As graves conseqüências da desertificação causada pela ação humana colocam mais de 1,2 bilhão de pessoas em 100 países em risco, situação que fez com que a ONU soasse o alarme no Dia Mundial da Luta contra a Desertificação, que se comemorou no domingo (17/06). Este ano, a ONU escolheu como tema "A desertificação e a mudança climática: um desafio mundial", com o qual lembra que os dois problemas "interagem em diversos níveis" e ameaçam a capacidade para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio até 2015.
Devido ao aquecimento global, espera-se que a quantidade de fenômenos meteorológicos extremos, como secas e chuvas intensas, continue aumentando, com um efeito grave em solos já danificados, afirma o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, em mensagem divulgada. A tendência "piorará a desertificação e aumentará a prevalência da pobreza, a migração forçada e a vulnerabilidade perante os conflitos nas regiões afetadas", diz Ban.
Todas as agências da ONU e os Governos de vários países admitem o retrocesso do desmatamento, das terras cultiváveis e das florestas, assim como a carência de água, problemas que já geraram mais pobreza, o avanço dos desertos e um número cada vez maior de refugiados por causa da fome. Em março, o secretário-executivo da Convenção da ONU Contra a Desertificação, Hama Arba Diallo, afirmou que este processo é um problema cujas conseqüências têm escala planetária.
Além disso, o representante da ONU lembrou a meta mundial de reduzir a pobreza à metade até 2015, um dos Objetivos do Milênio, mas acrescentou que este propósito mal poderá ser cumprido "caso não se tomem medidas para abordar a conservação do principal instrumento de vida que os países em desenvolvimento têm, que é a terra". Por continentes, a África Subsaariana é a região "com o maior índice de desertificação do mundo", fenômeno que atinge ainda 25% da América Latina e do Caribe, entre outros lugares, segundo a FAO - Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação.
Estima-se que até 2020 cerca de 135 milhões de pessoas correrão risco de serem obrigados a abandonar suas terras devido à contínua desertificação, e destas, 60 milhões serão da África Subsaariana. Já na Ásia, com 1,7 bilhão de hectares de terra árida, semi-árida e semi-úmida, as regiões prejudicadas incluem desertos crescentes na China, Índia, Irã, Mongólia e Paquistão; as dunas de areia da Síria; as montanhas erodidas do Nepal; e o desmatamento e pecuária extensiva das regiões montanhosas do Laos.
Quanto ao número de pessoas afetadas pela desertificação e pela seca, a Ásia é o continente mais prejudicado, de acordo com a ONU. Na América Latina, apesar das florestas tropicais úmidas da região, a perda de terras de cultivo e de vegetação afeta 313 milhões de hectares na região e no Caribe (250 milhões na América do Sul e 63 milhões na América Central e no México). Diante deste problema, os países-membros do Mercosul, formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, criaram em março, em conjunto com Bolívia e Chile, uma estratégia que busca uma alternativa econômica para as terras empobrecidas.
Já na Europa, o chamado grupo do Mediterrâneo Norte, formado por Espanha, Portugal, Itália, Turquia e Grécia, é uma das quatro regiões que, segundo a convenção das Nações Unidas, é afetada pela desertificação. Um dos países nos quais é possível constatar uma maior desertificação é o Sudão, onde o problema afeta 13 das 15 províncias, o que representa uma superfície total de 414 mil quilômetros quadrados, segundo o Governo sudanês.
O Governo do Sudão atribui o avanço do deserto e o retrocesso da qualidade da terra mais à exploração dos recursos do solo do que à mudança climática. A desertificação também preocupa a China, onde avança a um ritmo de 1.283 quilômetros quadrados ao ano, e já afeta 400 milhões de pessoas diretamente, de acordo com a Administração Estatal Florestal. Cerca de 18% do território chinês já é uma área desértica, principalmente a faixa norte e oeste, embora outros 14% sofram as conseqüências da desertificação, que se estende praticamente por todo o país, segundo o departamento oficial.
A pressão da enorme população, o desenfreado desenvolvimento econômico e a poluição deixaram inclusive em uma situação "extremamente frágil" as regiões desérticas reflorestadas, de acordo com as autoridades. Em março, Argentina, Bolívia e Paraguai concordaram em combater a desertificação do Grande Chaco e o estado de pobreza de seus habitantes. Para que o fenômeno pare de avançar e o solo seja recuperado, foram aprovados programas como o chamado Pró Árvore, que divide os subsídios entre os povos indígenas e as comunidades rurais para a criação de áreas florestais.
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Globo Online, 18/06/2007)