Países em desenvolvimento como China, Índia e México deveriam somar-se, junto com as nações ricas, a um novo acordo internacional sobre mudança climática que inclua punições financeiras às emissões de gases causadores do efeito estufa, disse na quarta-feira (13/06) o cientista mexicano Mario Molina. As mudanças só podem ser concretizadas se existe um acordo “que ponha um custo às emissões” e do qual participem as grandes nacos emergentes, entre elas a China, cujo peso contaminante já é similar ao dos Estados Unidos, disse Molina, ganhador em 1995 do prêmio Nobel de Química.
Molina abriu magistralmente o seminário “Mudança Climática e Meios de Comunicação”, realizado no México pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e pela agência de notícias Inter Press Service (IPS), dentro de um acordo para divulgar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Os “países em desenvolvimento têm o direito de crescer economicamente, mas não como faz o mundo industrializado, prejudicando o meio ambiente. Se assim fosse, precisaríamos de outro planeta, porque aqui não cabemos”, alertou o cientista.
Por isso é necessário um acordo pós-Kyoto em referência ao documento internacional assinado em 1997 na cidade japonesa desse nome para reduzir as emissões de gases que causam o efeito estufa. No novo tratado devem estar incluídas as nações mais industrializadas, mas também os grandes países em desenvolvimento, afirmou Molina. As normas desse acordo deveriam ser obrigatórias e incluir custos para que as violasse, acrescentou. O especialista lamentou que os Estados Unidos não tenham ratificado o Protocolo de Kyoto, mas reconheceu, “finalmente”, que a mudança climática é um fato e que são necessárias medidas para enfrentá-la.
As pesquisas de Molina desde meados dos anos 70 sobre os gases clorofluorocarbonos foram a base para a assinatura do Protocolo de Montreal (1987), que protege a camada de ozônio. Foi o primeiro grande pacto ambiental planetário que, segundo o cientista, poderia servir de exemplo para cria um instrumento “vinculante” em matéria de mudança climática. Se continuarem as emissões como estão agora, a temperatura global pode aumentar nas próximas décadas acima dos três graus, o que provocaria graves problemas para a humanidade. Segundo o cientista, o desafio é realizar ações para que o aumento não passe dos 2,5 graus.
Fazendo eco à opinião de alguns colegas seus, Molina afirmou que a Terra vive, desde a Revolução Industrial, uma fase geológica chamada Antropoceno (a era do homem). Nessa definição, os seres humanos adquirem tamanho grau de desenvolvimento à custa da natureza que se converteram em uma força geológica e climatológica importante. No último século, as temperaturas médias aumentaram cerca de um grau e 75% dessa alta ocorreu nas últimas três décadas. A taxa de crescimento da concentração de dióxido de carbono no planeta hoje é 200 vezes maior do que em qualquer outra época dos últimos 650 mil anos.
O informe Planeta Vivo do Fundo Mundial para a Natureza (WWF) de 2006 indica que o consumo humano já supera em 25% a capacidade permissível da Terra para absorver suas emissões e gerar recursos suficientes em alimentos. Se as coisas continuarem assim, até 2050 serão necessários dois planetas para atender todas as necessidades, acrescenta este estudo. Molina pediu à imprensa que informe a sociedade sobre qual será a situação do planeta se não se mudar a forma de produção de energia e realizam outras ações contra a mudança climática.
“Os meios de comunicação têm um papel muito importante nesta tarefa”, disse, após felicitar o Pnud e a IPS pela organização do seminário, do qual participaram jornalistas de vários Estados do México. O Representante Residente do Pnud no México, Thierry Lemaresquier, disse que trabalhar com a IPS é muito importante para essa agência da Organização das Nações Unidas, “já que necessitamos muito do apoio inteligente e perseverante dos meios de comunicação em um assunto (mudança climática) no qual a ciência, a política e as opiniões pessoais se misturam”.
O cientista mexicano afirmou que a pressão da população, impulsionada pelos meios de comunicação, é essencial para conseguir a assinatura de novos acordos e tratados internacionais sobre mudança climática nos quais se incluam os países em desenvolvimento. Se a economia da China continuar crescendo nas taxas anuais de 8%, em duas décadas estará consumindo a maior parte do petróleo disponível e não atingirá a produção global de grãos, afirmou Molina. Este gigante asiático e as nações em desenvolvimento emergente, como Índia e México, têm de assumir compromissos em matéria de mudança climática, acrescentou.
Enfrentar o problema requer múltiplas medidas para incrementar o uso de fontes de energia atômica, eólica, solar e melhorar a eficiência energética no transporte nas edificações. “Já temos a tecnologia para fazer isso, só precisamos aproveitá-la”, disse Molina. Para Enrique Left, diretor no México do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, o planeta vive “uma crise de civilização” porque há uma desconexão total entre “economia e natureza”. Desde seu ponto de vista, se requer uma nova ética, econômica e política, que entre em harmonia com a natureza. Não são necessárias apenas medidas pontuais para melhorar a eficiência energética ou evitar o desmatamento, é necessária uma nova forma de vida, ressaltou.
(Por Diego Cevallos, IPS, 14/06/2007)