Para serem ouvidos na revisão do Plano Diretor, líderes comunitários e arquitetos adotaram uma curiosa estratégia: calaram-se. Como forma de criticar a sessão, mais de 30 entidades, como o Instituto dos Arquitetos do Brasil (IA e associações de moradores, boicotaram a audiência pública que discutiu no sábado as propostas de mudança. O texto aprovado agora será enviado à Câmara de Vereadores, para onde se transferirá também a polêmica sobre o futuro da construção civil na Capital.
O protesto transformou o evento em uma sessão tranqüila. Textos que reduziram as restrições a novas construções costumavam ter o voto contrário de menos de cinco participantes num universo de centenas de pessoas.
Apesar do predomínio de trabalhadores e empresários da construção civil na platéia, a audiência não escapou de momentos de tensão. Em uma única participação dos manifestantes, o presidente do IAB no Estado, Iran Rosa, leu um libelo de duas páginas para justificar as ausências. Ele afirmou que benefícios de entidades, como o transporte ao ginásio da Brigada Militar, distorceu o debate. Ainda insinuou, sob vaias, que o público desconhecia os temas que acabara de votar.
O secretário-geral do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de Porto Alegre, Valter Souza, reconheceu que a instituição transportou associados e parentes, mas ressalvou que promoveu discussões em canteiros de obras para informá-los sobre o debate.
A estratégia deu resultado. O encontro derrubou a proposta para proibir o fechamento das sacadas e reduziu a fatia do terreno reservada para uma área com vegetação - o índice variava de 12,5% a 20% e caiu para 10%. Os participantes também aprovaram uma sugestão menos rigorosa do que a original na redução da altura máxima das novas construções em bairros centrais. Pela proposta, prédios com 27 e 33 metros ainda vão predominar na região, mas o texto ampliou a autorização para mais áreas receberem edificações de 45 e 52 metros. "A medida beneficia pequenos e médios construtores" analisou o diretor técnico do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon-RS), Antônio Zago.
As decisões sobre os temas mais controversosALTURA DOS PRÉDIOS
Os prédios poderão atingir 27 ou 33 metros de altura na maior parte das quadras dos bairros centrais, conforme o Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon-RS). Hoje, 80% dessas áreas permitem prédios de 52 metros, segundo estimativa da prefeitura
ÁREA LIVRE
Os empreendedores terão de reservar 10% do terreno para uma área livre, permeável e vegetada - a prefeitura defende 12,5% a 20% do total. O afastamento do prédio em relação ao limite do terreno deve variar o equivalente entre 18% e 25% da altura. Hoje, o Plano Diretor prevê 18% para todos os imóveis
SACADAS
Poderão ter até 20% da área adensável do apartamento - de maneira geral, em um imóvel de cem metros quadrados, por exemplo, o dono terá autorização para construir uma sacada de 20 metros quadrados. Não haverá impedimento para o fechamento das sacadas, o que já ocorre hoje.
ESTUDOS DE IMPACTO DA VIZINHANÇA (EIV)
Grandes empreendimentos, como shoppings e hotéis, precisam passar por estudos de impacto. Para compensar os efeitos negativos, terão a obrigação de oferecer contrapartidas.
INTERESSE CULTURAL
Porto Alegre terá mais de cem áreas de interesse cultural, espaços com restrições para a construção. Hoje, a Capital conta com cerca de 80 locais como esse.
Qual o valor da audiência?O resultado da audiência pública tem apenas valor consultivo. Só servirá para subsidiar o projeto que o prefeito José Fogaça planeja encaminhar aos vereadores até 1º de agosto na tentativa de vê-lo aprovado antes de 2008, ano de eleições municipais. É na Câmara que as mudanças serão, de fato, confirmadas ou não.
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ZH, 18/06/2007)