Inconformado com a autuação e o fechamento de três madeireiras, um grupo de moradores, políticos e madeireiros de Paranaíta (851 quilômetros ao norte de Cuiabá) bloqueou com veículos a saída da cidade, obrigou a equipe de fiscalização do Ibama a se explicar e ainda os convenceu a retirar os lacres das empresas.
O episódio aconteceu no final da tarde de terça-feira, quando os 39 fiscais saíam da cidade, logo após os flagrantes. “Bloquearam a estrada com carros e caminhonetes e queriam o cancelamento dos autos. Para não haver tumulto, aceitamos conversar”, informou o chefe da fiscalização, Leslie Tavares.
Tavares falou ao Diário por telefone do escritório do Ibama em Alta Floresta. Ao longo de toda entrevista, procurou minimizar o ocorrido. “O clima não foi tenso e não ficamos presos. Saímos quando achamos que a situação estava esclarecida”, assegurou.
O cenário descrito pelo funcionário, no entanto, tira crédito a esta versão. Após o fechamento da estrada, Tavares e seus fiscais foram conduzidos à Câmara Municipal, onde um grupo estimado em cerca de 300 pessoas os aguardava.
No momento em que entravam no prédio, uma pedra abriu um buraco no vidro de uma janela. Ao fundo, ouviam-se ofensas e hostilidades. O grupo era pouco representativo, diz o fiscal. “A cidade tem 20 mil habitantes. E a maioria dos que estavam ali eram curiosos”.
Pacífica ou não, o fato é que a manifestação deu resultado. Os fiscais só puderam sair na madrugada de ontem, quando Tavares conseguiu articular por telefone uma reunião na próxima semana em Cuiabá, com representantes dos madeireiros, do Ministério Público Federal e do governo do Estado.
Antes disso, já havia concordado em retirar os lacres das madeireiras autuadas – nos quais, segundo ele, constatou-se a existência de 2,6 mil metros cúbicos de madeira irregular, volume suficiente para encher 90 carretas.
O chefe da fiscalização nega que tenha cedido à pressão dos infratores. “A fiscalização vai continuar e os processos administrativos e as multas continuarão em vigor. Além disso, conseguimos mostrar que o Ibama não é o vilão deste processo”, apontou.
Segundo ele, parte do problema estaria na demora da Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema) em emitir autorizações em planos de manejo. Isso, segundo ele, desestimula quem busca a legalidade e ainda coloca a população contra o Ibama.
“Quando assumiu a função, o governo do Estado deixou surgir um vácuo muito grande. Há grande morosidade do Estado nos processos. Muitos deles, tecnicamente perfeitos, estão parados. Como a fiscalização fica com o Ibama, levamos a culpa pelo desemprego no setor madeireiro”.
LEGAL – O empresário Joarez Dutra, um dos autuados em Paranaíta, relatou ter sido vítima de uma injustiça. Segundo ele, seus estoques de madeira estavam de acordo com as autorizações. “São mil metros cúbicos, documentados. Não sei como o Ibama achou que havia mais”.
Dutra nega ter participado ou incentivado o bloqueio da estrada. Mas diz concordar com a atitude. “Aquele foi um ato de desespero da população, que não agüenta mais o desemprego”.
Dos Estados Unidos – onde participa de uma missão oficial junto ao BID - o secretário de Meio Ambiente, Luiz Henrique Daldegan, qualificou como “equivocadas” as declarações do chefe de fiscalização. “Madeira irregular é trabalho da fiscalização, não do licenciamento. Temos muita madeira legal disponível em nosso sistema”.
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Diário de Cuiabá, 14/06/2007)