A Justiça Federal abriu processo ontem contra 48 pessoas acusadas de envolvimento com fraudes e crimes ambientais efetuados dentro do Parque Indígena do Xingu, nordeste do Estado.  O grupo, preso durante a Operação Mapinguari, da Polícia Federal, é composto por fazendeiros, empresários, consultores ambientais, grileiros, servidores públicos e seis índios da etnia Trumai.

O juiz da 1ª Vara Federal de Cuiabá, Julier Sebastião da Silva, que acatou a denúncia do Ministério Público Federal, já designou para hoje, às 15 horas, os interrogatórios do cacique Ararapan Trumai e do índio Maitê Trumai.  Todos os envolvidos podem responder a crimes como estelionato, falsidade ideológica e furto, entre outros.

Na decisão judicial, surge o nome do diretor de Florestas do Ibama em Brasília, Antônio Carlos Hummel, preso durante a Operação Curupira, em junho de 2005.  Na época, a prisão temporária de cinco dias imputada a Hummel rendeu críticas à operação da PF.  O delegado que comandava as investigações, Tardeli Boaventura, chegou a dizer dias depois que não havia acusações consistentes contra o diretor.

Ele prometeu mover um processo por danos morais contra a União.  Agora, na Mapinguari, o MPF acusa Hummel de não tomar providências para impedir o fluxo de planos de manejo falsos aprovados nas terras amazônicas, incluindo o Parque Indígena do Xingu.  Segundo o procurador da República, Mário Lúcio Avelar, apenas o acusado Ilton Vicentini detinha consigo 16 planos de manejo falsos, todos aprovados pelo Ibama.  “Quem aprova são os Ibamas locais, mas a diretoria de Florestas é a responsável maior por tudo isso.  E nenhuma providência foi tomada”, afirma o procurador.

O juiz Julier Sebastião da Silva afirma, em seu despacho, que estão “presentes os indícios de autoria e materialidade dos crimes descritos pelo MPF”.  Os acusados Audrey Tachibana e Ambrósio Zimmerman não foram incluídos na lista dos que responderão a processo.  Já a servidora da Secretaria de Meio Ambiente do Estado (Sema), Célia Pereira de Carvalho, está na lista.  A prisão de Célia, libertada dias depois por um habeas corpus, provocou protestos dos colegas da servidora, que consideraram as acusações infundadas.

O ex-diretor do Ibama de Sinop, Gleiçon Benedito de Figueiredo, que conseguiu no Tribunal Regional Federal um salvo conduto para não ser preso, também vai responder judicialmente pelas acusações de fraudes.

PREJUÍZOS - De acordo com as investigações do MPF, a organização criminosa atuou em uma área de 2,6 milhões de hectares.  A extração ilegal de madeira teria movimentado R$ 28 milhões nos últimos anos.  Dos 48 réus, 14 ainda continuam presos, a maior parte no presídio Ferrugem, em Sinop.  Entre eles estão dois índios Trumai e os empresários de Sorriso Ney Frâncio e Luciane Frâncio Garaffa.

Conforme as investigações, os exploradores ilegais tinha a conivência de índios da etnia trumai, que permitiam a entrada e exploração das reservas dentro do Parque do Xingu.

(Por Daniel Pettengil, Diário de Cuiabá, 13/06/2007)