O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apresentou na sexta-feira (15/06) os resultados preliminares da primeira expedição sul-americana organizada para definir, de forma precisa, onde o Rio Amazonas nasce. Os estudos mostraram que a nascente do rio deve estar localizada entre dois pontos, numa região ao sul do Peru e não ao norte, como antes definido. As estimativas indicam que o Amazonas teria pelo menos 6,7 mil quilômetros de extensão, superando o Rio Nilo, na África, considerado o maior do mundo.
Segundo o diretor de Geociências do IBGE, Guido Gelli , a nascente fica na Cordilheira dos Andes a 5 mil metros de altitude, e estaria localizada numa região desértica, mais seca que o próprio Saara e com temperaturas próximas a 15 graus negativos nesta época do ano. O local é habitado por descentes de índios incas.
Para a jornalista Paula Saldanha, que acompanhou a expedição, a área descoberta é fascinante. "A altitude provocou problemas na equipe, já que nós estávamos quase na metade da altitude terrestre, com muito pouco oxigênio. Mas a sensação que se tem naquele lugar é incrível. Primeiro você acha que está na lua, porque é uma região muito seca e quando se chega ao setor da nascente, a sensação é de um oásis, sai água para tudo quanto é lado", disse.
Participaram da expedição 20 brasileiros e peruanos. O trabalho de campo durou dez dias e foi realizado no final de maio. Os estudos indicam uma posição mais precisa do local, que ficaria na Cordilheira dos Andes, possivelmente próxima ao Nevado Mismi ou Queuisha, e não no monte Huagra, mais ao norte do país.
Guido Gelli informou que as expedições irão continuar para a descoberta do ponto exato da nascente. Ele disse, no entanto, que só as informações desta primeira expedição já permitem dizer "com certeza que o Rio Amazonas é de maior extensão do mundo, o que deve mudar inclusive as informações que nós aprendemos nos livros de história".
A evolução de equipamentos teria ajudado na descoberta. "Antes nós tínhamos de andar no lombo de burro durante dias para acessar o local. Os equipamentos agora são portáteis e muito mais modernos. E as imagens de satélite sofisticadas nos permitem verificar com mais precisão altitude e longitude daqueles pontos".
Para o engenheiro cartógrafo do IBGE Carlos Alberto Corrêa e Castro, estudar o Rio Amazonas é extremamente importante. O rio já é reconhecido como o que possui o maior volume de água do mundo, correspondendo a 60 vezes o do Nilo e responsável por um quinto da água doce que deságua nos oceanos. O Amazonas, que deságua entre o Amapá e a Ilha de Marajó, seria um dos mais importantes do mundo em termos de diversidade.
"Ele nasce a mais de 5 mil metros de altura entre desertos, desce e atravessa uma das regiões mais úmidas do mundo, a amazônica. E ainda nasce uma localidade com a mesma latitude de Brasília, que está numa altitude cinco vezes menor", disse.
(Por Aline Beckstein, Agência Brasil, 15/06/2007)