA
A usina venderá o biodiesel para as distribuidoras, que vão fazer a mistura na proporção de 2%, que passa a ser obrigatória em 2008. Ou podem vender diretamente a frotistas (empresas de ônibus ou de transportes) e para as refinarias, também autorizadas a fazer a mistura.

CONSUMO
O biodiesel é distribuído para postos de combustíveis, para ser usado
por veículos como caminhões e ônibus.

(Pioneiro, 18/06/2007)

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