Ao se percorrer os 134 quilômetros da BR-160 que separam as cidades baianas de Bom Jesus da Lapa e Ibotirama, gasta-se mais tempo que se deveria. O trajeto poderia ser feito em cerca de uma hora, mas os buracos na pista fazem a viagem durar mais de três horas.
À beira da estrada, estabelecimentos comerciais e casas simples. Nos quintais, pequenas criações de bode e cabra. Ao fundo da paisagem, a espinhosa caatinga.
Conforme se avança no caminho, a vegetação começa a ganhar cor. O verde de alguns pastos aos poucos se transforma em lavouras de milho e feijão de corda. Algumas, cultivadas em regiões que até março e abril estavam alagadas pelo cheia do Rio São Francisco.
Na cidade de Ibotirama, às margens do rio, os irmãos pescadores Alcides Alves Rodrigues, de 67 anos, e Alceno Alves Rodrigues, de 71, esperam a visita do ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima.
Eles querem saber quais mudanças as obras de transposição do rio podem acarretar em suas vidas. Temem que o número de peixes, que vem diminuindo paulatinamente nos últimos anos, acabe de uma vez.
“Hoje não é natureza quem manda no rio, é o homem”, diz Alcides. “Hoje o povo está querendo saber mais do que Deus”, completa Alceno.
Quinta-feira (14/06), o ministro esteve no local para conhecer um pequeno porto privado, marco inicial das obras de duas hidrovias que totalizam 1,3 mil quilômetros.
Na construção da primeira delas, descendo o São Francisco, serão revitalizados 607 quilômetros, de Ibotirama a Juazeiro. Na outra, entre Ibotirama e Pirapora (MG), os 734 restantes.
Segundo Geddel, em ambos os trechos serão feitas obras de desassoreamento (retirada de sedimentos do fundo do rio); desrocamento (retirada de rochas) e recuperação das margens.
“Aqui em Ibotirama, já temos um viveiro com 250 mil plantas. São espécies nativas que estamos começando a plantar nas margens, recompondo as matas ciliares e evitando os pontos de assoreamento”.
O diretor de Revitalização de Bacias da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco, Jonas Paulo, informou que atualmente são transportadas cerca de 750 toneladas no trecho de Ibotirama a Juazeiro.
“Com as obras, grandes embarcações poderão carregar até cinco mil toneladas, disse ele, que também esteve em Ibotirama. O orçamento para as obras da hidrovia, previstas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), somam R$ 100 milhões.
Segundo ele, a revitalização de hidrovias no São Francisco tem como objetivo aumentar a capacidade de escoamento da produção de soja, milho e algodão produzidos no Oeste da Bahia e reduzir o tempo do percurso, já que hoje bancos de areia atrapalham a navegabilidade do rio.
Enquanto o ministro percorre o porto de barco, os irmãos Alcides e Alceno observam a visita da margem do rio. E dizem concordar que educação ambiental e fiscalização devem atuar juntas para preservar a vida do São Francisco. “Muitos insistem em pescar na piracema, e um peixe que ia dar mil, morre de uma vez”.
(Por Isabela Vieira, Agência Brasil, 15/06/2007)