O Instituto de Química (IQ) da Unicamp, no âmbito de seu ciclo de palestras, recebeu quarta-feira (13/06) o presidente da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), Walter Colli. Graduado em Medicina com doutorado em Bioquímica, Colli proferiu palestra sobre “O sistema de biossegurança brasileiro”. Durante sua palestra, o presidente da CTNBio procurou desmistificar o que é um transgênico, afirmando que pessoalmente ele considera a transgenia um método como outro qualquer, porém, muito mais moderno. “Logo de cara afirmo que não posso ir a favor ou contra métodos porque isso não existe”, disse Colli.
Por outro lado, ele argumentou que as pessoas podem ser a favor ou contra o uso desse método para determinadas finalidades. “Aí eu entro na discussão do Princípio da Precaução, inventado na década de 1980 no norte da Europa. Na minha opinião, esse princípio é doutrinariamente contrário à ciência e esse é o motivo de grandes disputas. Se você for um cientista, não pode aceitar completamente o princípio, porque ele leva você a não fazer nada. Sempre o que está sendo feito pode ser perigoso, mesmo que não saiba que é perigoso. Pelo Princípio da Precaução, nem a roda tampouco o automóvel teriam sido inventados”, explicou.
Sobre o sistema de biossegurança no Brasil, Colli apresentou um número global de Comissões Internas de Biossegurança (CIBios), que precisam apresentar requisitos específicos para poder atuar. “Toda vez que alguém vai tocar num transgênico mesmo que seja nível de biosegurança um, que é o nível básico, tem que apresentar um projeto e qualificar um laboratório com uma série de características específicas. Essa documentação segue para Brasília para ser analisada e aprovada pela comissão. Temos atualmente da ordem de 220 CIBios no Brasil, formadas por cientistas que entendem bem a linguagem e os problemas da área”, comentou o presidente.
Para ele, o grande problema está nas pessoas que têm formação diferente da ciência. Segundo Colli, esse é um problema complicado carregado de uma mistura entre precaução demasiada e histórias que foram ouvidas, mas que não foram bem-digeridas. “Por exemplo, se for feita uma enquete popular para saber se a população come ou não produtos transgênicos, a maioria dirá não porque houve uma campanha contra”, afirmou.
Mas ele lembra que a CTNBio é uma agência composta por 27 doutores e 27 suplentes doutores, que se reúnem uma vez por mês para estudar os pleitos das universidades, das empresas e dos institutos de pesquisa.. “Ela não foi criada para convencer a população. Ela foi criada para analisar solicitações que são aprovadas ou não”, observou.
Colli lamenta que a Europa tenha criado toda essa celeuma a respeito dos trangênicos, atrasando todo o processo. Para ele, os europeus não só fizeram um grande mal para a humanidade, como impediram que a África tivesse grãos mais baratos. “É importante dizer que 89% dos agricultores do mundo que usam transgênicos são pequenos agricultores, portanto, é bom para todos”, disse Colli.
Questionado se a aceitação dos produtos transgênicos pode estar ligada a uma ampla campanha de informação, Colli se posiciona de maneira pessoal acreditando que essa é uma resposta complexa. “As empresas multinacionais que têm interesses econômicos deveriam fazer essa campanha, mas eles estão quietos. Claro, exceto a Monsanto, todas as empresas comercializam agroquímicos e de transgênicos. Eles vendem os agroquímicos para o Brasil e os transgênicos para a Argentina”, finalizou.
(Por Jeverson Barbieri,
Jornal da Unicamp, 14/06/2007)