Investir com sustentabilidade na Amazônia não é fácil. A área conta com mais de um terço das espécies da fauna e da flora mundiais e um quinto das águas superficiais do planeta e uma diversidade cultural enorme. Só a necessidade de pensar o desenvolvimento considerando as partes envolvidas já gera conflitos. Uma solução, segundo Adriana Ramos, coordenadora para a Amazônia do Instituto Socioambiental (ISA) e uma das debatedoras da mesa-redonda “Compromissos das empresas com o desenvolvimento sustentável da Amazônia”, é buscar mecanismos de planejamento e processos de licenciamento ambiental mais éticos. Acordos legítimos e legais, segundo ela, fornecerão subsídios para daqui a alguns anos conseguirmos, de fato, um desenvolvimento sustentável na região.
Para o secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco, ao olhar o diagnóstico da Amazônia temos a tendência de nivelar por baixo, ou seja, “o debate ambiental no Brasil continua na defensiva”. Capobianco afirmou que é preciso entender que o licenciamento ambiental não é apenas um defensor do meio ambiente, mas um processo que busca como fim o desenvolvimento sustentável. Quem deseja empreender no Brasil deve, necessariamente, “passar pela discussão sobre qual desenvolvimento queremos”, acrescentou o secretário executivo do MMA. Nada pode ser feito no país sem pensar na questão ambiental, que não é uma opção, é uma obrigação – e, nesse cenário, as empresas passam a ter um papel central e fundamental.
André Baniwa, diretor vice-presidente da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN), afirmou que os índios Baniwa deixaram de fazer o manejo das terras como seus avós faziam, forma que as preservava para as gerações futuras. Isso acontece porque se valorizam apenas algumas espécies. “Precisamos que todos mudem de atitude antes que a floresta acabe”, completou.
Segundo Franklin Feder, presidente da Alcoa para a América Latina, a empresa, líder mundial na produção de alumínio, enfrenta um grande desafio: um megaprojeto de extração de bauxita em Juruti, no oeste do Pará. Segundo ele, uma das premissas é conciliar crescimento com sustentabilidade. “Eu acredito que isso seja viável, mas entre acreditar e praticar há um grande desafio”. Mas a chegada de um empreendimento como esse num município com baixo IDH (0,63), renda per capita abaixo de R$ 54,00 por mês e população entre 35 mil e 40 mil habitantes, é certamente impactante. A intenção da Alcoa, de acordo com Feder, é integrar-se com a comunidade, aprender com ela. “A exploração dessa riqueza mineral será feita durante várias gerações. Mas o sucesso não deve estar apenas no quesito econômico.
O foco tem de ser a estratégia de tornar o município sustentável após os 50 ou, quem sabe, 100 anos de permanência da empresa na área.” Segundo o presidente da Alcoa, “70% da produção acumulada de alumínio ainda está em uso, por exemplo, com a reciclagem de latas. A cadeia começa na bauxita, mas termina no alumínio reciclado”. Feder acredita que a empresa deve ser responsável e utilizar cada vez menos produtos naturais. “A Alcoa não é perfeita, mas para preservar o meio ambiente uma de nossas alternativas é a pesquisa para reduzir o uso de bauxita na preparação do alumínio e também de watts.”
Adriana Ramos, do ISA, acredita que, se continua havendo reclamações de algumas das partes envolvidas nesse projeto, apesar das três audiências públicas realizadas, é porque ainda há ajustes a serem feitos. “A empresa precisa reconhecer seu papel, e não ficar à espera de respostas.”
O tema é complexo e gera dúvidas: será que é possível plantar soja, criar gado e ainda assim manter a floresta em pé? A legislação florestal brasileira, segundo Adriana Ramos, prevê que sim, desde se aja de forma racional, permitindo espaço para a agropecuária, para a soja e para as reservas florestais, e não somente para o manejo sustentável e para extração de madeira ou de matérias-primas. Adalberto Veríssimo, fundador do Imazon, compartilhou da mesma opinião e acrescentou que o importante é ter espaços utilizados bem definidos. “Só há sustentabilidade se o carro-chefe for a preservação do que existe e a utilização apenas de áreas já devastadas para a agropecuária. Não é possível pensar em dividir as terras igualmente para esse ou aquele uso”, afirmou Veríssimo.
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Envolverde / Instituto Ethos, 13/06/2007)