MÉDICO APONTA FALHAS NO RELATÓRIO DA SHELL EM PAULÍNIA
2001-11-09
O médico contratado pela Prefeitura de Paulínia, Igor Vassilieff, apontou hoje falhas nos resultados das análises laboratoriais apresentadas pela Shell Brasil, que descartam a possibilidade de contaminação nos moradores do bairro Recanto dos Pássaros. Segundo Vassilieff, o resultado das análises apresentadas pela multinacional, os valores de três metais analisados -Cromo, Vanádio e Arsênico- são idênticos no organismo das 165 pessoas avaliadas pela empresa. -Não é possível encontrar valores iguais para 165 pessoas diferentes. Se isso ocorreu, alguma coisa está errada, afirmou Vassilieff, durante o debate de toxicologia promovido pela Sociedade Brasileira de Toxicologia. Vassilieff, que é presidente da Sociedade Brasileira de Toxicologia, afirmou que, nos exames patrocinados pela prefeitura, a quantidade de arsênico encontrada em 94 moradores do bairro não coincidiu. Além de valores idênticos, Vassilieff disse que a Shell ignorou valores de concentrações altos. Segundo o toxicologista, a Shell encontrou 5 microgramas/decilitro para arsênico. Para ele, o valor máximo aceitável para afastar a possibilidade de contaminação é de 0,4 micrograma por decilitro. A Prefeitura de Paulínia pagou o Ceatox (Centro de Análises Toxicológicas) da Unesp (Universidade Estadual Paulista), de Botucatu (SP) para analisar amostras de sangue de 181 moradores. A Shell negou que existissem falhas em suas análises. A empresa patrocinou exames no laboratório ABC para avaliar a presença de chumbo, cromo, vanádio, cádmio, manganês, alumínio, ferro e cobre no organismo das pessoas. A empresa também investigou, por meio do laboratório Fleury, os organoclorados Endrin, Dieldrin e Heptaclor. Para a toxicologista da PUC-Campinas, Silvia Cazenave, não é possível encontrar valores iguais para pessoas diferentes. -Eu não li o relatório da Shell, mas encontrar valores idênticos em pessoas de sexo, idade, peso e suscetibilidades diferentes é, no mínimo estranho, disse Silvia. Para o toxicologista da Unicamp, Eduardo De Capitani, é possível encontrar um valor igual, pois ele pode significar o valor máximo de detecção do equipamento usado pelo laboratório. Shell O médico toxicologista contratado pela Shell Brasil Flávio Zambrone descartou hoje qualquer possibilidade de erro nas análises laboratoriais apresentadas pela multinacional. De acordo com Zambrone, os valores encontrados nas 165 análises laboratoriais realizadas para arsênico, vanádio e cromo são extremamente baixos e não oferecem risco à saúde dos moradores do bairro Recanto dos Pássaros. Zambrone afirmou que a igualdade de valores dispostas no relatório da Shell entregue à Prefeitura de Paulínia se deve ao limite de quantificação. -Esse 5 microgramas por decilitro foi o pico máximo que o equipamento consegiu quantificar, afirmou. De acordo com o toxicologista, pode haver valor abaixo do quantificado para os metais no organismo das pessoas, mas que o equipamento não consegue medir. O toxicologista contratado pela Shell voltou a criticar o relatório de saúde elaborado pela Prefeitura de Paulínia e sugeriu uma comparação no resultado dos exames das 30 pessoas que fizeram o exame com a Shell e também com a prefeitura. (Agência Folha)