Ao destinar um elogio ao Ibama - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis, nesta quinta-feira (14), cujos servidores estão em greve contra decisão do governo há quase um mês, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva acabou atribuindo ao órgão uma ação que na verdade foi efetuada pela Polícia Federal.
Ao participar de ato da campanha "Vote no Cristo. Ele é uma Maravilha", para eleger o monumento carioca como uma das sete novas maravilhas do mundo, Lula fez menção ao Ibama, responsável pela manutenção do parque onde se localiza o Corcovado.
"Tenho que agradecer ao Ibama, que acabou com uma quadrilha com gente que explorava aqui", disse Lula em discurso referindo-se a uma ação da Polícia Federal de combate a uma quadrilha que desviava recursos da taxa de pedágio no acesso ao monumento.
Batizada de Operação Escariotes, referência ao traidor de Cristo, a ação da PF identificou desvios de 500 mil reais mensais que prejudicavam o Ibama.
Ao deixar o morro do Corcovado, Lula passou de carro pelos grevistas do Ibama, que se manifestavam contra a divisão do órgão em dois. Pelo projeto do governo, o Ibama ficaria responsável pelo licenciamento ambiental e o novo Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade cuidaria das unidades de conversação.
A MP enviada pelo governo ao Congresso foi aprovada na Câmara na terça-feira (12) e seguiu para apreciação do Senado. Segundo os manifestantes, a divisão não vai acelerar as licenças ambientais, como espera o governo e sim dificultá-las.
"Isso vai atrasar ainda mais o licenciamento", afirmou Roberto Hauet, analista do Ibama-RJ. "Tem um conjunto de pareceres que terão que passar pelas unidades de conservação e voltar para o Ibama. De oito passos, se passou para 18 a 19", afirmou.
Se Lula passou rápido pelos manifestantes do Ibama, não teve como ignorar protesto dos servidores públicos que colocaram um avião monomotor sobrevoando o Cristo com uma faixa com os dizeres "Lula: cumpra acordo com os servidores".
O ruído do monomotor chegou a abafar o som da cerimônia que começou sem amplificação por algum problema técnico. Ao deixar a cerimônia, o ministro da Cultura, Gilberto Gil, disse a jornalistas acreditar que um acordo com os servidores públicos de sua área está próximo.
"A questão é da alçada do Planejamento. O alcance do Ministério da Cultura é o de reivindicar politicamente o que temos feito. O ministro está ao lado dos funcionários", disse Gil.
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Estadão Online, 14/06/2007)